José Gomes Ferreira

Uma testemunha participante do Século XX

Manuel Gusmão

Nasceu a 9 de Junho de 1900 e morreu a 8 de Fe­ve­reiro de 1985, este poeta atento e so­li­dário, fa­bu­lador ima­gi­noso e do­tado da­quela sa­be­doria que vem de saber olhar para si pró­prio com ironia e humor. Autor de uma obra plu­ri­fa­ce­tada e, en­tre­tanto, mar­cada por uma in­tensa e com­plexa uni­dade in­ten­ci­onal e ob­jec­tiva, José Gomes Fer­reira é so­bre­tudo um poeta, se pu­dermos en­tender a pa­lavra como in­di­cando aquele que exerce um ofício de pa­la­vras que afei­çoam um mundo e põem em con­tacto aquelas muitas e des­vai­radas gentes que em comum vivem.

A sua obra, para além da po­esia, conta com vá­rios li­vros de ficção em prosa: contos, no­velas, e um ro­mance, his­tó­rias e va­ga­bun­da­gens, cró­nicas, Aven­turas de João sem medo, pan­fleto má­gico em forma de Ro­mance (1963), O Mundo dos Ou­tros (1950), Tempo es­can­di­navo, contos (1969), O Ir­real Quo­ti­diano, his­tó­rias e in­ven­ções, 1971; es­critos di­a­rís­ticos e me­mo­ri­a­lís­ticos como Imi­tação dos dias, diário in­ven­tado (1965) Dias Co­muns, diário, I- IV. (vo­lumes iné­ditos V a XX) A me­mória das pa­la­vras I ou o gosto de falar de mim (1965) e Re­la­tório de Som­bras ou a Me­mória das pa­la­vras II (1980).

A po­esia co­meçou a reuni-la em vo­lumes que se in­ti­tu­lavam Po­esia+ um nú­mero de série (Po­esia I, II, até Po­esia VI); para pas­sarem de­pois a chamar-se Poeta Mi­li­tante 1.º vo­lume, tí­tulo que um sub­tí­tulo sig­ni­fi­ca­tivo e pro­vo­cante passou a acom­pa­nhar (Vi­agem do Sé­culo Vinte em mim) e a os­tentar a cir­cuns­tância de se tratar da «Obra Poé­tica Com­pleta» ou das «Obras Com­pletas de José Gomes Fer­reira».

Tí­tulo e sub­tí­tulo são marcas de algo que é fun­da­mental na sua poé­tica, ou seja na sua «te­oria» em acto da po­esia. A pa­lavra «mi­li­tante» vem do vo­ca­bu­lário po­lí­tico ou da po­lí­tica. Sendo a qua­li­dade pri­meira e dis­tin­tiva deste poeta, ela sig­ni­fica que o poeta tem com a po­esia e a ima­gi­nação verbal uma re­lação de com­pro­misso forte, de fi­de­li­dade ac­tiva, de atenção e cui­dado. Mas por outro lado a pa­lavra guarda da sua per­tença ao vo­ca­bu­lário po­lí­tico, pre­ci­sa­mente a ideia de que a re­lação com a po­esia e o mundo é também uma re­lação po­lí­tica.

O sub­tí­tulo, por sua vez, atribui ao poeta e à sua po­esia um papel de tes­te­munha, sin­gu­lar­mente for­mu­lado: não é o poeta que viaja ao longo do séc.XX é esse sé­culo que viaja no poeta. O que pode isto querer dizer? Por um lado, o poeta não é, en­quanto olhar e acção es­pe­cí­ficas e ex­clu­sivas, a ins­tância e o agente fun­da­mental. Por outro lado, é como se fosse o pró­prio sé­culo que, de­sen­vol­vendo-se no es­paço in­te­rior do poeta («Em mim»), dei­xasse nele im­presso os seus acon­te­ci­mentos, os seus fan­tasmas, os seus gestos e jeitos, no es­pelho ou na ma­téria im­pres­si­o­nável, como se diz da pe­lí­cula de um filme. Ide­al­mente, o poeta seria uma es­pécie de su­per­fície ou de ca­derno de re­gistos que re­co­lheria os si­nais que a vi­agem do sé­culo neles viria ins­crever.

A pas­si­vi­dade im­pres­si­o­nável do su­jeito é, en­tre­tanto, muito mais apa­rente que real. Porque se esse es­paço, que a ex­pressão «em mim» as­si­nala, é uma es­pécie de te­atro ín­timo, nele ouvem-se os ecos do existir comum, das lutas e dos com­bates co­lec­tivos; e de vá­rias formas o poeta as­sume-se mais do que como es­pec­tador, como tes­te­munha e tes­te­munha-par­ti­ci­pante, ou seja, como par­ti­ci­pante na­quilo mesmo de que dá tes­te­munho.

***

Ao longo da sua vida sempre foi da­queles que não aceitou o fas­cismo e lhe re­sistiu; com o 25 de Abril gal­va­nizou-o a es­pe­rança na eman­ci­pação co­lec­tiva. Por isso so­frerá com o de­sen­ca­dear da contra-re­vo­lução.

A 20 de Maio de 1979, par­ti­cipa em Ba­leizão, na ho­me­nagem a Ca­ta­rina Eu­fémia. Para ele como para muitos ou­tros es­cri­tores e ar­tistas, in­te­lec­tuais, de­mo­cratas e re­vo­lu­ci­o­ná­rios a Re­forma Agrária era um exemplo claro e maior da jus­teza e da ne­ces­si­dade do pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário, da ca­pa­ci­dade dos tra­ba­lha­dores as­su­mirem a or­ga­ni­zação do tra­balho, con­tro­larem as con­di­ções de pro­dução, da con­fluência das so­li­da­ri­e­dades, da efec­tiva trans­for­mação re­vo­lu­ci­o­nária do mundo e da vida.

Nos fi­nais de Se­tembro desse mesmo ano (1979) par­ti­cipa em Mon­temor no fu­neral de dois tra­ba­lha­dores ru­rais, An­tónio Maria Cas­quinha e José Ge­raldo «Ca­ra­vela», ambos da UCP Sal­vador Jo­a­quim do Pomar, as­sas­si­nados a tiros de me­tra­lha­dora pela GNR em 27 desse mês, na her­dade de Vale de Nobre, per­ten­cente à UCP Bento Gon­çalves, a cujos tra­ba­lha­dores iam prestar so­li­da­ri­e­dade. José Gomes Fer­reira foi como disse ao fu­neral e es­creveu o poema XV da sequência «Ter­midor Er­rado».

 

(Em me­mória de José Ca­ra­vela e An­tónio Maria Cas­quinha, mortos em Mon­temor-o-novo pela Guarda)

 

1

Aqui

Nesta pla­nície de sol suado

Dois ho­mens de­sa­fi­aram a morte, cara a cara,

em de­fesa do seu gado

de cornos e tetas.

 

Aqui onde

agora vejo crescer uma seara

de es­pigas pretas

 

2

 

Quando os dois cam­po­neses des­ceram às covas,

Ante os pu­nhos cer­rados de todos nós,

Chorei!

 

Sim, chorei,

Sen­tindo nos olhos a voz

do que há de mais pro­fundo

nas raízes dos ho­mens e das flores

a cor­rerem-me em lá­grimas na face.

 

Chorei pelos mortos e pelos ma­ta­dores

- almas de frio fundo.

 

Digam-me lá:

Para que ser­viria ser poeta

Se não cho­rasse

Pu­bli­ca­mente

Di­ante do mundo?

 

O ver­go­nhoso, an­ti­de­mo­crá­tico e an­ti­cons­ti­tu­ci­onal ataque à Re­forma Agrária fazia as suas pri­meiras ví­timas; José Gomes Fer­reira aper­cebia-se disso e na sua po­esia como com a sua vida dava tes­te­munho disso e pro­tes­tava. Poeta da emoção, en­quanto mo­vi­mento afec­tivo e moral, in­dig­nava-se.

Em 29 de Fe­ve­reiro de 1980, este velho mi­li­tante de es­querda, este homem de co­ração grande e ge­ne­roso, com­pa­nheiro. desde há muito, da longa jor­nada do PCP e dos seus mi­li­tantes, des­loca-se à So­eiro Pe­reira Gomes. To­mara uma de­cisão e vinha cumpri-la: ins­creve-se então no Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês. Quem o re­cebeu foi o ca­ma­rada Carlos Aboim In­glês que re­digiu a no­tícia que o Avante! pu­bli­caria na sua edição de 6 de Março.


José Gomes Fer­reira

Ca­ma­rada!

 Dia 29 de Fe­ve­reiro de 1980, pelas cinco e meia da tarde, chu­vosa, ca­mi­nhaste pelas ruas com o passo firme da tua alma grande e vi­este bater à porta da nossa Casa, na So­eiro Pe­reira Gomes. Na fala di­recta de quem pensou e se de­cidiu em cons­ci­ência dis­seste en­xu­ta­mente ao que vi­nhas: que te acei­tás­semos como membro do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês. Aos 80 anos. Em co­e­rência com toda uma vida, re­pen­sada e as­su­mida. Dando res­posta com­ba­tiva a um pre­sente que não é fácil. De olhos postos, ju­venis, no fu­turo que fa­remos, que fa­zemos.

As tuas pa­la­vras, o teu acto, tinha aquele peso e asas que pões em tudo. Sim­ples, como as coisas ver­da­deiras do co­ração. Como um acto lú­cido que se cumpre na hora, por de­ter­mi­nação de homem in­de­pen­dente que sempre foste e serás. De homem so­li­dário que és, de raiz – poeta mi­li­tante, com­pa­nheiro dos ho­mens que so­frem, so­nham e lutam. E que, juntos como os dedos da mão, de mãos dadas, hão-de chegar ao fim da es­trada e de­pois hão-de rasgar as es­tradas novas de Por­tugal livre, in­de­pen­dente, so­ci­a­lista, para os ho­mens novos que estão nas­cendo já.

Fi­cámos de te dar res­posta. E. res­sal­vando em­bora a pú­blica no­tícia, que não está nos nossos usos, mas que a luta acon­selha nestes tempos de pro­moção, de cres­ci­mento ne­ces­sário, aqui es­tamos para te res­ponder di­zendo apenas, com res­peito e ale­gria com­par­ti­lhada de­certo por todo o grande co­lec­tivo fra­ternal do nosso Par­tido – que te sau­damos, ca­ma­rada! Abril ven­cerá!

 

É este mesmo ca­ma­rada que em re­pre­sen­tação do PCP pro­fere al­gumas pa­la­vras no fu­neral de José Gomes Fer­reira:

 

Amigo José Gomes Fer­reira, amigo de nós todos:

«Homem moral» e «poeta dos factos», como de ti mesmo dis­seste um dia – foste. E por isso mesmo foste muito mais também, tanto, que me é curta a voz para dizê-lo. Irmão de sangue gémeo do teu povo, res­pi­ração so­li­dária sempre com a sua - tu foste voz alta das an­gús­tias, so­fri­mentos e tra­ba­lhos de su­ces­sivas ge­ra­ções de teus ir­mãos: tu foste cro­nista fiel dos nossos so­nhos quo­ti­di­anos e de toda a vida; tu foste uma lu­mi­nosa brasa ar­dendo na longa noite da re­sis­tência an­ti­fas­cista e anti-obs­cu­ran­tista; tu foste um dos ca­bou­queiros te­nazes da ma­dru­gada de Abril: tu foste um sábio e prá­tico vi­si­o­nário do fu­turo.

Ti­veste sempre os pés bem as­sentes, na con­creta terra nossa co­lec­tiva, vi­veste sempre de mãos dadas - e por isso, poeta in­con­fun­dível, ori­ginal, único, sou­beste falar-nos na nossa lin­guagem de ho­mens co­muns ter­renos, da­quilo que o teu alto voo per­mitia des­cor­tinar além das nu­vens e dos es­treitos ho­ri­zontes.

Foste um homem bom, um homem sim­ples, corno são os ho­mens re­al­mente grandes. Foste um amigo ver­da­deiro de inú­meros amigos. Foste ini­migo in­tran­si­gente de fi­lis­teus e abu­tres vá­rios.

Homem grande do nosso povo, fi­gura grande da nossa cul­tura, ci­dadão emi­nente da nossa iden­ti­dade na­ci­onal, vulto com di­mensão à es­cala da hu­ma­ni­dade - por isso nós todos te ad­mi­ramos, nos or­gu­lhamos de ti, e te amamos fra­ter­nal­mente.

 

Mi­nhas Se­nhoras e meus Se­nhores,
amigos, ca­ma­radas:

 

Foi este homem ín­tegro, este velho e sempre jovem com­pa­nheiro das he­róicas jor­nadas, que no dia 29 de Fe­ve­reiro de 1980, num tempo que então vi­si­vel­mente se fazia mais agreste e pe­ri­goso para nós e para Abril - foi este homem que veio pelo seu pé, com a mesma de­ter­mi­nação e na­tu­ra­li­dade, co­e­rência e co­ragem de toda a sua vida, até nós, ao Par­tido da classe ope­rária por­tu­guesa, e nele in­gressou in­teiro com a sua mo­déstia e gran­deza. Não bus­cava a glória, porque já era glo­rioso. Vinha apenas dar-se, como os co­mu­nistas se dão. Ao seu povo, à nossa grande causa eman­ci­pa­dora dos ho­mens.

Sa­bemos que fi­cámos, nós e ele, mais ricos e mais fortes nesse dia, para esta luta que con­tinua e hoje tem de con­ti­nuar com acres­cida de­cisão e con­fi­ança. Para ele, foi o acto cí­vico cul­mi­nante da sua vida de homem in­de­pen­dente até à morte, foi a ló­gica opção de­fi­ni­tiva da sua obra de poeta mi­li­tante. Mi­li­tante de raiz, de flores, de frutos, de se­mentes.

Creio que foi para muitos mais uma lição exem­plar que nos legou. Para nós, co­mu­nistas por­tu­gueses, foi mais uma imensa ale­gria.

 

Ca­ma­rada poeta Zé Gomes

 

Vi­emos aqui acom­pa­nhar-te para o der­ra­deiro adeus. Mas nós não po­demos, e não que­remos, dizer adeus aos nossos ir­mãos. E porque em cada um de nós, em todos, se man­terá vivo algo da tua obra, pa­tri­mónio que é do nosso povo e da nossa pá­tria; porque em nós, em nossos fi­lhos, pelos sé­culos, per­du­rará in­fa­ti­gável a tua es­pe­rança mi­li­tante - ainda não é hoje que te di­remos adeus. Di­zemos-te, tão-so­mente, até amanhã, ca­ma­rada - porque tu hás-de ir con­nosco até ao fim da es­trada, até esse amanhã de li­ber­dade, de jus­tiça, de fe­li­ci­dade pelo qual lu­taste toda a tua vida, pelo qual con­ti­nu­amos a lutar hoje, pelo qual lu­ta­remos sempre, e que ha­vemos de al­cançar e cons­truir. Abril ven­cerá, Abril fru­ti­fi­cará, podes estar certo disso, Zé Gomes.

 

Como re­pa­ramos, o ca­ma­rada Carlos Aboim In­glês pro­mete que a me­mória de José Gomes Fer­reira não se per­derá nem des­va­ne­cerá, porque ao es­co­lher o lado em que queria estar e es­teve – o lado da classe ope­rária, dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês – José Gomes Fer­reira con­quistou um lugar na nossa me­mória; e nós, co­mu­nistas por­tu­gueses, somos aqueles que não es­que­cemos os nossos e todos aqueles que nos acom­pa­nharam no tra­balho, no pro­testo e na luta, no pro­jecto e na es­pe­rança de uma co­mu­ni­dade de tra­ba­lha­dores so­be­ranos, uma co­mu­ni­dade eman­ci­pada que será a única capaz de citar os nomes de todos os seus.

Hoje ao re­cor­darmos José Gomes Fer­reira, vinte e cinco anos pas­sados sobre a sua morte, re­cor­damo-lo como um poeta in­ten­sa­mente so­li­dário, sempre que di­zemos um poema seu. A sua po­esia aí está à es­pera de ser lida ou re­lida. A se­guir à morte, um véu es­pesso de des­caso e es­que­ci­mento cos­tuma, entre nós, es­conder a obra de muitos po­etas. So­bre­tudo, quando é o caso da­queles que du­rante a vida,es­co­lheram estar ao lado dos tra­ba­lha­dores, acon­tece que uma certa his­to­ri­o­grafia ofi­cial não re­vela in­te­resse por lê-los e va­lo­rizá-los. En­tre­tanto, no caso de José Gomes Fer­reira, a sua obra re­co­meça a en­con­trar a re­lei­tura atenta, in­te­li­gente e com­pe­tente de per­so­na­li­dades da crí­tica de ge­ra­ções uni­ver­si­tá­rias mais re­centes.

Re­gistem-se dois exem­plos. O pri­meiro é o do en­saio «Po­esia e Au­to­grafia em José Gomes Fer­reira» que Rosa Maria Mar­telo, da Fa­cul­dade de Le­tras da Uni­ver­si­dade do Porto, in­tegra no seu livro Em parte in­certa – es­tudos de po­esia por­tu­guesa mo­derna e con­tem­po­rânea (2004). En­ten­dendo a obra de José Gomes Fer­reira «como um ex­tenso auto-re­trato, cons­ti­tuído através de um jogo de re­mis­sões ex­tre­ma­mente ela­bo­rado e com­plexo», a au­tora es­tuda as re­la­ções exis­tentes entre os versos e os pa­rên­teses que surgem no início ou no fim dos po­emas de José Gomes Fer­reira, e fa­lará do «re­co­nhe­ci­mento da exis­tência de uma re­lação inex­tri­cável entre po­esia e cir­cuns­tan­ci­a­li­dade, num sen­tido que abrange quer acon­te­ci­mentos po­lí­ticos de fortes re­per­cus­sões na­ci­o­nais e mun­diais quer acon­te­ci­mentos apa­ren­te­mente ir­re­le­vantes como "o pon­tapé numa pedra, o medo de atra­vessar o cor­redor às es­curas, a flor pi­sada (…) e prin­ci­pal­mente essa coisa ne­nhuma que é o ali­mento dos po­etas vo­razes"». E con­tinua:

«Tão atenta ao quo­ti­diano mais ime­diato ou pes­soal quanto aos grandes acon­te­ci­mentos po­lí­tico-so­ciais que mar­caram o sé­culo XX, a obra poé­tica de José Gomes Fer­reira abarca um campo de enorme di­ver­si­dade, en­con­trando como con­dição de uni­dade pre­ci­sa­mente o auto-re­trato do poeta mi­li­tante, sendo este úl­timo en­ten­dido como «um homem que cum­prisse apenas o ofício na­tural de re­agir po­e­ti­ca­mente pe­rante a vida».

O se­gundo exemplo é o de uma tese de dou­to­ra­mento, apre­sen­tada e de­fen­dida por Ca­rina In­fante do Carmo, em 2007, na Uni­ver­si­dade do Al­garve, onde é ac­tu­al­mente pro­fes­sora, e que foi re­cen­te­mente pu­bli­cada, já em 2010, A mi­li­tância me­lan­có­lica ou a fi­gura de autor em José Gomes Fer­reira.

Es­tu­dando por sua vez o ca­rácter au­to­bi­o­grá­fico, a di­a­rís­tica e as me­mó­rias na obra de José Gomes Fer­reira e de­di­cando atenção aos modos de cons­trução da sua po­esia e ao jogo com a fi­gura do autor, aca­bará assim as suas «efle­xões fi­nais»:

«[…] Em José Gomes Fer­reira fun­ciona «sempre o mesmo pên­dulo de arame no co­ração» a re­per­cutir o fulgor ilu­mi­nado da es­pe­rança e a fan­tas­ma­goria das som­bras e do bolor. Por essa via, a per­so­nagem do autor acom­panha e in­tegra o mo­vi­mento per­pétuo do mundo, sem es­va­ziar ou des­ligar a me­mória pes­soal da co­lec­tiva e, na­tu­ral­mente sem es­ca­mo­tear a in­venção a que todo o exer­cício au­to­bi­o­grá­fico dá lugar.»

Con­ti­nu­a­remos a ler-te, ca­ma­rada.

 



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