- Nº 1815 (2008/09/11)
Debate põe em evidência

«Não existe estrutura de alta competição organizada»

Festa do Avante!

«O papel das colectividades na formação de atletas de alto rendimento» foi o tema em debate no auditório do Pavilhão Central que reuniu na tarde de Sábado uma numerosa e interessada assistência composta maioritariamente por dirigentes associativos.
Moderado por José Carlos, presidente da Associação das Colectividades do Concelho do Seixal, o debate teve como oradores o professor Melo de Carvalho e o deputado comunista Miguel Tiago.
Este último, abrindo o debate, lembrou as incumbências do Estado em matéria de desenvolvimento desportivo, segundo a Constituição, para concluir que os governos têm levado a cabo uma política em tudo contrária ao que diz a Lei Fundamental, nomeadamente quando «desprezam a actividade social e associativa» e através da «promoção empresarial de formas distorcidas de voluntariado».
Recordadas foram, por outro lado, as muitas iniciativas do PCP, quer no plano legislativo quer em termos de intervenção partidária, como foi o caso do «Encontro Nacional sobre Associativismo Popular», onde esteve em foco de modo particular a extraordinária acção do poder local democrático.
O desporto escolar, o papel do associativismo no desporto popular e na «formação integral do indivíduo» (como sublinhou Bento de Jesus Caraça), a inexistência (ou quase) de apoios ao trabalho ímpar que estas desenvolvem, a relação dos jovens com o movimento associativo, foram outros tantos temas a merecer a reflexão de Miguel Tiago.

Frutos do acaso

Melo de Carvalho, por seu lado, trouxe para o centro do debate a formação dos nossos atletas de alta competição e a estrutura necessária ao seu surgimento, apoio e desenvolvimento. «Não basta ter um número muito elevado de praticantes para garantir atletas de topo», observou, afiançando que a «base» capaz de garantir essa alta competição «tem de estar no desporto escolar, nas autarquias, no movimento associativo, nas Forças Armadas, em todos os movimentos sociais».
Na opinião do homem que revolucionou depois do 25 de Abril toda a estrutura do desporto juvenil e escolar, criando efectivas condições para a sua democratização e para garantir o direito de todos os cidadãos ao desporto, os resultados obtidos há anos por figuras como Carlos Lopes (atletismo) ou Joaquim Agostinho (ciclismo) foram uma consequência do esforço e dedicação de atletas e treinadores e não da existência, no caso do primeiro, de qualquer «escola do grande fundo português, que não existia».
«Nada do que se passa no nosso desporto é intencional. É tudo por acaso. Quando surge alguém, é que se pega nele», sublinhou, lembrando a propósito o exemplo de Nelson Évora, que, enfatizou, teve a felicidade de encontrar por mero acaso (moravam no mesmo prédio) o seu treinador, técnico de qualidade que soube garantir-lhe a formação adequada.

Longo caminho

Defendendo que a iniciação precoce deve ocorrer por volta dos seis anos, por via do desporto escolar – «que é hoje uma ficção», acusou - , Melo de Carvalho entende que a segunda fase deve situar-se na casa dos 12 anos (já no ciclo preparatório, através de mecanismos de orientação desportiva), a que se segue a fase de especialização, por volta dos 16 anos, esta claramente assumida pelas colectividades.
Melo de Carvalho não tem dúvidas de que é inexistente no nosso País uma «estrutura de alta competição devidamente organizada», entendendo, por isso, que a «miséria» em planos como o desporto escolar, do trabalho ou das colectividades é, afinal, também, «a miséria da alta competição».
Por isso, defendeu, em jeito de desafio, em matéria de alta competição, «há um longo caminho a percorrer no que se refere à base, à estrutura e à formação».