- Nº 1710 (2006/09/7)
Homenagem a Fernando Lopes Graça

Perpetuar um artista genial

Festa do Avante!

A Carvalhesa anunciara a abertura do palco 25 de Abril na noite de sexta-feira e tratara de atrair, de todos os cantos da Festa, gente para o recinto. No palco, os músicos já estavam nos seus lugares, prontos para um espectáculo único, que prometia ser inesquecível. Afinal, tratava-se do concerto de homenagem a Fernando Lopes-Graça, no centésimo aniversário do seu nascimento.

À hora marcada, 22 horas, o apresentador, Cândido Mota, anunciou a Orquestra Sinfonietta de Lisboa e o seu maestro, Vasco Pearce de Azevedo. Soaram os primeiros acordes da Homenagem a Haydn, com que se iniciou o espectáculo. Em seguida, a Suite Rústica n.º 1 op. 64 revelava outra vertente da obra do compositor: a sua busca incessante de inspiração nas melodias populares portuguesas. O espectáculo prosseguiu com o Concertino para piano, cordas, metais e percussão, já com Miguel Borges Coelho no piano, e depois com a obra Variações sobre um tema popular português op.1. Desta vez, o piano solo esteve a cargo de Olga Prats.
Já a noite ia alta quando entra em palco oCoro Lopes-Graça da Academia dos Amadores de Música para interpretar canções regionais e algumas das célebres Heróicas, como Combate ou Jornada. Percorrendo o espaço, podia-se constatar que famílias inteiras aproveitaram para recordar os temas do cancioneiro revolucionário de Lopes Graça, temas que, durante os anos da ditadura foram alvo da censura fascista.
Não foi, por isso, raro constatar as expressões emocionadas de muitos que, através do som do homenageado iam recordando esses tempos de sofrimento, fome, miséria e repressão.
Alguns soletravam as letras com o coro de Lopes-Graça, as líricas revolucionárias e, como a Festa é o reencontro de muitos, o concerto clássico serviu para recordar e dar a conhecer os duros tempos de resistência que viveram, e muitas das peripécias vividas e sofridas naqueles tempos. Mais dispersa e por culpa do desconhecimento provocado pela censura a que a sua vasta obra tem sido votada até hoje, muita juventude procurava saber quem era o autor das obras de apelo à luta e à resistência que foram desfilando pelos seus ouvidos, enquanto, através dos écrans em torno do palco era possível acompanhar, pormenorizadamente, as interpretações e solos de cada músico.
No final, e já perto do fim, a pianista Olga Prats largou o piano e juntou-se ao coro. Acordai, cantaram todos – coro, pianista e público.
A terminar, todos – orquestra e coro – se juntaram numa última actuação: o primeiro andamento da Sinfonia per Orchestra op. 38.