A Festa em construção
Espaço Ciência realça transportes terrestres

«Ciência sobre Rodas»

O Espaço da Ciência na Festa do Avante!, agora situado ao pé do lago juntamente com a Astronomia, incidirá este ano sobre os transportes terrestres, «da roda ao TGV». Em destaque estarão os avanços científicos e tecnológicos neste sector, bem como os seus impactos no meio ambiente e nas formas de vida das populações.
De todos os inventos do homem, poucos terão sido tão importantes como a roda para o desenvolvimento técnico e científico – mas também económico e social – da humanidade. A partir do invento da roda – na Mesopotâmia, algures por volta de 3500 a.c. – os homens passaram a deslocar-se com maior rapidez entre distâncias cada vez maiores e com a capacidade de transportar não só pessoas como carga e mercadorias.
Atrás desta invenção – a «mãe» de todas as invenções do homem – vieram as estradas, os caminhos e os veículos, cada vez mais sofisticados e poderosos. Na Mesopotâmia, as estradas serviam inicialmente para facilitar o transporte de comerciantes entre aldeias, vilas ou cidades. Neste local nasceram também os primeiros veículos de quatro rodas, puxados por animais. Na Suméria, mil anos depois da invenção da roda situar-se-á o aparecimento do primeiro carro de duas rodas, mais rápido e ágil para ser utilizado na guerra.
Pela mesma altura, mas no Egipto, surge a primeira estrada de pedra, de um quilómetro. A roda raiada, o carro de corrida ou os carros de um boi, estes últimos surgidos na China, foram algumas das mais notáveis criações humanas.
Destes tempos aos nossos dias muitas foram as criações humanas. A máquina a vapor, motor da Revolução Industrial, permitiu deslocações mais poderosas e mais rápidas. As infra-estruturas desenvolveram-se e criaram-se pontes, túneis e carris. A própria noção do tempo alterou-se. Antes do aparecimento do caminho-de-ferro, cada cidade tinha a sua hora própria, diferente de todas as outras. A partir de então, ao longo do percurso de um comboio, passou a existir «a hora do comboio».
O automóvel e o eléctrico foram as invenções seguintes e muitas mais se seguirão.
Augusto Flor, da Direcção da Festa do Avante! e responsável pelo Grupo de Trabalho da Ciência justifica a escolha do tema: «a questão dos transportes acompanha a evolução humana desde sempre.» Em sua opinião, este tema liga-se com a mobilidade e a liberdade do ser humano, com a interculturalidade e também com a economia e com a qualidade de vida.

«Da roda ao TGV»

Assim, estarão em destaque na exposição deste ano do Espaço da Ciência os transportes terrestres «da roda ao TGV», portanto, cerca de cinco mil anos de evolução da humanidade. Para esta exposição, conta Anabela Silva, do grupo de trabalho, foram definidas quatro épocas fundamentais. A primeira, de 3500 a.C. a 1700 d.C., é intitulada «A roda e os primeiros veículos» e a seguinte aborda os tempos da revolução industrial (de 1700 a 1880 d.C.) e tem como lema «A todo o vapor». «A ascensão do automóvel e do eléctrico» é a época seguinte, que engloba os anos de 1880 a 1960 da nossa Era. «A actualidade», é a época seguinte. A finalizar, em «O futuro», traçam-se perspectivas de desenvolvimento, revelou Anabela Silva.
Augusto Flor realçou ainda que dentro de cada uma destas épocas há diferentes perspectivas de abordagem: os meios de transporte; as infra-estruturas; o impacto deste desenvolvimento nas artes e nas letras; e também as suas consequências sociais, políticas e ambientais.
Alice Figueira, responsável no Grupo de Trabalho pelo sector das artes e letras, realça os impactos dos transportes nas diversas artes, particularmente na literatura. Em Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett descreve as carroças, os carros de burros e também o comboio. E já surgem as estradas, «ainda muito desconfortáveis». Na poesia de Cesário Verde aparecem as estradas macadamizadas, e Álvaro de Campos, na Ode Triunfal dá «grande relevo ao automóvel». Em obras mais antigas surgem referências, mas é com os meios mais modernos que os impactos se fazem sentir mais, afirmou Alice Figueira.
Também ao nível das infra-estruturas, os elementos do grupo de trabalho descobriram já coisas interessantes e para muitos desconhecidas. O traçado das principais estradas portuguesas actuais é semelhante ao das estradas romanas, que também tinham dimensões e materiais diferentes, correspondendo a cada categoria de via.
Actualmente, a nanotecnologia é já uma realidade no sector dos transportes terrestres, assim como a navegação por satélite.

Mais do que ciência, política

Não serão apenas os notáveis avanços técnicos e científicos a estar em destaque na exposição do Espaço da Ciência desta edição da Festa do Avante!. De inegável importância para a civilização humana, o progresso tecnológico não tem servido a todos por igual, ou não estivesse a sociedade humana dividida por classes antagónicas. Para Augusto Flor, «hoje, na era do TGV, grandes massas estão ainda excluídas de meios de transporte fundamentais e, em muitas áreas, a deslocação de pessoas e bens faz-se de formas ainda muito rudimentares». Em sua opinião, há que pensar ao que conduz a tecnologia numa sociedade de desigualdade.
Em Portugal, por exemplo, tem-se desvalorizado o transporte ferroviário. Mantiveram-se aqueles que são os eixos centrais e encerrou-se grande parte dos ramais regionais, que levavam o transporte ferroviário às regiões mais recônditas do País. A lógica é a do lucro e não a da satisfação de uma necessidade que é pública, independentemente da natureza da oferta do serviço.
Assim, destacou Augusto Flor, na exposição pretende-se ainda estabelecer uma relação entre ideologia e os transportes. «Não é indiferente a cada época ou a cada governo o índice de desenvolvimento dos transportes terrestres», afirmou. Rodoviário ou ferroviário, individual ou colectivo, público ou privado – todos estes vectores são claramente políticos, destacou o responsável.
O PCP, lembra Augusto Flor, tem um imenso património de propostas sobre transportes. O desenvolvimento de uma rede ampla – aproveitando as infra-estruturas instaladas – de transporte ferroviário, com ramais para todas as regiões do País é uma delas. A aposta no transporte colectivo em detrimento do individual e do público sobre o privado são outras das propostas dos comunistas, que pugnam ainda pelo carácter intermodal dos títulos de transporte. «Não faz sentido que, por vezes para andar dez quilómetros na zona de Lisboa, se tenha que comprar quatro ou cinco bilhetes», afirmou Augusto Flor.
Na literatura, particularmente no neo-realismo português, a questão social é também notória. Alice Figueira lembra que José Gomes Ferreira conta, na sua obra O graxa, que existiam lugares marcados nos eléctricos de Lisboa. «Para os miúdos da rua era à pendura.» Já Soeiro Pereira Gomes retrata, num conto, a terceira classe dos comboios, reservada aos operários.
Para Augusto Flor, o avanço técnico e científico é importante, mas não é suficiente. A questão fundamental é política: «a quem serve esse progresso?»

Novas potencialidades e mais actividades
Um novo espaço, junto ao lago


Este ano o Espaço da Ciência não vai estar no Pavilhão Central, como até aqui vinha acontecendo. A sua nova localização é na zona da várzea, juntamente com a Astronomia e a Física. Este novo espaço, afirma Augusto Flor, tem mais potencialidades pois é «só para as áreas da ciência».
«Será um espaço de convívio permanente. Vai ter, em momentos concretos, debates e conferências», afirmou o responsável por esta área. Durante a Festa, haverá quatro debates: «Transportes e poluição – um questão de saúde pública»; «Transportes e energia – que futuro?»; «Avanços tecnológicos na área dos transportes»; e «Política Nacional de Transportes».
Como tem sido habitual, o professor Máximo Ferreira coordenará o sector da Astronomia e o Grupo de Física do Instituto Superior Técnico marcará novamente presença com as suas experiências. Devido à partilha de espaço, tanto nas conferências do astrónomo como nas experiências de Física, o tema dos transportes terá um destaque especial, embora não único.
Como tem vindo a ser hábito, as crianças terão um espaço próprio. Segundo Lurdes Silva, responsável no grupo de trabalho por esta área, as crianças e os jovens absorvem muita informação e, além disso, têm um grande poder de influência sobre os pais.
As actividades serão variadas e adaptadas à idade da criança ou do jovem. Haverá puzzles sobre o avanço técnico e científico dos transportes terrestres, «da roda ao TGV». Será também possível às crianças pintar e desenhar sobre este tema.
Está também a ser desenvolvido um jogo de computador sobre questões de segurança nos transportes, para sensibilizar as crianças para os perigos e medidas a tomar nos transportes. Com recurso a marionetas as crianças poderão ainda contar pequenas histórias dedicadas a estas temáticas.
Naquele espaço, revelou Augusto Flor, haverá ainda momento de teatro e de poesia.


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