MAIS DO MESMO, PARA PIOR

«Para a men­sagem de Natal do pri­meiro-mi­nistro só há uma res­posta: a in­ten­si­fi­cação da luta»

Mais coisa menos coisa, todos os primeiros-ministros, nos últimos trinta anos, nos disseram, nas suas tradicionais mensagens de Natal, o que o actual primeiro-ministro nos veio dizer na última noite de Natal e que pode resumir-se assim: tudo me­lhorou neste ano que ora finda, há ainda um longo ca­minho pela frente, mas com mais e mai­ores sa­cri­fí­cios de todos os por­tu­gueses, tudo me­lho­rará ainda mais no pró­ximo ano. Aquilo que, para além deste resumo essencial, aparece nas ditas mensagens, dando-lhes a aparência de serem diferentes umas das outras, é tão-somente a cor do papel e o feitio dos laços com que é uso os sucessivos primeiros-ministros embalarem e enfeitarem as suas prosas natalícias.
Não surpreende, assim, nem o op­ti­mismo transbordante da chamada «Mensagem de Natal» do primeiro-ministro José Sócrates, nem as sombrias ameaças que brande sobre os trabalhadores, o povo e o País. Aliás, ele já havia garantido exaustivamente, durante vários meses, que tudo estava a me­lhorar; já afiançara repetidas vezes que o me­lhor estava aí a chegar; já mostrara, com resultados concretos de prática governativa, quem são todos os por­tu­gueses aos quais exige mais e maiores sacrifícios – e, por exclusão de partes, já mostrara, também, quem são os ou­tros por­tu­gueses, os que não fazem parte dos todos, aqueles aos quais não são pedidos nem mais nem maiores nem quaisquer sacrifícios.

Ou seja: já se sabia que à maioria dos portugueses – isto é, aos que trabalham e vivem do seu trabalho; aos que procuram trabalho e não o encontram; aos que já trabalharam e deviam ter reformas e pensões dignas – estão reservados mais e maiores sacrifícios, mais e maiores esforços, mais e maiores dificuldades; já se sabia, igualmente, que o Governo PS/Sócrates iria, no ano de 2007, prosseguir a política com que, em 2006, penalizou brutalmente os trabalhadores e favoreceu escandalosamente os grandes grupos económicos e financeiros; já se sabia, enfim, que as melhorias prometidas pelo primeiro-ministro – e essas, sim, para cumprir – se destinam a uma escassa minoria de portugueses: os que vivem à custa de quem trabalha e para os quais, repita-se, não haverá sacrifícios, nem esforços, nem dificuldades, bem pelo contrário haverá, sim, mais e maiores lucros.
A men­sagem de Natal do primeiro-ministro foi, assim, o que se esperava que fosse: José Sócrates entrou em nossas casas representando bem um bem ensaiado conjunto de sorrisos, jeitos e trejeitos de quadra natalícia, disfarçado de Pai Natal com um enorme saco de promessas de bem-aventuranças para o futuro – mas ofe­re­cendo-nos, de concreto e para já, a continuação agravada da política de direita com a qual tem vindo a fustigar as condições de trabalho e de vida da imensa maioria dos portugueses.

A generalidade dos analistas políticos de serviço à política de direita dizem que sim se­nhor e subscrevem o passo a passo assinalado pelo primeiro-ministro: na economia, no défice, nas exportações e, até, vejam bem!, no desemprego. Alguns, des­co­brem, mesmo, diferenças substanciais entre a mensagem do ano passado e esta, e - isentos, im­par­ciais e in­de­pen­dentes - fingem não perceber que as duas são, na sua essência, iguais, que ambas têm como preocupação única a defesa dos interesses do grande capital, que ambas visam a prossecução e a intensificação da exploração desenfreada dos trabalhadores, que ambas trazem consigo a promessa, essa sim garantida, de mais do mesmo para pior.
Os principais atingidos pelo êxito desse «passo a passo» - os trabalhadores, os desempregados, os reformados e pensionistas, os jovens que esperam pelo primeiro emprego ou por um emprego seguro, os micro, pequenos e médios empresários - esses hão-de ter percebido o verdadeiro significado da mensagem do primeiro-ministro, hão-de ter estremecido ao ouvi-lo dizer: «Sei que o Governo está a pedir a todos um esforço maior, mas os portugueses sabem bem que nenhum país progride sem um esforço maior de todos os seus cidadãos» - porque sabem que são eles os alvos daquele «esforço maior para todos».

Na próxima semana chegará o ano novo e com ele, passo a passo, começarão a chegar as melhorias prometidas pelo primeiro-ministro na sua men­sagem de Natal. Neste caso a passos largos, já que se trata de atingir os mesmos de sempre, isto é, aqueles que o primeiro-ministro designa por todos os por­tu­gueses. O primeiro passo largo virá, como é hábito há trinta anos, com o aumento dos preços de todos os bens essenciais, assim agravando as já graves condições de vida da imensa maioria dos portugueses e assim melhorando as já óptimas condições de vida da privilegiada pequeníssima minoria. Depois virão outras melhorias complementares, todas da mesma família: os salários que não sobem ou sobem menos do que o aumento do custo de vida; as condições de trabalho cada vez mais gravosas; as limitações cada vez mais drásticas ao direito constitucional da luta pelos direitos; o ataque cada vez mais brutal aos serviços públicos; enfim, as limitações aos direitos a que todo o ser humano, pelo simples facto de existir, tem direito – tudo isto acompanhado pelo empobrecimento crescente do conteúdo democrático do regime que, como se sabe, está sempre directamente ligado e é parte integrante dos ataques contra os direitos dos trabalhadores e dos cidadãos.
Pelo que, para a men­sagem de Natal do primeiro-ministro só há uma resposta: a intensificação e o alargamento da luta dos trabalhadores e das populações – da luta contra a política de direita e por uma alternativa de esquerda.