A LUTA CONTINUA

«O Partido foi, sempre, a preocupação maior de Sérgio Vilarigues»

Eis uma palavra de ordem recorrente na vida e na actividade dos comunistas. Não se trata de um slogan: trata-se, sim, de uma postura, de uma maneira de estar e de ser expressa numa disponibilidade constante de luta, só possível em quem - a partir de uma muito concreta consciência de classe e na base de um ideal e de um projecto profundamente revolucionários e humanistas - se sabe e age como protagonista activo e consciente da história. A luta continua: dizemos, hoje, aos que, em 15 de Fevereiro de 1931, criaram o Avante! e iniciaram a heróica caminhada do nosso Jornal. A luta continua: é a atitude dos militantes comunistas no seu dia a dia, quer quando as lutas se traduzem em vitória e alegrias, quer quando conduzem a derrotas e tristezas.

No sábado, despedimo-nos do camarada Sérgio Vilarigues, deixando-lhe, como afirmou o camarada Jerónimo de Sousa, «o nosso imenso adeus comunista – que é, ao mesmo tempo, o até sempre a um revolucionário que parte, dito com profunda emoção, carinho e determinação pelos camaradas que ficam e irão continuar a sua luta» - e com a garantia de que, «nos nossos corações e na nossa mente está ancorada e a pulsar aquela força, aquela militância combativa e generosa, aquela confiança inquebrantável» que caracterizou toda a sua vida e que constitui fonte de força essencial para os que assumem o compromisso de dar continuidade a essa luta.
No domingo, festejámos a vitória do Sim no referendo – e fizemo-lo na condição da força política que, também segundo as palavras do secretário-geral do Partido, «se bate há mais anos por esta relevante causa», força que deu «uma contribuição decisiva para o êxito desta luta» e que, por isso mesmo, se pronuncia «pela rápida concretização do processo legislativo» e a adopção das «decisões que respeitem integralmente o sentido e conteúdos do referendo e dos seus resultados», de forma a «não prolongar o tempo perdido». E há entre estes dois acontecimentos uma inequívoca ligação.

A morte levou-nos Sérgio Vilarigues – o camarada de todos os momentos; o amigo fraterno, solidário, leal, exigente, frontal; o revolucionário a tempo inteiro que dedicou toda a sua vida ao seu Partido, que o mesmo é dizer à causa da liberdade, da democracia, do socialismo, do comunismo; o dirigente partidário de várias décadas – primeiro, na clandestinidade, integrando o núcleo decisivo de construtores do PCP como partido revolucionário com a sua identidade comunista, como grande partido nacional, organizador da luta popular e impulsionador da resistência e da unidade antifascistas; depois, na liberdade conquistada em Abril, sempre integrando o Comité Central e os seus organismos executivos, cuja acção dirigente foi fundamental para os avanços revolucionários conseguidos e para a construção do regime democrático – e para a organização da luta em defesa dessas conquistas logo que a contra-revolução, financiada pelo capitalismo internacional e executada pelos seus homens de mão locais, iniciou o processo de destruição de Abril.
O Partido foi, sempre, a preocupação maior de Sérgio Vilarigues: desde que, com 18 anos de idade, entrou para as Juventudes Comunistas, até ao último dia dos seus noventa e três anos de vida – e recorde-se, a propósito, a sua intervenção determinada quando das ofensivas fraccionistas visando a descaracterização do Partido.
No funeral de Sérgio Vilarigues estiveram muitos dos seus amigos e camaradas, esteve o colectivo partidário. Registe-se que nenhum órgão de soberania se fez representar e que, à excepção da Lusa, nenhum órgão da comunicação social dominante esteve presente. Não surpreende que assim tenha sido: tratava-se do funeral de um revolucionário, de um patriota que à luta pela defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País, dedicou toda a sua vida.

Também em relação ao referendo os média dominantes evidenciaram os interesses que servem: apoiaram o Não; e o espaço e o tempo que dedicaram ao Sim foi cirurgicamente medido e pensado: silenciamento da campanha do PCP; super-valorização das campanhas do PS e do BE – e, na noite de domingo, apagamento do papel do PCP e os dois do costume apresentados como os vencedores.
A escandalosa operação de propaganda na noite do referendo e nos dias que se lhe seguiram, teve como objectivo maior ocultar o essencial, designadamente: que, ao contrário do que o PS e o BE defendiam – e de acordo com o que o PCP sempre defendeu – este referendo era desnecessário e o recurso a ele traduziu-se no adiamento por dois anos da aprovação da despenalização, com consequências não de todo conhecidas, mas graves; que o PCP teve uma intervenção decisiva nos resultados obtidos como o provam os milhares de debates, sessões de esclarecimento, arruadas, porta-a-porta, que levou a cabo com o empenhamento do colectivo partidário e uma intervenção intensa do secretário-geral do Partido; que o mapa dos resultados eleitorais não deixa margem para qualquer dúvida: nos concelhos e freguesias onde a CDU tem maior influência eleitoral (maioritária ou próxima disso) foi onde se registaram os resultados mais expressivos do Sim.
A concludente vitória do Sim constituiu, para os comunistas, uma etapa vitoriosa de uma luta de décadas – uma luta persistente, perseverante, que foi abrindo caminhos, derrubando obstáculos, conquistando apoios indispensáveis. Como é normal acontecer a quem traz consigo, sempre, a certeza convicta de que a luta continua.