No parlamento

João Frazão
O novo modelo de debate parlamentar com o Primeiro Ministro, num formato quinzenal, com os Partidos a terem a primeira palavra, colocando questões sobre temáticas da sua exclusiva responsabilidade, deu margem para muitas leituras.
Vejamos algumas delas, na certeza de não sermos exaustivos.
A primeira é a de que o PS e a sua rapaziada no Grupo Parlamentar, ansiosos por agradar ao chefe, aproveitam para, combinando previamente o número, estender ao Primeiro-Ministro uma passadeira vermelha em que ele se possa passear com algum coelho tirado da cartola à última da hora, algumas medidas sociais para acalmar as hostes e dar um ar de preocupação com os mais desfavorecidos que é coisa que fica sempre bem a um governo cuja matriz, de vez em quando, se quer afirmar de esquerda.
A segunda é a de que se queremos ouvir falar dos problemas dos trabalhadores, dos seus direitos e dos ataques que este governo lhes vem desferindo e vai procurar aprofundar, já sabemos, certo e seguro, que teremos que esperar pela intervenção dos deputados do PCP, neste caso pela voz do seu Secretário Geral, únicos que assumem com quem trabalha o compromisso de, de forma persistente e consequente, não dar tréguas no combate em todos os planos, e também no plano parlamentar, aos intentos do capital, que o PS representa no Governo, de desregular e precarizar ainda mais as relações laborais.
A terceira é a de que o Ministro do Trabalho vai a estes debates como uma espécie de tropa de choque de reserva do anticomunismo militante, fazer o papel feio em que Sócrates não quer ser visto, para preservar a sua imagem de estadista.
Assim, à contradição simples e evidente de que o Governo anuncia apoios à maternidade, (que, em boa verdade, para os cofres do Estado são apenas trocos), mas prepara-se para criar dificuldades imensas à conciliação da vida familiar com o trabalho, admitindo, nas alterações ao Código do Trabalho, horários diários de 10 e 12 horas e semanais de 50 ou 60, Sócrates não respondeu. Mandou avançar o troglodita de serviço que, pasme-se, acusou o PCP de estar parado no séc. XIX, por este defender uma das principais conquistas civilizacionais do séc XX, a jornada de 8h diárias e a semana das 40h, que em alguns sectores só se conquistou já depois do 25 de Abril.
Vieira da Silva, no seu afã de aparecer bem ao lado do chefe, denunciou o seu pensamento com toda a clareza. Regressar ao séc. XIX, época em que se trabalhava de sol a sol, sem quaisquer direitos mínimos. Ficámos esclarecidos. E o patronato agradece!


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