O novo mundo chinês da «alta tecnologia»

Francisco Silva
«China está a retirar Investigação de Alta Tecnologia dos EUA», título de um artigo de Keith Bradsher - título traduzido mais ou menos à letra do inglês - publicado no New York Times em 17 de Março de 2010 -, artigo enviado por email pela mão amiga do Frederico Carvalho. Por vezes penso que não devo cair em exageros ao exprimir-me sobre esta questão, que talvez esteja a fazer um erro de paralaxe devido à focagem no sector que conheço por razões profissionais - as telecomunicações, melhor dizendo grande parte das «TIC» (tecnologias da informação e comunicação), sector no qual as empresas chinesas se encontram hoje entre as primeiras no mundo e onde, até há pouco, digamos até há um pouco que não recua sequer até meados da década que agora acaba, à frente dos chineses existia uma mão cheia de multinacionais europeias e norte-americanas. Pois em finais de 2009 a maior chinesa já andava por segunda maior do mundo em termos de receitas, enquanto nos finais do mesmo ano a maior do mundo, a Ericsson da «socialista» Suécia, anunciou um lay-off (ai, o eufemismo!) que, se bem me lembro, montava a 6500 trabalhadores! Isto enquanto essa empresa chinesa - a Huawei - foi reconhecida na classificação da Fastcompany, todos os sectores confundidos, a 5.ª empresa mais inovadora do mundo, a seguir ao Facebook, à Amazon, à Apple e à Google. A Novartis aparecia em 8.º, em 13.º a Nike, 14.º a Intel, 17.º a Cisco, etc. - uf! O que quer que signifiquem estas classificações, pelo menos deve ser tomado nota do facto. E um dos argumentos para classificar a Huawei em 5.º foi o facto de 46% da sua força de trabalho, que anda por 90 000 trabalhadores, de 46% da sua totalidade estar dedicada à I&D. Mas voltemos ao tópico do artigo com que arrancou este texto - o tópico de a «China estar a retirar Investigação de Alta Tecnologia aos EUA». Na verdade, e caso não quiséssemos discutir a substância da questão, diríamos, pelo que vem dito no artigo, que não é a China que está a retirar - ou mesmo a roubar, para impressionar mais - investigação de alta tecnologia dos EUA, mas sim os EUA, ou, por exemplo, uma das «mais proeminentes empresas» do Silicon Valley, e mais especificamente o CTO (Chief Technological Officer) da Applied Materials - «o maior fornecedor do mundo de máquinas para fabrico de semicondutores, de painéis solares e de ecrãs planos» - , um tal Mark Pinto, que emigrou com a família para a China, para já para Beijng, no seu caso! Entretanto, a «Applied Materials» construiu novos e os seus maiores laboratórios de investigação na célebre cidade de Xi’an, que se situa lá para o interior daquele enorme país - célebre pelas estátuas de guerreiros em terracota com 2200 anos e possuindo, à sua conta, 47 universidades. A decisão para o estabelecimento destes laboratórios na China foi tomada depois de terem estimado que este país «ia produzir 2/3 dos painéis solares do Mundos este ano». Mais. Este sr. Pinto referiu que «os investigadores dos EUA e da Europa terão que estar disponíveis para mudarem-se para a China querendo estar na ponta em termos de trabalho na área do fabrico de equipamentos para a energia solar, já que o complexo da Applied Materials de Xi’an é o único centro de investigação dedicado à linha completa de produtos de painéis solares». E o artigo refere ainda que este não é o caso apenas desta firma. Outras - e os seus engenheiros - estão a ser «retirados» para a China à medida que «esta desenvolve uma economia de alta tecnologia que crescentemente compete com os EUA». Por exemplo - pode ainda ser lido -, a GM possui em Xangai um grande, e em crescimento, centro de investigação para o sector automóvel. Pelo seu lado, a Intel instalou em Beijing laboratórios de investigação na área dos semicondutores e dos servidores. É claro que esta é uma das direcções de integração da China na ponta da I&D a nível mundial. Outra, muito importante, é a forma como as empresas chinesas expandem pelo mundo as suas actividades de I&D. Já temos escrito a forma como os dois principais fabricantes na área das TIC - Huawei, ZTE -, cada um empregando, à sua conta, dezenas de milhares de trabalhadores em I&D, a forma, dizíamos, como têm estabelecido Centros na Ásia, nos EUA, no Japão, na Europa, para além dos diversos que possuem na China - redes «globais» de I&D em permanente cooperação e, também, incorporando estimulante factores de emulação. Enfim, todo um gigantesco mundo novo, quase insuspeitado a nível da «opinião pública» mundial!


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