Acampamento pela paz em Avis

O futuro constrói-se aqui e agora!

Gustavo Carneiro

In­se­rido na cam­panha «Paz Sim! NATO Não!» e com o ob­jec­tivo de di­vulgar o 17.º Fes­tival Mun­dial da Ju­ven­tude e dos Es­tu­dantes – que tem lugar em De­zembro em Jo­a­nes­burgo, na África do Sul –, re­a­lizou-se no fim-de-se­mana, em Avis, um acam­pa­mento com mais de 250 jo­vens de todo o País.

Dia 20 de No­vembro re­a­liza-se em Lisboa uma ma­ni­fes­tação contra a NATO

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Du­rante dois dias e duas muito longas noites, o Acam­pa­mento pela Paz deixou bem claro o apego dos jo­vens por­tu­gueses aos va­lores mais avan­çados e pro­gres­sistas al­guma vez cri­ados pela Hu­ma­ni­dade e a sua von­tade in­que­bran­tável de moldar o fu­turo à imagem dos seus so­nhos e as­pi­ra­ções mais pro­fundas – um fu­turo onde os di­reitos, a li­ber­dade, a re­a­li­zação pes­soal e a paz ocu­parão sempre um lugar ci­meiro.

Muitos, de tão jo­vens, não te­riam de todos estes va­lores e causas mais do que muito ru­di­men­tares no­ções. Mas ali apren­deram con­ceitos, ci­men­taram con­vic­ções e, como sempre acon­tece neste tipo de re­a­li­za­ções (e que não é menos im­por­tante do que o resto) fi­zeram ami­zades, apro­fun­daram re­la­ções, sen­tiram-se ainda mais parte de um todo. 

 Mas de­sen­gane-se quem pensar que este foi um acam­pa­mento muito ar­ru­ma­dinho, cons­ti­tuído por jo­vens muito cer­ti­nhos. Os que ali es­ti­veram fi­zeram o mesmo que fazem ou­tros jo­vens nou­tras ac­ções se­me­lhantes: di­ver­tiram-se, muito, com o ca­rácter de ur­gência que os ca­rac­te­riza. Fi­zeram foi muito mais do que isso e é aí que está a grande di­fe­rença!

 No final da tarde de sexta-feira eram ainda poucas as tendas mon­tadas na área re­ser­vada ao Acam­pa­mento pela Paz no Parque de Cam­pismo de Avis, junto à Al­bu­feira do Ma­ra­nhão. Os par­ti­ci­pantes foram che­gando à me­dida que a noite avan­çava, para logo se apo­de­rarem da­quele que seria o seu es­paço du­rante os dois dias se­guintes. Uma vez ins­ta­lados, foram para a festa que ali perto se fazia e que durou até altas horas da ma­dru­gada.

Talvez contra todas as ex­pec­ta­tivas, mesmo as mais pes­si­mistas – dada a festa de ar­romba da noite an­te­rior – na manhã se­guinte lá es­tavam, mais ou menos frescos, a par­ti­cipar nos tor­neios de fu­tebol e vo­leibol, no peddy-paper ou a pra­ticar ca­no­agem. À tarde, pese em­bora os mais de 40 graus que se fa­ziam sentir, foram mais de cem os par­ti­ci­pantes no vivo de­bate sobre A luta da ju­ven­tude contra o im­pe­ri­a­lismo, que durou mais de duas horas.

À noite, e de­pois de muitos irem a ba­nhos, os cam­pistas ru­maram ao salão da Junta de Fre­guesia do Er­vedal para jantar. Foi então que Ma­nuel Co­elho, pre­si­dente da Câ­mara Mu­ni­cipal de Avis, saudou os par­ti­ci­pantes no acam­pa­mento, lem­brando que o mu­ni­cípio não po­deria deixar de se as­so­ciar aos ob­jec­tivos da cam­panha «Paz Sim! NATO Não!» e do 17.º Fes­tival Mun­dial da Ju­ven­tude e dos Es­tu­dantes. Já Valter Lóios, da In­ter­jovem/​CGTP-IN (uma das or­ga­ni­za­ções pro­mo­toras do acam­pa­mento), re­alçou que a «ver­da­deira paz só existe com di­reitos para todos, e só du­rará se der­ro­tarmos este sis­tema in­justo e ir­ra­ci­onal». De­pois do jantar, nova festa, com mú­sica, te­atro, in­ter­venção po­lí­tica e muita ani­mação.

A manhã de do­mingo ficou mar­cada por uma vi­sita ao centro his­tó­rico de Avis e ao início da tarde os au­to­carros co­me­çaram a partir, de­vol­vendo os jo­vens aos seus lo­cais de origem. Na ba­gagem le­varam novos amigos e con­vic­ções re­for­çadas para pros­se­guir a luta pela cons­trução do seu fu­turo.

 

Dis­so­lução da NATO

Exi­gência do nosso tempo

 

 O Acam­pa­mento pela Paz in­seriu-se na Cam­panha «Paz Sim! NATO Não!», lan­çada em Ja­neiro por vá­rias or­ga­ni­za­ções na­ci­o­nais das mais va­ri­adas áreas de in­ter­venção. A causa pró­xima que lhe dá origem é a re­a­li­zação no nosso País de uma ci­meira da NATO em No­vembro, mas a cam­panha não se fica por aqui e a dis­so­lução da NATO consta das exi­gên­cias dos seus pro­mo­tores.

 No apelo lan­çado às or­ga­ni­za­ções para que se juntem à cam­panha, já subs­crito por mais de cem es­tru­turas, estão claros os ob­jec­tivos: «ex­pressar a opo­sição da po­pu­lação por­tu­guesa à re­a­li­zação da ci­meira da NATOre­ti­rada das forças por­tu­guesas en­vol­vidas em mis­sões mi­li­tares da NATO; re­clamar o fim das bases mi­li­tares es­tran­geiras e das ins­ta­la­ções da NATO em ter­ri­tório na­ci­onal; exigir a dis­so­lução da NATO; exigir o de­sar­ma­mento e o fim das armas nu­cle­ares e de des­truição ma­ciça; exigir às au­to­ri­dades por­tu­guesas o cum­pri­mento das de­ter­mi­na­ções da Carta das Na­ções Unidas e da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, em res­peito pelo di­reito in­ter­na­ci­onal, pela so­be­rania e igual­dade dos povos.»  e aos seus ob­jec­tivos be­li­cistas; exigir ao Go­verno a

Nesse do­cu­mento, afirma-se que a NATO é uma «ali­ança mi­litar agres­siva», que cons­titui uma «ex­tensão do poder mi­litar dos EUA» e actua «em função dos seus in­te­resses». A sua for­mação, em 1949, pouco após o fim da Se­gunda Guerra Mun­dial e seis anos antes do Pacto de Var­sóvia, «marcou o início da Guerra Fria e a sub­missão dos países da Eu­ropa Oci­dental aos in­te­resses es­tra­té­gicos norte-ame­ri­canos».

Hoje, mais de seis dé­cadas de­pois, a Ali­ança «mantém o mundo refém da cor­rida aos ar­ma­mentos, da ameaça de guerra e do terror nu­clear». Se ao início a NATO ainda se afir­mava como «de­fen­siva», de­pois de 1991 jus­ti­ficou a sua con­ti­nu­ação e re­forço com o pre­texto de «as­se­gurar a “se­gu­rança global”», tor­nando-se aber­ta­mente uma or­ga­ni­zação «ofen­siva, apos­tada em es­magar os di­reitos dos povos, vi­olar as so­be­ra­nias na­ci­o­nais, sub­verter o di­reito in­ter­na­ci­onal e so­brepor-se à Or­ga­ni­zação das Na­ções Unidas». Ou seja, pros­segue o texto, «quando os povos an­si­avam pela sua ex­tinção, a NATO in­ventou novos alvos, au­mentou o nú­mero de países mem­bros e os efec­tivos, abeirou-se das fron­teiras da Rússia e da China. A sua pre­sença no pla­neta am­pliou-se através de uma rede de bases mi­li­tares, de novos co­mandos e par­ce­rias que se es­tendem ao Atlân­tico Sul, à África e ao Oceano Índico».

Os pro­mo­tores da Cam­panha alertam ainda para a «cres­cente mi­li­ta­ri­zação da Eu­ropa» e para a trans­for­mação da União Eu­ro­peia em «pilar eu­ropeu da NATO». Os go­vernos por­tu­gueses não es­capam à crí­tica, pelos com­pro­missos as­su­midos com a Ali­ança – que in­cluem a ce­dência de bases e ins­ta­la­ções mi­li­tares e a aber­tura do es­paço aéreo a mis­sões da NATO. Os mi­lhões de euros gastos com a adap­tação das forças ar­madas às exi­gên­cias da Ali­ança e os con­tin­gentes que põe ao ser­viço das suas «aven­turas mi­li­tares» são também re­pu­di­ados.

A Cam­panha «Paz Sim! NATO Não!» pro­move, no dia 20 de No­vembro, uma grande ma­ni­fes­tação em Lisboa.



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