«O sacrifício americano»

José Casanova

Obama anun­ciou a re­ti­rada, até final de Agosto, de parte dos sol­dados norte-ame­ri­canos que ocupam o Iraque. A ocupar o país ficam, agora, apenas 50 mil sol­dados. Isto porque, ex­plica o Prémio Nobel da Paz no seu lin­guajar im­pe­rial, «a triste re­a­li­dade é que ainda não vamos ver o fim do sa­cri­fício ame­ri­cano no Iraque».

São uns sa­cri­fi­cados estes «ame­ri­canos»: sempre, sempre a se­mear de­mo­cracia, li­ber­dade e di­reitos hu­manos por tudo quanto é sítio - numa se­men­teira de sa­cri­fí­cios que, no Iraque, pro­vocou a des­truição do país e a morte de cen­tenas de mi­lhares de ho­mens, mu­lheres e cri­anças ino­centes.

Aliás, o «sa­cri­fício ame­ri­cano» não é de hoje: tem tantos anos de idade quantos tem a am­bição do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano de do­mínio do mundo, com o im­pla­cável vale-tudo a que é uso re­correr para con­cre­tizar essa am­bição.

Como é sa­bido, foi com grande «sa­cri­fício» que, faz agora 65 anos, os EUA lan­çaram as bombas ató­micas sobre Hi­roshima e Na­ga­sáqui – três meses de­pois da ren­dição de Hi­tler e quando o Japão es­tava ir­re­me­di­a­vel­mente ven­cido. Foi com igual «sa­cri­fício» que os bom­bar­deiros norte-ame­ri­canos es­pa­lharam a de­vas­tação e a morte no Vi­etnam. Foi com esse mesmo «sa­cri­fício» que os su­ces­sivos go­vernos norte-ame­ri­canos ins­ta­laram no poder e apoi­aram di­ta­duras fas­cistas um pouco por todo o mundo - e não nos es­que­çamos que o fas­cismo sa­la­za­rista/​ca­e­ta­nista teve o sa­cri­fi­cado apoio dos EUA até ao dia 24 de Abril de 1974. Foi ainda desse «sa­cri­fício» que nasceu há 50 anos o cri­mi­noso blo­queio a Cuba e, há um ano, o golpe fas­cista nas Hon­duras e, mais re­cen­te­mente, a ocu­pação da Costa Rica e as su­ces­sivas pro­vo­ca­ções contra os povos que na Amé­rica La­tina de­ci­diram ser donos do seu pró­prio des­tino. E por aí fora, numa su­cessão de «sa­cri­fí­cios» que deixa atrás de si um rasto de des­truição e morte – a bar­bárie.

O «sa­cri­fício ame­ri­cano» - sempre com con­sequên­cias trá­gicas para mi­lhões de ci­da­dãos não norte-ame­ri­canos - é uma ex­pressão que, de tantas vezes uti­li­zada pelos vá­rios pre­si­dentes dos EUA ao longo da his­tória, bem pode passar a cons­ti­tuir o re­frão do hino na­ci­onal da­quele país.



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