- Nº 1710 (2006/09/7)

Três debates para compreender o mundo

Festa do Avante!

A ofensiva ideológica que é feita através da educação, da cultura e da comunicação social procura travar os processos de luta e acomodar as pessoas. Esta foi uma das conclusões do debate sobre «Ofensiva Ideológica» que se realizou na Cidade da Juventude, na tarde de sábado.

Margarida Botelho, licenciada em Ciências da Comunicação e membro da Comissão Política do PCP, afirmou que a maior parte dos grupos económicos possuem canais de televisão e de internet, jornais e rádios porque é um negócio lucrativo e porque podem controlar o seu conteúdo. «Já repararam que as notícias são praticamente iguais em todos os canais e a todas as horas? Isto tem uma razão de classe. Quem detém os meios de comunicação influencia os conteúdos e a escolha do que é notícia», declarou, referindo que os media procuram promover os valores da sociedade actual: «É o consumismo, o individualismo, a ideia de que a precariedade laboral é normal...» Como combater esta situação? «Lendo outras fontes que não têm esta origem de classe, apelando à inteligência dos amigos e desmistificando as mentiras que nos chegam», defende.

«O Governo já referiu a realização de um referendo sobre a despenalização do aborto em Janeiro. Porquê tão tarde e com referendo? Assinem o abaixo-assinado que está a circular na Festa para que a lei seja aprovada antes disso na Assembleia da República», apelou Seyne Torres, dirigente da JCP, durante o debate sobre a «Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez», no sábado.
«Os movimentos que estão contra a despenalização são os que também estão contra a educação sexual e o planeamento familiar. É uma contradição! Os que são contra o aborto não o previnem? Queremos que este problema se resolva já», afirmou Paulo Marques.

«Jovens autores literários» foi o tema do debate que a JCP promoveu no domingo, desenvolvendo temas como o suposto afastamento da literatura de qualidade e dos jovens leitores. «A literatura boa não se afasta, é o sistema que pode criar essa separação. Ela está lá. Mas será que há um afastamento ou é uma daquelas coisas que se dizem sem fundamento?», questionou Catarina Pires, autora de Cinco Conversas com Álvaro Cunhal.
Para Filipe Leandro Martins, escritor e chefe de redacção do Avante!, «ler é um milagre que nos acontece no mundo em que vivemos», devido aos muitos outros chamamentos que existem. «Não se ensina o gosto pela leitura, mas a sociedade pode contribuir muito para a leitura e criatividade. Hoje é o mercado que manda nos livros, não a sociedade activa», lamentou.