
- Nº 1710 (2006/09/7)
Festa do Livro
As páginas do mundo
Festa do Avante!
Entrar na Festa do Livro é fácil; sair é mais difícil... À sombra do sol escaldante e mais resguardados dos muitos sons da Atalaia, encontramos milhões de páginas prontas a ser desfolhados, num acto de sedução a quem entra.
Os livros estendem-se por diversas mesas, distribuídos por editoras. Surgem lado a lado as novidades e as obras lançadas na Festa, manuseadas por muitos dos visitantes, curiosos e com vontade de levar para casa, fazendo contas de cabeça e muitas vezes chegando à conclusão que mais vale comprar já e aproveitar os descontos habituais do espaço... Manuseados com respeito, os livros são classificados em categorias mentais: «Desejado», «Que surpresa», «Talvez para a próxima», «Deve ser interessante», «Tenho de levar»... Há quem encontre velhos amigos discretamente colocados ao lado de obras desconhecidas. Muitos sabem o que procuram: «Onde está o último livro do...?» Pelas mãos dos visitantes espalham-se obras de banda desenhada, romances, ensaios... Porque na Festa do Livro há de tudo.
A apresentação de livros na Festa surge como complemento à venda. As explicações e as justificações das novas obras são avançadas pelos autores e editores, este ano num total de 12 livros ao longo dos três dias. Foi o que aconteceu na tarde de sábado com a apresentação de Evocação da Obra de Álvaro Cunhal, que junta textos de José Casanova e Filipe Diniz.
«O maior mérito do livro é estimular à leitura da obra de Álvaro Cunhal», referiu José Casanova, para quem o antigo dirigente do PCP é «uma figura marcante e admirada, com um trabalho que deve ser lido e estudado». «A sua vida, obra e actividade fizeram dele o mais importante obreiro do Partido. Com os seus livros, temos mais consciência do presente e ficamos mais preparados para a luta no futuro. A sua obra serve para ler, estudar e aplicar na nossa vida de militantes. Com isso, damos-lhe continuidade e fortalecemos o PCP», defendeu o dirigente.
Filipe Diniz afirmou que Álvaro Cunhal era «extraordinariamente dotado, tinha uma curiosidade intelectual infinita, trabalhou em múltiplos campos, mas permaneceu como prioridade o plano do lutador e do dirigente comunista». «Ele é o exemplo de que não é possível ser comunista em part- time. As reuniões e o trabalho de organização não é tudo nas nossas vidas, mas há política em tudo o que fazemos», acrescentou.
Uma outra componente da obra de Álvaro Cunhal foi abordada pelo produtor Tino Navarro, que, a propósito da adaptação para TV de Até Amanhã, Camaradas, contou como preparou a série e as conversas que manteve com Álvaro Cunhal e com outros militantes comunistas e as «histórias inimagináveis» que ouviu.
No mesmo dia realizou-se o lançamento de A Canção Popular Portuguesa em Fernando Lopes-Graça, com a presença do organizador, Alexandre Branco Weffort, que lembrou como o compositor era «meticuloso na sua obra literária e musical e na sua intervenção quotidiana». A obra inclui uma colectânea de textos de Lopes-Graça sobre a música tradicional portuguesa, uma antologia de 150 temas e um CD-Rom complementar com extractos de peças tratadas no livro e informações sobre a vida e a obra do autor.