
- Nº 1710 (2006/09/7)
Do Rio Grande à Patagónia
Ventos de mudança na América Latina
Festa do Avante!
Do Rio Grande à Patagónia sopram ventos de mudança fruto da resistência e da luta dos povos da América Latina. A nova onda revolucionária espalha-se pelo mundo.
Sábado à tarde o calor da solidariedade sobrepôs-se à torreira do sol e reuniu num abraço fraterno os portugueses aos povos latino-americanos. Foi na Cidade Internacional da Festa, pois claro, onde camaradas e amigos não faltaram ao encontro com Teresita Trujillo, Victoria Foronda e Carolus Wimmer, representantes dos partidos comunistas de Cuba, Bolívia e Venezuela, respectivamente, que acompanhados por Albano Nunes, membro da Comissão Política e do Secretariado do PCP, e de Luís Carapinha, da Secção Internacional do PCP, deram testemunho das lutas em curso nos seus países por um mundo melhor e mais justo.
O tema do debate – «América Latina, resistência e avanços progressistas» – não podia ser mais actual, como sublinhou Luís Carapinha, lembrando as «ameaças fortíssimas» que pesam sobre o sub-continente, onde cada página de história é feita de luta sem tréguas contra invasores e opressores, e onde cada avanço revolucionário conta de antemão com a mais feroz oposição do poderoso vizinho do Norte, o imperialismo norte-americano.
«Leiam o livro “As veias abertas da América latina”, de Eduardo Galeano», desafiou Albano Nunes, pois aí se encontra «toda uma história de opressão e repressão, revoluções sufocadas pela traição social-democrata e os ataques do imperialismo», que no entanto não conseguiu derrotar Cuba, não obstante os 47 anos de bloqueio criminoso à Ilha da Liberdade.
Apesar da correlação de forças internacional desfavorável e das guerras, sublinhou Albano Nunes, a luta dos trabalhadores e dos povos prossegue em todo o mundo, mostrando que vale a pena «resistir e persistir sempre», pois «é justa a luta que travamos».
A revolução cubana é mais que Fidel
Cuba é um exemplo incontornável. «A revolução está mais fortalecida do que nunca» e o «crescimento da economia permite retomar as políticas sociais que tiveram de ser suspensas na década de noventa», afirmou Teresita Trujillo, que sem escamotear as dificuldades com que se debatem os cubanos fez questão de sublinhar que a sanha imperialista está condenada ao fracasso. A razão é simples: enquanto os EUA e os seus aliados levam a opressão, a morte e a destruição a todo o lado, «Cuba espalha pelo mundo o seu exército de médicos, trabalhadores da saúde e professores, numa batalha solidária em defesa da vida e de combate ao analfabetismo». Na Venezuela, no Equador, na Bolívia, tal como em África ou em Timor-Leste, estes soldados da paz e do progresso são imbatíveis, pois as suas armas são as que permitem erradicar a doença e o obscurantismo, ferramentas que habilitam os povos a decidir dos seus próprios destinos.
E da Ilha da Liberdade, que a Casa Branca sonha em transformar de novo num pátio das traseiras dos seus interesses espúrios, crendo que a doença do presidente Fidel Castro é uma oportunidade para fortalecer a reacção, a mensagem que chega é a que seria de esperar de quem aprendeu a ser livre: «A revolução cubana é muito mais do que Fidel, é o seu povo e o seu partido», fortemente empenhados na «revolução de ideias» que é o garante da passagem do testemunho entre gerações para prosseguir a revolução.
Cada passo é mais um passo
«O novo processo político encetado na Bolívia com o governo de Evo Morales está ainda no começo e importa cimentar a orgânica e a estratégia a desenvolver», referiu por seu turno Victoria Foronda, dando conta que o recente Congresso do Partido Comunista da Bolívia faz uma análise positiva da situação mas sem descurar as dificuldades e debilidades existentes.
A nacionalização dos recursos energéticos, a lei da terra, o combate ao analfabetismo e a generalização dos cuidados de saúde são passos importantes a destacar, tal como a integração no Mercosul e no Alba, por um lado, e a rejeição, por outro lado, do Alca implementado pelos EUA para dominar económica e politicamente a região. No entanto, a Bolívia está ainda ameaçada por sentimentos separatistas que podem pôr em causa o seu futuro, pelo que os comunistas bolivianos apontam como tarefas essenciais a «luta pela unidade, a batalha ideológica e uma intensa campanha de esclarecimento popular», de forma a que o país possa definir o seu rumo, «o rumo para o socialismo».
Contra-ataque revolucionário
De unidade falou igualmente Carolus Wimmer, que a partir dos avanços registados na Venezuela e noutros países da América Latina manifestou a sua convicção de que o «mundo unipolar» que o imperialismo pretendia impor está a ser derrotado, e que se assiste hoje a um «contra-ataque revolucionário», a exigir mais do que nunca a solidariedade internacional.
Lembrando que a América Latina era controlada pelos EUA através de dois partidos – os democrata-cristãos e os social-democratas – e que a Venezuela era uma «espécie de limite que não podia ser ultrapassado», Wimmer fez notar como a luta do povo venezuelano derrubou essa fronteira, mostrando que a vitória é possível. Contudo, alertou, «não devemos idealizar os processos de luta», pois apesar das muitas mudanças positivas registadas na Venezuela subsistem muitos problemas, e os avanços «ainda não são suficientes, são apenas o primeiro passo».
Segundo Carolus Wimmer, importa levar a cabo «cinco revoluções»: uma revolução política, iniciada com a feitura de uma nova Constituição, a primeira em 200 anos em que o povo participa; uma revolução económica, anticapitalista e com clara opção pelo socialismo; uma revolução social, que consagre os direitos sociais de toda a população; uma revolução territorial, que ponha fim ao latifúndio e consagre o princípio de a terra a quem a trabalha; e uma revolução internacional, que garanta o direito do país a escolher os seus aliados e a sua política externa. Para isso trabalham os comunistas venezuelanos, conscientes de que longo é ainda o caminho a percorrer.
No encontro na Atalaia ficou uma certeza: É possível vencer.
Anabela Fino