EIS OS DADOS

«A luta vai con­ti­nuar, vai ser mais par­ti­ci­pada e vai ser mais forte»

O im­pacto da im­pres­si­o­nante ma­ni­fes­tação que, no dia 29, juntou em Lisboa mais de 300 mil pes­soas, con­tinua na ordem do dia.

Não só por ter sido uma das mai­ores ma­ni­fes­ta­ções de sempre re­a­li­zadas no nosso País – o que já não seria pouco – mas porque ela foi também uma das mais com­ba­tivas de sempre e foi, ainda, ex­pressão da adesão à luta de novos seg­mentos das massas tra­ba­lha­doras e po­pu­lares. Ou seja: deixou si­nais ini­lu­dí­veis de que a luta vai con­ti­nuar, vai ser mais par­ti­ci­pada e vai ser mais forte.

Por isso os pro­pa­gan­distas ao ser­viço dos in­te­resses do grande ca­pital e da po­lí­tica de di­reita que serve esses in­te­resses pros­se­guem ar­du­a­mente a ta­refa de a des­va­lo­rizar. A ver­dade é que eles não es­pe­ravam nem que­riam que tal ma­ni­fes­tação acon­te­cesse; não es­pe­ravam nem que­riam uma tal de­mons­tração da força or­ga­ni­zada dos tra­ba­lha­dores; não es­pe­ravam nem que­riam uma tão po­de­rosa e inequí­voca exi­bição de con­fi­ança na luta por parte da imensa mul­tidão que du­rante vá­rias horas ocupou a ca­pital do País.

Não foi por acaso que al­guns ór­gãos (ditos) de in­for­mação co­me­çaram por anun­ciar a pre­sença de «cen­tenas de pes­soas vindas de todo o País», pas­saram de­pois, pela força das cir­cuns­tân­cias e pro­cu­rando li­bertar-se do ri­dí­culo, a anun­ciar «vá­rias cen­tenas», «muitas cen­tenas», «al­guns mi­lhares»... – não lhes tendo che­gado o tempo para chegar à ver­dade...

Nem foi por acaso que a «re­por­tagem» do jornal da Sonae se fez acom­pa­nhar, na ma­ni­fes­tação, por «es­pe­ci­a­listas» em «sin­di­ca­lismo» e em «con­tagem de ma­ni­fes­tantes», de forma a poder con­cluir e mandar pu­blicar, logo no dia se­guinte, o que in­te­res­sava que fosse con­cluído e pu­bli­cado…

 

As cen­tenas de mi­lhares de tra­ba­lha­dores que fi­zeram ouvir a sua in­dig­nação e o seu pro­testo face à si­tu­ação a que estão sub­me­tidos e que gri­taram bem alto as suas exi­gên­cias e a firme de­ter­mi­nação de por elas lu­tarem não fa­lavam apenas em seu nome, antes foram in­tér­pretes e porta-vozes do sen­ti­mento de mi­lhões de por­tu­gueses ví­timas das con­sequên­cias trá­gicas da po­lí­tica de di­reita.

Mi­lhões de por­tu­gueses que não estão dis­postos a pagar uma crise que não é deles e para a qual em nada con­tri­buíram; e que, le­gi­ti­ma­mente, exigem que a dita crise seja paga por quem a criou e dela tem sido o ex­clu­sivo be­ne­fi­ciário: o grande ca­pital eco­nó­mico e fi­nan­ceiro – ao qual o go­verno de ser­viço à po­lí­tica de di­reita as­se­gura sempre que ganhe sempre, quer a si­tu­ação seja de crise quer seja de «re­toma»...

Mi­lhões de por­tu­gueses que exigem o fim da po­lí­tica de di­reita - po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal que só agrava os pro­blemas do País e que torna cada vez mais di­fícil a vida dos por­tu­gueses; po­lí­tica da des­truição do apa­relho pro­du­tivo; po­lí­tica do de­sem­prego e da pre­ca­ri­e­dade; po­lí­tica dos baixos sa­lá­rios e do roubo nos baixos sa­lá­rios; po­lí­tica das baixas pen­sões e re­formas e do roubo nas baixas pen­sões e re­formas; po­lí­tica do au­mento dos im­postos, da des­truição de di­reitos so­ciais, do en­cer­ra­mento de es­colas, da pri­va­ti­zação de ser­viços pú­blicos es­sen­ciais para as po­pu­la­ções; po­lí­tica da li­qui­dação da nossa agri­cul­tura e da nossa in­dús­tria e da pri­va­ti­zação de em­presas es­sen­ciais para a eco­nomia na­ci­onal; po­lí­tica de os­ten­sivo des­res­peito pela Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa; po­lí­tica da en­trega da in­de­pen­dência e da so­be­rania do País ao grande ca­pital in­ter­na­ci­onal.

Enfim, esta po­lí­tica que, pra­ti­cada pelo PS/​PSD/​CDS-PP há 34 anos con­se­cu­tivos – e agora bru­tal­mente agra­vada com a pres­tação do Go­verno PS/​José Só­crates - tem vindo a mas­sa­crar im­pi­e­do­sa­mente os tra­ba­lha­dores, o povo e o País, e a be­ne­fi­ciar es­can­da­lo­sa­mente os grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros.

E que, por isso mesmo, não só não tem as mí­nimas con­di­ções para re­solver a crise por ela criada, como, a con­ti­nuar, só agra­vará essa crise.

 

Daí a ne­ces­si­dade im­pe­riosa e ur­gente de subs­ti­tuir esta po­lí­tica de de­sastre por uma po­lí­tica de sal­vação do País, de subs­ti­tuir esta po­lí­tica ao ser­viço dos in­te­resses de uma es­cassa mi­noria de por­tu­gueses por uma po­lí­tica que sirva os in­te­resses da imensa mai­oria dos por­tu­gueses.

E é à luz dessa ne­ces­si­dade in­con­tor­nável que a gi­gan­tesca ma­ni­fes­tação do dia 29, en­quanto clara afir­mação da dis­po­ni­bi­li­dade de luta dos tra­ba­lha­dores, as­sume uma im­por­tância par­ti­cular.

Porque a rup­tura com esta po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal e a afir­mação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, capaz de in­verter o ca­minho para o abismo e re­lançar o País na senda do pro­gresso e da me­lhoria das con­di­ções de vida do povo, é um ob­jec­tivo só al­can­çável com a in­ten­si­fi­cação e o alar­ga­mento da luta de massas, através de uma forte in­ter­venção da classe ope­rária e dos res­tantes tra­ba­lha­dores, das po­pu­la­ções, de todos – ho­mens, mu­lheres e jo­vens – os que a po­lí­tica de di­reita fla­gela, em ma­ni­festo des­prezo pelos seus di­reitos e in­te­resses.

Eis os dados: «De um lado temos PS, PSD e CDS, ex­pressão po­lí­tica dos in­te­resses dos grupos eco­nó­micos, dos mer­cados, dos ges­tores e es­pe­cu­la­dores que estão a roubar o país, os sa­lá­rios, os re­cursos na­ci­o­nais; do outro lado está a classe ope­rária e todos os tra­ba­lha­dores, os in­te­lec­tuais, os agri­cul­tores, os pe­quenos em­pre­sá­rios, ho­mens e mu­lheres que não ab­dicam de um Por­tugal de jus­tiça so­cial, de pro­gresso, um país so­be­rano e in­de­pen­dente, um Por­tugal com fu­turo», como su­bli­nhou o ca­ma­rada Je­ró­nimo de Sousa no co­mício de Al­pi­arça.

Esses são, de facto, os pro­ta­go­nistas es­sen­ciais da luta – uma luta na qual os co­mu­nistas, hoje como sempre, ocupam a pri­meira fila.