23º Festival Internacional de Teatro de Almada

Palco além da margem esquerda

Entre os próximos dias 4 e 18 de Julho, realiza-se a 23ª edição do Festival de Teatro de Almada, certame onde vão estar presentes vários grupos nacionais e estrangeiros.

«Almada acolhe o maior festival internacional de teatro do País»

A apresentação oficial do evento decorreu a bordo de um cacilheiro entre as duas margens do Tejo, acto que expressa a proximidade das cidades das margens esquerda e direita do rio promovida pelo Festival.
Pelas salas de Lisboa e Almada passam mais de uma vintena de produções distribuídas pela Escola D. António da Costa, o Fórum Romeu Correia, o Teatro Municipal de Almada e o Novo Teatro Municipal daquele concelho, o Centro Cultural de Belém, o Teatro Nacional D. Maria II, o Teatro Municipal de S. Luiz, a Culturgest e o Teatro da Cornucópia.
Para Joaquim Benite, director da Companhia de Teatro de Almada, assume igual importância a participação de corpo inteiro de companhias provenientes do Porto, com peças, colóquios e debates sobre o teatro que se faz naquela cidade, até porque, sublinhou durante a sessão de divulgação à imprensa, o Festival já vai muito além das margens de Almada, muito embora mantenha o espírito e a filosofia que esteve na base da sua realização, o gosto pela arte, pelos artistas e a vontade de oferecer a um público muito mais alargado o acesso à cultura.
Para além do investimento no que de melhor são capazes de fazer as companhias portuguesas convidadas a participar, fora de portas, destacam-se os grupos dramáticos oriundos de Espanha, França, Bélgica, Itália, Reino Unido, República Checa, Brasil, Colômbia e Senegal, prova de que a «maioridade» alcançada pelo Festival já o faz correr mundo e crescer.
O centenário do nascimento de Samuel Beckett é um dos objectos centrais da mostra (ver caixa), a qual, para lá dos palcos, oferece um programa recheado de eventos paralelos tais como exposições, colóquios, debates e música.
Alvo de homenagem vai ser também o Observatório das Actividades Culturais, organismo que no entender do responsável tem dado um contributo fundamental para a pesquisa e conhecimento do teatro em Portugal.

Suporte incondicional da autarquia

Com um orçamento a rondar os 500 mil euros, a autarquia é um dos suportes estratégicos do Festival que, para o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Almada, «é um certame que se conseguiu impor, estabelecer parcerias mais alargadas e consolidar-se como uma referência ao ser reconhecido como o mais importante festival internacional do País».
«Almada empresta o seu modesto mas convicto contributo para que a cultura tenha um papel central na vida dos portugueses», disse ainda António Matos, para quem «são tão importantes as transformações e melhorias nas estruturas que servem os cidadãos, como o apoio incondicional à imaterialidade criativa que da arte».

Centenário de Beckett comemorado no Festival
Biografia de um irlandês inconformado

O centenário do nascimento de Samuel Beckett (1906-1989) vai estar em destaque na 23ª edição do Festival Internacional de Teatro de Almada. Pelos palcos do evento vão passar algumas das mais importantes obras do dramaturgo irlandês que considerou o simples acto de reflectir uma frustração da morte e, simultaneamente, uma condição essencial para contornar a angustia que tantas vezes acompanham o ser humano.
Na Escola D. António da Costa, em Almada, o Teatro de Marionetas do Porto e o Teatro Meridional levam à cena «Nada ou o Silêncio de Beckett», de João Paulo Seara Cardoso, e «Esperando Godot», com encenação de Miguel Seabra.
«Dias Felizes» e «Todos os que Caem» são outras duas obras de Beckett representadas no Festival, respectivamente, pelo Piccolo Teatro di Milano, com encenação de Giorgio Strehler, e pela Comuna com encenação de João Mota.
Paralelamente decorrem ainda uma exposição, no Novo Teatro Municipal de Almada, e um debate, na Sala Pablo Neruda do Fórum Romeu Correia, tendo o autor no centro das atenções.
Nascido nos arredores de Dublin, capital da Irlanda, no seio de uma família desafogada, Beckett estudou num prestigiado colégio protestantes da localidade, o Port Royal School, onde mais tarde também haveria de cursar Oscar Wilde.
Durante a adolescência, Beckett dedica-se aos clássicos da literatura, com particular destaque para Dante, que considerava uma inspiração. O desporto é outro dos seus passatempos, interesses que encarava como verdadeiras obsessões cultivando uma consciência crítica e uma autocrítica quase destrutivas. A oportunidade de usufruir de uma bolsa de estudo leva-o até Paris, em 1928, cidade que o viria a acolher em definitivo uma década mais tarde.
Durante este período, reparte o tempo entre as traduções, o ensino, as viagens pela Europa Central e a frequência assídua dos círculos intelectuais da capital francesa, onde trava conhecimento com outro famoso conterrâneo, James Joyce, adoptando-o como mestre, quer na construção da sua capacidade literária, quer na vivência mais uma vez desregrada dos excessos noctívagos.
Apesar da invasão alemã, em 1939, opta por permanecer em França durante toda II Guerra Mundial e participa na resistência ao nazi-fascismo. Após o conflito escreve uma triologia de novelas que lhe valem o reconhecimento.
A «Molloy», «Malone morre» e «Inominável», Beckett faz suceder, nas décadas de 50 e 60, «Esperando Godot»(1953), «Fim de Partida»(1957) e «Dias Felizes»(1963), obras que não escaparam aos olhos de personalidades influentes do teatro e da literatura como Roger Blin e Jérome Lindon, proprietário da Editions Minuit, casa que publica todos os trabalhos do autor.
Em 1969 é agraciado com o Prémio Nobel da Literatura. Desde então, empenha-se numa obra que conta com mais de 30 ensaios, novelas e peças para teatro, tarefa que escolhe levar a cabo na mais obstinada solidão até à sua morte.


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