Os elogios de Soares

Vasco Cardoso
Os elo­gios de Mário So­ares a Passos Co­elho dizem tudo, ou quase tudo, sobre as águas por onde na­vegam os dois par­tidos com mai­ores res­pon­sa­bi­li­dades na po­lí­tica de de­sastre eco­nó­mico e so­cial que tem sido im­posta ao país nestes 34 anos.
«Muito hábil, po­li­ti­ca­mente, se­guro de si e sa­bendo o que quer e sem pressas» eis o re­trato feito pelo fun­dador do PS que ca­rac­te­rizou os dois dis­cursos de Passos Co­elho no XX­XIII Con­gresso do PSD como «sen­satos e in­te­li­gentes» acres­cen­tando que «Com Passos Co­elho não vai con­ti­nuar o clima de per­ma­nente cris­pação que criou Ma­nuela Fer­reira Leite(...) quer ver como as coisas vão evo­luir e ar­rumar, com tempo, a sua pró­pria casa».
Nas in­qui­e­tantes e pe­ri­gosas afir­ma­ções lan­çadas a partir da­quele con­gresso – mais pri­va­ti­za­ções, re­dução do valor dos sa­lá­rios, re­visão cons­ti­tu­ci­onal, novas leis elei­to­rais - Mário So­ares vê sen­satez e in­te­li­gência. Não lhe re­pugna a ideia de se ir mais longe na po­lí­tica de di­reita, da RTP ser en­tregue a um qual­quer Bal­semão, que a pró­xima re­visão cons­ti­tu­ci­onal li­quide ainda mais o acervo de di­reitos aí ins­critos, que os ma­gros sa­lá­rios ainda possam ser re­du­zidos.
É o ta­ti­cismo e a sin­ce­ri­dade de Mário So­ares a fun­ci­onar no seu mais fino re­corte, o seu sen­tido de missão junto do grande ca­pital. Sabe que o tempo, tal como afirmou o ban­queiro Ri­cardo Sal­gado (BES) du­rante o fim-de-se­mana, «não é de elei­ções». É o tempo do PS ir tão longe quanto possa na ofen­siva contra os tra­ba­lha­dores, o Povo e o país pre­vista no PEC, sendo que lá para di­ante se vão de­se­nhando as al­ter­nân­cias do cos­tume para ga­rantir que con­tinue a mesma po­lí­tica pela mão do PSD, com ou sem a mu­leta do CDS.
Num mo­mento em que se de­sen­volve a todo o vapor a velha ope­ração de «re­ci­clagem», desta feita do PSD, para que este as­suma o go­verno de­pois do tra­balho sujo do PS, e quando, si­mul­tâ­ne­a­mente, o dis­curso ultra-li­beral do PSD abre ca­minho para que al­guns mais as­sus­tados se voltem a en­costar ao PS - par­tido que tantos sa­cri­fí­cios tem im­posto ao Povo - ganha maior acu­ti­lância a afir­mação de que a questão de­ci­siva não é a da mu­dança de caras ou de Go­verno, mas sim, a de uma inequí­voca e ne­ces­sária rup­tura com esta po­lí­tica que só pode ser pro­ta­go­ni­zada com o PCP e cons­truída pela luta de massas.



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