Outro libelo acusatório ao Governo
Foi publicado em Dezembro de 2007 um estudo sobre o poder de compra concelhio, reportado a 2005, resultante de uma parceria do Instituto Nacional de Estatística (INE) com a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e que contou com a colaboração técnica do Pedro Miguel Nogueira Ramos. Que estudo é esse? É um estudo baseado numa matriz, constituída por 18 variáveis observadas em cada um dos 308 concelhos do País.
Seria fastidioso referir, detalhadamente, a designação de cada uma dessas variáveis, pelo que as referimos sinteticamente. Assim: impostos, contribuições e taxas sobre: veículos, rendimento das pessoas singulares, contribuição autárquica, sisa, taxa de urbanização, bem como o rendimento colectável para efeito de IRS; dados fornecidos pela sociedade interbancária de serviços: valor dos levantamentos das caixas automáticas, valor das compras efectuadas através de terminais de pagamento automático, número de operações de pagamento de serviços realizados em caixas automáticas; compra de casas: valor dos contratos de mútuo com hipoteca voluntária sobre prédios urbanos em propriedade horizontal, crédito hipotecário concedido a pessoas singulares, valor dos contratos de compra e venda de prédios urbanos; consumo doméstico de energia eléctrica e número de veículos; estatísticas várias: n.º de pessoas ao serviço das empresas de comércio a retalho e de alojamento e restauração, n.º de hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros, bem como o n.º de unidades relativas a estabelecimentos hoteleiros, parques de campismo e restaurantes.
Cada uma destas variáveis tem um peso específico a partir do qual é estabelecido «o indicador per capita» que mais não é do que um número índice com o valor 100 atribuído à média do País, a partir do qual se compara o poder de compra dos nossos 308 concelhos. Estamos, pois, a falar de um índice (não confundir com um valor absoluto, traduzido em euros), pelo que os concelhos com índices superiores ao valor 100 estão acima da média, enquanto os concelhos com índices inferiores a 100 estão abaixo da média.
Esclarecidos, de forma sintética, alguns procedimentos metodológicos, a que conclusão chegou o INE?
Chegou à conclusão que, dos 308 concelhos, apenas 43 estão acima da média e, naturalmente, 265 estão abaixo da média, estes últimos englobando cerca de 6 milhões de pessoas.
Acima da média, ordenados a partir dos índices mais elevados, dentro de cada distrito, estão os concelhos de: Aveiro, São João da Madeira e Espinho (Aveiro); Beja (Beja); Braga (Braga); Bragança (Bragança); Coimbra (Coimbra); Évora (Évora); Faro, Albufeira, Portimão, Lagos, Loulé, VRS António e Lagoa (Faro); Marinha Grande e Caldas da Rainha (Leiria); Lisboa, Oeiras, Cascais, Loures, Amadora, VF Xira, Mafra e Sintra (Lisboa); Portalegre (Portalegre); Porto, Matosinhos e Maia (Porto); Entroncamento e Benavente (Santarém); Alcochete, Montijo, Almada, Setúbal, Barreiro, Sines, Sesimbra, Palmela e Seixal (Setúbal); Ponta Delgada (Açores); Funchal e Porto Santo (Madeira).
Estes 43 concelhos representam cerca de 41% da nossa população e 14% do n.º de municípios os quais se concentram, fundamentalmente, em três regiões: Península de Setúbal, Grande Lisboa e Algarve. Há um pequeno núcleo de quatro concelhos na região do Grande Porto e, depois, casos isolados, como sejam as capitais de distrito e das regiões autónomas de: Bragança, Braga, Aveiro, Coimbra, Portalegre, Évora, Beja, Funchal e Ponta Delgada a que acresce os concelhos de São João da Madeira, Marinha Grande, Caldas da Rainha, Entroncamento, Sines e Porto Santo.
A concentração mais importante é, de longe, a região que vai desde Mafra (a Norte) a Sesimbra e Setúbal (a Sul), banhada a ocidente pelo Atlântico e limitada a oriente por um arco que vai desde Vila Franca de Xira, passando por Benavente e Palmela.
Estamos a falar de uma região com 2865 km2 (equivalente a um quadrado com 53Km de lado) onde habitam (dados reportados a 31/12/2002) 2 714 614 pessoas, ou seja, estamos a falar de uma região que representa cerca de 3% do território e cerca de 26% da população. É, pois, neste pequeno espaço territorial que se localizam 37% dos concelhos com índices superiores à média do País. Mas, atenção: não estamos a falar em valores absolutos, ou seja, não estamos a traduzir os índices em euros. Estamos apenas a dizer, do ponto de vista relativo, tendo em atenção a média do País, que esta região detém os mais elevados índices de poder de compra.
Registe-se que uma destas sub-regiões (a península de Setúbal) é, no dizer do ministro das Obras Públicas, um deserto. Ora, neste «deserto» existem oito concelhos com índices superiores à média do País, a saber: Alcochete, 141,46; Montijo, 132,80; Almada, 128,20; Setúbal, 120,39; Barreiro, 116; Sesimbra, 111; Palmela, 108,69 e Seixal, 107,49. No distrito de Setúbal há ainda a considerar Sines, com um índice de 114,53.
A seguir à Península de Setúbal é de salientar o caso do Algarve, onde existem sete concelhos com índices de compra superior à média do País. Falamos de Faro, Albufeira, Portimão, Lagos, Loulé, Vila Real de Santo António e Lagoa. Este ranking é para nós uma surpresa, na medida em que o Algarve, estando acima da média em termos de poder de compra, está, por outro lado, abaixo da média salarial no sector privado da economia, em cerca de 12%, tendo em consideração a remuneração base. Com efeito, no distrito de Faro todos os concelhos têm um nível salarial abaixo da média do País, salvo o concelho de Faro por uma diferença muito marginal. Como se justifica, então, esta contradição, entre um indicador (poder de compra) e a realidade dos baixos salários?
Será que existe muita gente a viver no Algarve com rendimentos que não sejam os dos trabalhadores por conta de outrem?
Será que a contradição atrás referida é explicada por uma elevada economia paralela?
Ou será que o efeito do turismo, com muita gente vinda de fora a gastar dinheiro, introduz elementos não controláveis pela fórmula que quantifica o índice de poder de compra?
Qualquer que seja a explicação é obvio que, no Algarve, é grande a diferença entre a fama e o proveito. Aliás, o Algarve tem uma situação única. É o único distrito, a Sul do rio Vouga, que detém um concelho com um índice inferior a metade da média de País. Trata-se de Alcoutim, com um índice de 48,92, ou seja, trata-se de um concelho com um poder de compra correspondente a 1/3 do poder de compra do concelho de Faro, situação que confere ao Algarve uma das maiores assimetrias socais do País.
Outra região igualmente assimétrica é a Região da Madeira, considerada a segunda região mais rica do País, tendo em consideração o PIB per capita mas que, no plano do poder de compra, está numa situação modesta, com especial destaque para seis concelhos que não chegam sequer a 2/3 da média do País. Falamos de Calheta, Câmara de Lobos, Ponta do Sol, Porto Moniz, Santana e São Vicente, cujos índices estão balizados entre um máximo de 58,13 e um mínimo de 51,20, e tudo isto numa região, repetimos, considerada rica, em termos de riqueza criada. A assimetria na Madeira explica-se pelo facto de 82% dos seus concelhos terem um índice inferior à média do País.
Estes dois casos (o Algarve e a Madeira) evidenciam quão demagógicas são as opiniões dos governantes, dos seus acólitos e dos formadores de opinião de que só é possível distribuir aquilo que se produz. Se assim fosse a realidade social destas duas «ricas» regiões seria bem diferente. Não só teriam indicadores mais elevados, no plano do poder de compra, como mais elevados seriam os salários dos trabalhadores por conta de outrem.
A terminar esta primeira análise registemos quatro pequenas considerações:
1.ª Na região da Grande Lisboa, comparativamente a 2004, o ano de 2005 significa um retrocesso em praticamente todos os concelhos à excepção de Mafra. Os índices de poder de compra, tendo em conta a média atribuída ao País, baixaram em Lisboa, Oeiras, Cascais, Loures, Amadora, Sintra e Odivelas, enquanto, por outro lado, na margem esquerda do Tejo, se assiste ao aumento dos índices em Alcochete, Montijo, Almada, Setúbal, Barreiro, Sines, Sesimbra, Palmela, Seixal e Moita;
2.ª Na região do Grande Porto há apenas quatro concelhos com índices de poder de compra superiores à média do País (Porto, 164,26; Matosinhos, 121,19; Maia, 114,57; e Espinho, 108,03 (este já no distrito de Aveiro). Nesta região, para além do reduzido número de concelhos com índices superiores à média do País, verifica-se uma retracção a qual, na cidade do Porto, se cifra em menos 34 pontos;
3.ª Quanto às capitais de distrito é de assinalar que 7 delas têm índices de poder de compra inferiores à média do País. Estão neste caso: Viana do Castelo, Vila Real, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Leiria e Santarém;
4.ª Relativamente aos concelhos mais populosos é de assinalar a existência de seis concelhos, cada um deles com mais de 100 000 habitantes e cujos índices de poder de compra estão abaixo da média. Referimo-nos a Vila Nova de Gaia, Gondomar, Guimarães, Santa Maria da Feira, Vila Nova de Famalicão e Barcelos, em cujos territórios vive cerca de 1 milhão de pessoas. Os casos mais problemáticos são os de Guimarães e Barcelos com índices, respectivamente, de 77,50 e 67,05. Em termos nacionais, a melhoria do nível de vida passa, forçosamente, por toda esta região, vítima de actividades produtivas baseadas em baixos salários. Acrescem a estes concelhos os de Leiria e Odivelas cujos índices estão muito próximos da média do País, 99,32 e 99,53, respectivamente.
Governo agrava as assimetrias regionais
Os dados do estudo a que nos temos vindo a referir, embora publicados em 2007, correspondem ao ano de 2005.
Vamos aguardar por 2009, data previsível da publicação dos dados reportados a 2007, período, estamos certos, em que as assimetrias regionais terão aumentado, na relação directa com as políticas levadas a cabo pelo Governo de José Sócrates, plasmadas no encerramento dos serviços públicos no interior do País. Se a situação em 2005 era grave, ela será ainda mais gravosa no corrente ano e nos anos subsequentes.
Para uma correcta avaliação das políticas contrárias a uma verdadeira coesão nacional, tendo em conta que há 265 concelhos com índices inferiores à média nacional e onde residem cerca de seis milhões de pessoas, sugerimos, entre múltiplas opções, uma viagem pelo País, percorrendo cinco itinerários:
1º. itinerário – fronteira terrestre e fluvial com a Espanha: dos cerca de 40 concelhos fronteiriços apenas três (Vila Real de Santo António, Portalegre e Bragança) têm índices de poder de compra superiores à média do País. Todos os restantes estão abaixo, com especial destaque para Alcoutim, Freixo-de-Espada-à-Cinta, Vinhais e Terras de Bouro, cujos índices são inferiores a metade da média nacional;
2º. itinerário – zona central do País, limítrofe do IC2: em toda esta vasta região, que atravessa o País de Norte a Sul, há apenas três concelhos, todos eles no Alentejo (as capitais de distrito) com índices de poder de compra superiores à média do País;
3º. itinerário – fronteira marítima: não obstante esta região ser considerada a mais desenvolvida no contexto da nossa economia e a mais povoada, o certo é que (descontando um pequeno núcleo de concelhos no Grande Porto, a zona da Grande Lisboa, a Península de Setúbal e o Algarve) há cerca de 30 concelhos com índices inferiores à média do País;
4º. itinerário – região a Norte do rio Vouga: é nesta região que se encontra a situação mais grave no que concerne ao poder de compra das respectivas populações. Há aqui 14 concelhos com índices inferiores a metade da média, que se discriminam: Aguiar da Beira (Guarda); Vila Nova de Paiva, Armamar, Tabuaço, Sernancelhe, Cinfães e Resende (Viseu); Baião (Porto); Vinhais, Carrazeda de Ansiães e Freixo-de-Espada-à-Cinta (Bragança); Celorico de Basto e Terras do Bouro (Braga); Ribeira de Pena (Vila Real).
O 5º. Itinerário tem como ponto de análise o espaço territorial da Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins estatísticos (NUTS), cuja desagregação a nível de NUTS III abrange as 30 sub- regiões do País. Pois bem: nestas 30 sub-regiões há apenas cinco com valores superiores à média nacional, que são os casos já atrás referidos da Grande Lisboa, da Península de Setúbal, do Algarve do Grande Porto e do Baixo Mondego, esta última influenciada unicamente pelo concelho de Coimbra. Todas as restantes 25 sub-regiões têm valores inferiores à média do País, com especial destaque para a situação gravosa de quatro sub-regiões cujos índices não chegam, sequer, a 2/3 da média. Estão neste caso: a sub-região do Pinhal Interior Sul, (Mação, Oleiros, Proença-a-Nova, Sertã, Vila de Rei); a sub-região do Tâmega, (Amarante, Baião, Cabeceiras de Basto, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Mondim de Basto, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel, Resende, Ribeira de Pena); a sub-região da Serra da Estrela, (Fornos de Algodres, Gouveia, Seia); a sub-região do Pinhal Interior Norte, (Alvaiázere, Ansião, Arganil, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Pedrogão Grande, Penela, Tábua, Vila Nova de Poiares).
Estes são os dados publicados recentemente, mas reportados a 2005. Quando, em 2009, forem publicados os dados reportados a 2007 que realidade será, então, expressa pelo estudo do INE? Estaremos pior ou melhor? Eis uma pergunta a que só o desenvolvimento quotidiano da luta do povo português, designadamente dos trabalhadores, poderá responder.
Cada uma destas variáveis tem um peso específico a partir do qual é estabelecido «o indicador per capita» que mais não é do que um número índice com o valor 100 atribuído à média do País, a partir do qual se compara o poder de compra dos nossos 308 concelhos. Estamos, pois, a falar de um índice (não confundir com um valor absoluto, traduzido em euros), pelo que os concelhos com índices superiores ao valor 100 estão acima da média, enquanto os concelhos com índices inferiores a 100 estão abaixo da média.
Esclarecidos, de forma sintética, alguns procedimentos metodológicos, a que conclusão chegou o INE?
Chegou à conclusão que, dos 308 concelhos, apenas 43 estão acima da média e, naturalmente, 265 estão abaixo da média, estes últimos englobando cerca de 6 milhões de pessoas.
Acima da média, ordenados a partir dos índices mais elevados, dentro de cada distrito, estão os concelhos de: Aveiro, São João da Madeira e Espinho (Aveiro); Beja (Beja); Braga (Braga); Bragança (Bragança); Coimbra (Coimbra); Évora (Évora); Faro, Albufeira, Portimão, Lagos, Loulé, VRS António e Lagoa (Faro); Marinha Grande e Caldas da Rainha (Leiria); Lisboa, Oeiras, Cascais, Loures, Amadora, VF Xira, Mafra e Sintra (Lisboa); Portalegre (Portalegre); Porto, Matosinhos e Maia (Porto); Entroncamento e Benavente (Santarém); Alcochete, Montijo, Almada, Setúbal, Barreiro, Sines, Sesimbra, Palmela e Seixal (Setúbal); Ponta Delgada (Açores); Funchal e Porto Santo (Madeira).
Estes 43 concelhos representam cerca de 41% da nossa população e 14% do n.º de municípios os quais se concentram, fundamentalmente, em três regiões: Península de Setúbal, Grande Lisboa e Algarve. Há um pequeno núcleo de quatro concelhos na região do Grande Porto e, depois, casos isolados, como sejam as capitais de distrito e das regiões autónomas de: Bragança, Braga, Aveiro, Coimbra, Portalegre, Évora, Beja, Funchal e Ponta Delgada a que acresce os concelhos de São João da Madeira, Marinha Grande, Caldas da Rainha, Entroncamento, Sines e Porto Santo.
A concentração mais importante é, de longe, a região que vai desde Mafra (a Norte) a Sesimbra e Setúbal (a Sul), banhada a ocidente pelo Atlântico e limitada a oriente por um arco que vai desde Vila Franca de Xira, passando por Benavente e Palmela.
Estamos a falar de uma região com 2865 km2 (equivalente a um quadrado com 53Km de lado) onde habitam (dados reportados a 31/12/2002) 2 714 614 pessoas, ou seja, estamos a falar de uma região que representa cerca de 3% do território e cerca de 26% da população. É, pois, neste pequeno espaço territorial que se localizam 37% dos concelhos com índices superiores à média do País. Mas, atenção: não estamos a falar em valores absolutos, ou seja, não estamos a traduzir os índices em euros. Estamos apenas a dizer, do ponto de vista relativo, tendo em atenção a média do País, que esta região detém os mais elevados índices de poder de compra.
Registe-se que uma destas sub-regiões (a península de Setúbal) é, no dizer do ministro das Obras Públicas, um deserto. Ora, neste «deserto» existem oito concelhos com índices superiores à média do País, a saber: Alcochete, 141,46; Montijo, 132,80; Almada, 128,20; Setúbal, 120,39; Barreiro, 116; Sesimbra, 111; Palmela, 108,69 e Seixal, 107,49. No distrito de Setúbal há ainda a considerar Sines, com um índice de 114,53.
A seguir à Península de Setúbal é de salientar o caso do Algarve, onde existem sete concelhos com índices de compra superior à média do País. Falamos de Faro, Albufeira, Portimão, Lagos, Loulé, Vila Real de Santo António e Lagoa. Este ranking é para nós uma surpresa, na medida em que o Algarve, estando acima da média em termos de poder de compra, está, por outro lado, abaixo da média salarial no sector privado da economia, em cerca de 12%, tendo em consideração a remuneração base. Com efeito, no distrito de Faro todos os concelhos têm um nível salarial abaixo da média do País, salvo o concelho de Faro por uma diferença muito marginal. Como se justifica, então, esta contradição, entre um indicador (poder de compra) e a realidade dos baixos salários?
Será que existe muita gente a viver no Algarve com rendimentos que não sejam os dos trabalhadores por conta de outrem?
Será que a contradição atrás referida é explicada por uma elevada economia paralela?
Ou será que o efeito do turismo, com muita gente vinda de fora a gastar dinheiro, introduz elementos não controláveis pela fórmula que quantifica o índice de poder de compra?
Qualquer que seja a explicação é obvio que, no Algarve, é grande a diferença entre a fama e o proveito. Aliás, o Algarve tem uma situação única. É o único distrito, a Sul do rio Vouga, que detém um concelho com um índice inferior a metade da média de País. Trata-se de Alcoutim, com um índice de 48,92, ou seja, trata-se de um concelho com um poder de compra correspondente a 1/3 do poder de compra do concelho de Faro, situação que confere ao Algarve uma das maiores assimetrias socais do País.
Outra região igualmente assimétrica é a Região da Madeira, considerada a segunda região mais rica do País, tendo em consideração o PIB per capita mas que, no plano do poder de compra, está numa situação modesta, com especial destaque para seis concelhos que não chegam sequer a 2/3 da média do País. Falamos de Calheta, Câmara de Lobos, Ponta do Sol, Porto Moniz, Santana e São Vicente, cujos índices estão balizados entre um máximo de 58,13 e um mínimo de 51,20, e tudo isto numa região, repetimos, considerada rica, em termos de riqueza criada. A assimetria na Madeira explica-se pelo facto de 82% dos seus concelhos terem um índice inferior à média do País.
Estes dois casos (o Algarve e a Madeira) evidenciam quão demagógicas são as opiniões dos governantes, dos seus acólitos e dos formadores de opinião de que só é possível distribuir aquilo que se produz. Se assim fosse a realidade social destas duas «ricas» regiões seria bem diferente. Não só teriam indicadores mais elevados, no plano do poder de compra, como mais elevados seriam os salários dos trabalhadores por conta de outrem.
A terminar esta primeira análise registemos quatro pequenas considerações:
1.ª Na região da Grande Lisboa, comparativamente a 2004, o ano de 2005 significa um retrocesso em praticamente todos os concelhos à excepção de Mafra. Os índices de poder de compra, tendo em conta a média atribuída ao País, baixaram em Lisboa, Oeiras, Cascais, Loures, Amadora, Sintra e Odivelas, enquanto, por outro lado, na margem esquerda do Tejo, se assiste ao aumento dos índices em Alcochete, Montijo, Almada, Setúbal, Barreiro, Sines, Sesimbra, Palmela, Seixal e Moita;
2.ª Na região do Grande Porto há apenas quatro concelhos com índices de poder de compra superiores à média do País (Porto, 164,26; Matosinhos, 121,19; Maia, 114,57; e Espinho, 108,03 (este já no distrito de Aveiro). Nesta região, para além do reduzido número de concelhos com índices superiores à média do País, verifica-se uma retracção a qual, na cidade do Porto, se cifra em menos 34 pontos;
3.ª Quanto às capitais de distrito é de assinalar que 7 delas têm índices de poder de compra inferiores à média do País. Estão neste caso: Viana do Castelo, Vila Real, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Leiria e Santarém;
4.ª Relativamente aos concelhos mais populosos é de assinalar a existência de seis concelhos, cada um deles com mais de 100 000 habitantes e cujos índices de poder de compra estão abaixo da média. Referimo-nos a Vila Nova de Gaia, Gondomar, Guimarães, Santa Maria da Feira, Vila Nova de Famalicão e Barcelos, em cujos territórios vive cerca de 1 milhão de pessoas. Os casos mais problemáticos são os de Guimarães e Barcelos com índices, respectivamente, de 77,50 e 67,05. Em termos nacionais, a melhoria do nível de vida passa, forçosamente, por toda esta região, vítima de actividades produtivas baseadas em baixos salários. Acrescem a estes concelhos os de Leiria e Odivelas cujos índices estão muito próximos da média do País, 99,32 e 99,53, respectivamente.
Governo agrava as assimetrias regionais
Os dados do estudo a que nos temos vindo a referir, embora publicados em 2007, correspondem ao ano de 2005.
Vamos aguardar por 2009, data previsível da publicação dos dados reportados a 2007, período, estamos certos, em que as assimetrias regionais terão aumentado, na relação directa com as políticas levadas a cabo pelo Governo de José Sócrates, plasmadas no encerramento dos serviços públicos no interior do País. Se a situação em 2005 era grave, ela será ainda mais gravosa no corrente ano e nos anos subsequentes.
Para uma correcta avaliação das políticas contrárias a uma verdadeira coesão nacional, tendo em conta que há 265 concelhos com índices inferiores à média nacional e onde residem cerca de seis milhões de pessoas, sugerimos, entre múltiplas opções, uma viagem pelo País, percorrendo cinco itinerários:
1º. itinerário – fronteira terrestre e fluvial com a Espanha: dos cerca de 40 concelhos fronteiriços apenas três (Vila Real de Santo António, Portalegre e Bragança) têm índices de poder de compra superiores à média do País. Todos os restantes estão abaixo, com especial destaque para Alcoutim, Freixo-de-Espada-à-Cinta, Vinhais e Terras de Bouro, cujos índices são inferiores a metade da média nacional;
2º. itinerário – zona central do País, limítrofe do IC2: em toda esta vasta região, que atravessa o País de Norte a Sul, há apenas três concelhos, todos eles no Alentejo (as capitais de distrito) com índices de poder de compra superiores à média do País;
3º. itinerário – fronteira marítima: não obstante esta região ser considerada a mais desenvolvida no contexto da nossa economia e a mais povoada, o certo é que (descontando um pequeno núcleo de concelhos no Grande Porto, a zona da Grande Lisboa, a Península de Setúbal e o Algarve) há cerca de 30 concelhos com índices inferiores à média do País;
4º. itinerário – região a Norte do rio Vouga: é nesta região que se encontra a situação mais grave no que concerne ao poder de compra das respectivas populações. Há aqui 14 concelhos com índices inferiores a metade da média, que se discriminam: Aguiar da Beira (Guarda); Vila Nova de Paiva, Armamar, Tabuaço, Sernancelhe, Cinfães e Resende (Viseu); Baião (Porto); Vinhais, Carrazeda de Ansiães e Freixo-de-Espada-à-Cinta (Bragança); Celorico de Basto e Terras do Bouro (Braga); Ribeira de Pena (Vila Real).
O 5º. Itinerário tem como ponto de análise o espaço territorial da Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins estatísticos (NUTS), cuja desagregação a nível de NUTS III abrange as 30 sub- regiões do País. Pois bem: nestas 30 sub-regiões há apenas cinco com valores superiores à média nacional, que são os casos já atrás referidos da Grande Lisboa, da Península de Setúbal, do Algarve do Grande Porto e do Baixo Mondego, esta última influenciada unicamente pelo concelho de Coimbra. Todas as restantes 25 sub-regiões têm valores inferiores à média do País, com especial destaque para a situação gravosa de quatro sub-regiões cujos índices não chegam, sequer, a 2/3 da média. Estão neste caso: a sub-região do Pinhal Interior Sul, (Mação, Oleiros, Proença-a-Nova, Sertã, Vila de Rei); a sub-região do Tâmega, (Amarante, Baião, Cabeceiras de Basto, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Mondim de Basto, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel, Resende, Ribeira de Pena); a sub-região da Serra da Estrela, (Fornos de Algodres, Gouveia, Seia); a sub-região do Pinhal Interior Norte, (Alvaiázere, Ansião, Arganil, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Pedrogão Grande, Penela, Tábua, Vila Nova de Poiares).
Estes são os dados publicados recentemente, mas reportados a 2005. Quando, em 2009, forem publicados os dados reportados a 2007 que realidade será, então, expressa pelo estudo do INE? Estaremos pior ou melhor? Eis uma pergunta a que só o desenvolvimento quotidiano da luta do povo português, designadamente dos trabalhadores, poderá responder.