O Líbano, o terrorismo e as religiões
Ninguém será capaz de antecipar o que se irá passar após esta segunda agressão ao Líbano. Provavelmente repetir-se-á, em muito mais vastas dimensões, a anarquia bombista que reina no Iraque.
O desencadear das operações israelitas procurou justificações perfeitamente delirantes: o alargamento de uma zona de protecção territorial (a que os nazis alemães chamariam espaço vital); a ofensa feita à honra de Israel com o rapto de um cabo do exército por terroristas islâmicos; ou a missão sagrada de desarmar o Hezbollah, diabólico agente xiita do terrorismo sem nome. Neste último caso, saliente-se que nesta história mal contada os xiitas são bons no Iraque e maus no Líbano ou no Irão, umas centenas de quilómetros mais à frente, como se a natureza e as religiões mudassem com o cruzar das fronteiras. E os eixos do Mal tornam-se flexíveis, entortam-se ou endireitam-se de acordo com o grau de cedências que os estados fracos fazem às transnacionais.
Naturalmente que são outras as verdadeiras causas destes conflitos. Trata-se do petróleo e da garantia do seu controlo absoluto nos territórios que o produzem, consomem ou por onde passa a rede dos pipelines. O petróleo é o «calcanhar de Aquiles» do mundo moderno e industrializado. As guerras que motiva crescem como cogumelos, do Iraque a Timor ou da Rússia aos mares da China ou do Japão. Mas o núcleo central de toda esta terrível dependência é, sem dúvida, o Mediterrâneo e os jazigos de petróleo ou as bolsas de gás do Próximo e Médio Oriente. A globalização nada traz de novo. Acaba sempre na aventura imperialista.
No entanto, o capitalismo descreve as guerras de saque e destruição como missões civilizacionais e considera os seus encobertos autores – estadistas, tecnocratas, generais, teólogos da engenharia financeira – como grandes heróis. A ficção oficial eleva-os a seres de excepção. No Líbano, último teatro de operações, os cenários estão montados nesse sentido: há um Estado fraco e um terrorismo forte; um sistema político aberto, livre e democrático e uma força opressora (o Hezbollah) que persegue e assassina os seus opositores; completam este cenário forças armadas apenas simbólicas e quase que impotentes perante os arsenais acumulados pelos terroristas internos.
Está bem à vista que sonho alimenta o capitalismo. O timorato e desmotivado governo libanês declarar-se-á incapaz de governar o país. As instituições não funcionam, quem manda é o terrorismo do Hezbollah. Haverá, então, um aflitivo apelo às forças livres mundiais. Será a «luz verde» para uma maciça intervenção estrangeira. Nessa altura avançam, legalizados por decisões solidárias da União Europeia, da ONU e dos cartéis do petróleo, os fuzileiros e os cavaleiros apocalípticos da NATO.
Não é, porém, seguro que as lutas dos povos obedeçam aos devaneios dos capitalistas. Veremos se acontece o que está programado.
Religiões e terrorismo
O Líbano é conhecido como um Estado com amplas liberdades religiosas. No seu território convivem muçulmanos sunitas e xiitas, drusos, amonitas, melquitas, católicos e ortodoxos. Neste sentido, atacar o Líbano é contribuir para a destruição da base ecuménica que o Vaticano afirma ser prioritária. Mas não importa. O petróleo é matéria bem mais importante que qualquer mito religioso.
O AMBO (Pipelines Transbalcânicos) continua a ser a menina dos olhos da globalização. O Mediterrâneo é como um anel doirado de onde jorra a energia que alimenta as sociedades capitalistas. Com o AMBO, petróleo e gás natural da Arábia Saudita, dos Emiratos, do Irão, do Sudão, da Argélia, de Angola ou da Nigéria será vendido a preços de mercado à China, à União Indiana, ao Egipto, ao Brasil, numa palavra, às potências desenvolvidas do século XXII. Os lucros concentrar-se-ão, dentro de poucos anos, nos cofres-fortes norte-americanos, ingleses, franceses e vaticanos. Merecidamente: nuns casos, porque esses estados fizeram a guerra; noutros, porque souberam calar os seus horrores.
Por isso, nestas agressões nunca se fala em petróleo. Principalmente, o Vaticano finge que não sabe e que não vê. Justifica as agressões como formas de autodefesa. Considera que as acções diplomáticas tardias são gestos humanitários e não ultimatos para impor ao inimigo a rendição. Joga com as situações de guerra para enriquecer. Recordemo-nos dos milhões que a igreja perdeu por ocasião do primeiro choque petrolífero, nos anos 70. Esteve à beira da bancarrota. Situação que os cardeais não querem ver repetida. Por isso se calam. Ainda que ao preço do sofrimento humano e com algum sacrifício da doutrina evangélica.
É a conspiração do silêncio que envenena a verdade mas compensa com lucros, louros e poder.
O desencadear das operações israelitas procurou justificações perfeitamente delirantes: o alargamento de uma zona de protecção territorial (a que os nazis alemães chamariam espaço vital); a ofensa feita à honra de Israel com o rapto de um cabo do exército por terroristas islâmicos; ou a missão sagrada de desarmar o Hezbollah, diabólico agente xiita do terrorismo sem nome. Neste último caso, saliente-se que nesta história mal contada os xiitas são bons no Iraque e maus no Líbano ou no Irão, umas centenas de quilómetros mais à frente, como se a natureza e as religiões mudassem com o cruzar das fronteiras. E os eixos do Mal tornam-se flexíveis, entortam-se ou endireitam-se de acordo com o grau de cedências que os estados fracos fazem às transnacionais.
Naturalmente que são outras as verdadeiras causas destes conflitos. Trata-se do petróleo e da garantia do seu controlo absoluto nos territórios que o produzem, consomem ou por onde passa a rede dos pipelines. O petróleo é o «calcanhar de Aquiles» do mundo moderno e industrializado. As guerras que motiva crescem como cogumelos, do Iraque a Timor ou da Rússia aos mares da China ou do Japão. Mas o núcleo central de toda esta terrível dependência é, sem dúvida, o Mediterrâneo e os jazigos de petróleo ou as bolsas de gás do Próximo e Médio Oriente. A globalização nada traz de novo. Acaba sempre na aventura imperialista.
No entanto, o capitalismo descreve as guerras de saque e destruição como missões civilizacionais e considera os seus encobertos autores – estadistas, tecnocratas, generais, teólogos da engenharia financeira – como grandes heróis. A ficção oficial eleva-os a seres de excepção. No Líbano, último teatro de operações, os cenários estão montados nesse sentido: há um Estado fraco e um terrorismo forte; um sistema político aberto, livre e democrático e uma força opressora (o Hezbollah) que persegue e assassina os seus opositores; completam este cenário forças armadas apenas simbólicas e quase que impotentes perante os arsenais acumulados pelos terroristas internos.
Está bem à vista que sonho alimenta o capitalismo. O timorato e desmotivado governo libanês declarar-se-á incapaz de governar o país. As instituições não funcionam, quem manda é o terrorismo do Hezbollah. Haverá, então, um aflitivo apelo às forças livres mundiais. Será a «luz verde» para uma maciça intervenção estrangeira. Nessa altura avançam, legalizados por decisões solidárias da União Europeia, da ONU e dos cartéis do petróleo, os fuzileiros e os cavaleiros apocalípticos da NATO.
Não é, porém, seguro que as lutas dos povos obedeçam aos devaneios dos capitalistas. Veremos se acontece o que está programado.
Religiões e terrorismo
O Líbano é conhecido como um Estado com amplas liberdades religiosas. No seu território convivem muçulmanos sunitas e xiitas, drusos, amonitas, melquitas, católicos e ortodoxos. Neste sentido, atacar o Líbano é contribuir para a destruição da base ecuménica que o Vaticano afirma ser prioritária. Mas não importa. O petróleo é matéria bem mais importante que qualquer mito religioso.
O AMBO (Pipelines Transbalcânicos) continua a ser a menina dos olhos da globalização. O Mediterrâneo é como um anel doirado de onde jorra a energia que alimenta as sociedades capitalistas. Com o AMBO, petróleo e gás natural da Arábia Saudita, dos Emiratos, do Irão, do Sudão, da Argélia, de Angola ou da Nigéria será vendido a preços de mercado à China, à União Indiana, ao Egipto, ao Brasil, numa palavra, às potências desenvolvidas do século XXII. Os lucros concentrar-se-ão, dentro de poucos anos, nos cofres-fortes norte-americanos, ingleses, franceses e vaticanos. Merecidamente: nuns casos, porque esses estados fizeram a guerra; noutros, porque souberam calar os seus horrores.
Por isso, nestas agressões nunca se fala em petróleo. Principalmente, o Vaticano finge que não sabe e que não vê. Justifica as agressões como formas de autodefesa. Considera que as acções diplomáticas tardias são gestos humanitários e não ultimatos para impor ao inimigo a rendição. Joga com as situações de guerra para enriquecer. Recordemo-nos dos milhões que a igreja perdeu por ocasião do primeiro choque petrolífero, nos anos 70. Esteve à beira da bancarrota. Situação que os cardeais não querem ver repetida. Por isso se calam. Ainda que ao preço do sofrimento humano e com algum sacrifício da doutrina evangélica.
É a conspiração do silêncio que envenena a verdade mas compensa com lucros, louros e poder.