Fugas…

Ângelo Alves

A pu­bli­cação de do­cu­mentos mi­li­tares se­cretos dos EUA res­pei­tantes à guerra do Afe­ga­nistão tem im­por­tância. Não tanto pela in­for­mação tor­nada pú­blica – em geral dados, in­for­ma­ções e re­latos já vei­cu­lados no pas­sado por ou­tros meios – mas pelo facto de virem mais uma vez con­firmar al­gumas das acu­sa­ções feitas ao longo dos anos pelo PCP e muitos ou­tros. Lá estão nestes do­cu­mentos as bri­gadas se­cretas com li­cença para matar; as pri­sões se­cretas; os mas­sa­cres de civis, ente os quais cri­anças; as trans­for­ma­ções de der­rotas mi­li­tares dos EUA em «aci­dentes» e lá está o pân­tano mi­litar em que se en­con­tram as tropas ocu­pantes. Em suma, as provas de uma guerra as­sas­sina sem fim à vista e do ter­ro­rismo de Es­tado pra­ti­cado pela NATO e pelos EUA.

Mas se aqueles que pu­bli­caram na In­ternet os 91 mil do­cu­mentos se­cretos (e que afirmam ter em seu poder mais do­cu­mentos) pro­ce­deram de acordo com os seus ob­jec­tivos – di­vulgar in­for­mação se­creta à qual têm acesso através de vá­rias «fontes» – há uma in­ter­ro­gação que é le­gí­tima. Como e porquê agora uma tão mas­siva fuga de in­for­mação se­creta pro­ve­ni­ente de es­tru­turas como o Pen­tá­gono e o DOD, as es­tru­turas mi­li­tares mais bem guar­dadas e com mais do­mínio das novas tec­no­lo­gias do mundo? A res­posta po­derá nunca ser en­con­trada, mas o facto de o grande des­taque desta fuga de in­for­mação estar a ser dado à su­posta co­la­bo­ração do Pa­quistão com os Ta­liban e de o New York Times, no seu edi­to­rial de terça-feira, clamar em tom de ameaça por uma pressão de Obama sobre Is­la­mabad são fac­tores a ter em conta na aná­lise do con­teúdo e do ti­ming desta fuga de in­for­mação, assim como na re­flexão sobre a sua «uti­li­dade» na es­tra­tégia de re­gi­o­na­li­zação da guerra do Afe­ga­nistão e na con­cre­ti­zação de co­nhe­cidos pro­jectos de «bal­ca­ni­zação» quer do Afe­ga­nistão quer do Pa­quistão.

Como se disse, este acon­te­ci­mento tem im­por­tância. Mas, num quadro em que é mais do que evi­dente a es­ca­lada da «Nobel» Ad­mi­nis­tração Obama vi­sando países como o Irão ou a Co­reia do Norte, a His­tória e a re­a­li­dade en­sinam-nos (e estes do­cu­mentos voltam a prová-lo) que para pros­se­guir os seus ob­jec­tivos o im­pe­ri­a­lismo re­corre a tudo… in­clu­sive a fugas con­tro­ladas de in­for­mação.



Mais artigos de: Opinião

O pai da política de direita

Às terças-feiras, infalivelmente, Mário Soares enche, de cabo a rabo, uma página do Diário de Notícias (só legível por dever de ofício, diga-se, em abono da verdade). Ali, Soares, de espada em riste, trava a semanal cruzada na defesa daquela que é,...

Em português nos entendemos

«Nós somos pela estabilidade no emprego!», respondeu, sem pestanejar, Passos Coelho à jornalista que lhe perguntou pelos motivos para defender o fim da proibição do despedimento sem justa causa. Sócrates, o primeiro-ministro do Código do Trabalho, do desemprego, das...

Já basta!

(...) «Basta de gente que ganha num dia aquilo que outros ganham num ano. Tem que haver alguém que ponha cobro a isto e que tenha coragem.» (...) «O investimento deve ser feito em bens verdadeiramente úteis e não em realidades virtuais, que estiveram na base da crise financeira...

Liberdade comercial

A Wells Fargo, uma das maiores instituições financeiras dos EUA, confessou em tribunal que a sua unidade bancária Wachovia «não havia monitorizado e participado [às autoridades] suspeitas de lavagem de dinheiro por parte de narco-traficantes» (Bloomberg, 29.6.10). O montante...

Regionalização – entre as palavras e os actos

Re­cor­ren­te­mente, di­tada quase sempre por ra­zões de dis­persão de aten­ções de ou­tras e mais ins­tantes ques­tões, o tema da re­gi­o­na­li­zação é re­ti­rado da for­çada hi­ber­nação a que a po­lí­tica de di­reita o con­denou e rein­tro­du­zido na agenda po­lí­tica.