O assalto ao Leste

Luís Carapinha

A «geopolítica não é mais do que a ideologia da expansão imperialista»

Diz-se que na política não há coincidências. Não o foi certamente a realização pela UE em Praga, nas vésperas do 64.º aniversário da vitória sobre o nazi-fascismo, assinalado dia 9 de Maio nos países da antiga URSS, de duas iniciativas de monta na frente activa do Leste. A Cimeira da Parceria Oriental, reunida dia 7 de Maio, através da qual Bruxelas pretende atrelar seis ex-repúblicas soviéticas (Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Moldávia e Ucrânia) e a minicimeira energética, pomposamente designada «Corredor do Sul – nova Rota da Seda», realizada no dia seguinte, cuja peça central é o gasoduto Nabucco, velho projecto dos EUA e UE para garantir fornecimentos alternativos à Rússia desde as jazidas dos países do Cáspio e Ásia Central.
Lembre-se que em toda a tortuosa geografia dos corredores energéticos, ditada pelos objectivos políticos e geoestratégicos mais profundos do imperialismo e não por apregoados critérios de racionalidade económica – atente-se que um dos grandes produtores mundiais de gás, o Irão, é excluído do mapa –, um dos países chave para o «livre-trânsito» é precisamente a Geórgia, onde na mesma semana a NATO iniciou exercícios militares que se prolongarão até 1 de Junho. Restará saber se tão longa permanência militar na república do Cáucaso, quando permanece bem viva a memória da guerra de Agosto na Ossétia do Sul, visa segurar o debilitado regime de Saakashivili em Tbilissi ou, ao invés, assegurar a transição controlada para o senhor(a) que se segue de uma oposição encartada, reeditando os acontecimentos de 2003 que sacrificaram o anterior vassalo, Shevarnadze.

Da UE multiplicaram-se as garantias do carácter benigno e mesmo altruísta da «parceria oriental» que acena com a magra quantia de 600 milhões de euros até 2013 aos seis países associados, tal como as explicações descartando qualquer «mentalidade de bloco» ou o objectivo de estabelecer esferas de influência... A própria declaração conjunta da cimeira de 7 de Maio revela porém o contrário. Entre os eixos da parceria oriental de Bruxelas contam-se a tutelar cooperação nos planos da «Democracia e boa governação», a «integração e convergência Económicas com as políticas sectoriais da UE» e a [malfadada] «segurança Energética».
A obstinação de Washington e Bruxelas no crescentemente crucial capítulo energético roça as margens do irracional ao insistir num gasoduto para o qual não existem fornecedores. A recusa do Casaquistão, Uzbequistão e Turquemenistão em assinar o acordo do «corredor do Sul», indiciando novamente a opção preferencial nas ligações em direcção a Norte e Leste, transforma o Nabucco num projecto-fantasma.

No xadrez do imperialismo são múltiplas as frentes que se cruzam na questão dos corredores do Cáucaso. Num plano mais vasto, um dos objectivos centrais do «assalto a Leste» é furar o domínio energético do capitalismo russo no espaço pós-soviético e limitar a sua projecção europeia, aprofundando ao mesmo tempo o «cordão sanitário» e o anel militar ofensivo dos EUA e NATO que se fecha em torno das fronteiras da Rússia, não desistindo do inconfessável objectivo de uma mudança de poder que abra as portas à livre exploração dos recursos daquele que o III Reich proclamou o seu «espaço vital».
O isolamento do Irão e a mudança de regime e a questão do «controlo» do Médio Oriente, tal como a guerra pela hegemonia na Ásia Central e a pressão sobre a China e as suas fontes de abastecimento energético são outros dos factores sensíveis num contexto de acelerada rearrumação de forças global e profunda crise sistémica do capitalismo.
Não é pois inocente a tentativa de «obnubilação geopolítica» dos conflitos em curso, visando excluir ou subverter a luta dos trabalhadores e povos. Como alguém já referiu a «geopolítica não é mais do que a ideologia da expansão imperialista».


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