
- Nº 1898 (2010/04/15)
Guantanamo
EUA sabiam da inocência dos detidos
Internacional
Os mais altos dirigentes da administração Bush sabiam que a maioria dos presos de Guantanamo estavam inocentes, mas o governo norte-americano da época recusou-se a libertar os indivíduos por razões políticas. A revelação foi feita por um ex-assessor do então secretário de Estado, Colin Powell.
De acordo com Lawrence Wilkerson, citado pelo diário britânico The Times, o antigo vice-presidente, Dick Cheney, e o ex-secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, estavam conscientes de que a quase totalidade dos 742 supostos terroristas enviados, a partir de 2002, para o campo de concentração que os EUA mantêm em Cuba, haviam sido detidos sem qualquer evidência de relação com actos violentos.
«Falei ao secretário Powell dos detidos em Guantánamo. Fiquei a saber que era da opinião que não só o vice-presidente Cheney e o secretário Rumsfeld, mas também o presidente Bush estava implicado em todo o processo de decisão relativo a Guantánamo», escreve Wilkerson numa declaração datada de 24 de Março deste ano.
No documento, anexo ao processo apresentado por Adel Hassan Hamad, um sudanês encarcerado em Guantanamo entre 2003 e 2007, que se queixa de tortura e maus-tratos perpetrados pelas autoridades norte-americanas, o assessor e ex-militar sublinha igualmente que «a maior parte [dos detidos em Guantanamo] não tinham sido presos pelas forças americanas», mas comprados pelos EUA a mercenários paquistaneses, afegãos e outros por valores entre os 3700 e os cinco mil dólares por cabeça.
«Os prisioneiros [alguns menores de idade e outros de idade já muito avançada] não eram acompanhados de nenhuma acusação» e «não havia meio de saber qual a razão da sua detenção inicial», acrescenta Wilkerson, que sustenta ainda que a Casa Branca não libertou os presos para que não fossem conhecidas as torturas, sevícias e humilhações praticadas, as quais sabiam que prejudicariam muito a administração republicana.
Para Wilkerson «[A Dick Cheney] não o preocupava que os detidos fossem inocentes» ou que «centenas de indivíduos inocentes tivessem de sofrer para se poder deter um punhado de destacados terroristas».