Comunistas de Almada contra a intimidação

O mural é uma arma

Gustavo Carneiro

A his­tória é sim­ples, mas exem­plar. A cé­lula do PCP na au­tar­quia de Al­mada pintou nos úl­timos meses vá­rios mu­rais por todo o con­celho, que foram su­ces­si­va­mente van­da­li­zados. A res­posta dos co­mu­nistas foi de­ter­mi­nada: repor os mu­rais da­ni­fi­cados, acres­cen­tando-lhes ou­tros novos.

 

À co­barde in­ti­mi­dação, os co­mu­nistas res­pondem com a de­ter­mi­nação

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Foi no dia 6 a úl­tima grande jor­nada de pin­tura de mu­rais em Al­mada. Ao final da tarde, de­zenas de mi­li­tantes do Par­tido e da JCP dis­tri­buíram-se por cinco lo­cais e pu­seram mãos à obra na re­po­sição de ou­tros tantos mu­rais, re­cen­te­mente da­ni­fi­cados. À noite, foram pro­du­zidos mais dois, iné­ditos.

Cum­pria-se assim a «pro­messa» dei­xada na se­mana an­te­rior pela Co­missão Con­ce­lhia de Al­mada do Par­tido que, re­a­gindo à van­da­li­zação das pin­turas, in­for­mava que, «como su­cedeu nou­tras oca­siões, vol­ta­remos a pintar os mu­rais des­truídos, aos quais so­ma­remos ou­tros novos. A in­ti­mi­dação não re­sulta com o PCP, pelo con­trário, dá-nos mais força para pros­se­guir o nosso com­bate».

Esta não foi a pri­meira vez que os co­mu­nistas de Al­mada se viram for­çados, nos úl­timos meses, a re­pintar mu­rais van­da­li­zados. Mas nunca como desta vez ti­veram que repor tantos em tão pouco tempo – porque nunca ti­nham sido todos des­truídos numa mesma noite.

Nos mu­rais re­cons­ti­tuídos acres­centou-se um novo ele­mento, uma es­pécie de «selo» com uma fi­gura hu­mana em­pu­nhando uma ban­deira ver­melha, com o sím­bolo do Par­tido e a ins­crição E a cada novo as­salto/ cada es­ca­lada fas­cista/ su­birá sempre mais alto/ a ban­deira co­mu­nista (o mesmo de­senho que serviu de base a um dos novos mu­rais). Se dú­vidas res­tassem, esta «as­si­na­tura» tra­tava de as dis­sipar: os co­mu­nistas não bai­xarão os braços e não dei­xarão nunca de afirmar o seu pro­jecto, as suas pro­postas e os seus ideais. Custe o que custar.

 

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De­ter­mi­nação de sobra

 

A pin­tura de mu­rais po­lí­ticos por parte dos co­mu­nistas é uma prá­tica an­tiga, mas os desta série nem têm um ano. Tudo co­meçou em Ou­tubro do ano pas­sado, quando vá­rios ele­mentos da Ju­ven­tude CDU que pin­tavam uma pa­rede junto a uma es­tação fer­ro­viária do con­celho foram iden­ti­fi­cados pela po­lícia e im­pe­didos de ter­minar a sua obra. Poucos dias de­pois, a cé­lula dos tra­ba­lha­dores co­mu­nistas da au­tar­quia de Al­mada de­cidiu apoiar os jo­vens, jun­tando-se a eles – daí re­sul­taram duas pin­turas, lado a lado. A da Ju­ven­tude CDU e a pri­meira le­vada a cabo pela cé­lula.

Como con­taram ao Avante! al­guns dos en­vol­vidos, «ficou o bi­chinho» e, em Março deste ano, a cé­lula re­solveu as­si­nalar o 89.º ani­ver­sário do Par­tido com um grande mural numa das mais mo­vi­men­tadas praças da ci­dade: Com o PCP, Lutar e Vencer, ins­cre­veram. Até à pri­meira van­da­li­zação deste mural (já foi da­ni­fi­cado vá­rias vezes), os tra­ba­lha­dores co­mu­nistas da au­tar­quia não ti­nham a in­tenção de levar a cabo tão in­tensa ac­ti­vi­dade «ar­tís­tica».

Mas, como afirmou um dos mem­bros da cé­lula, «não po­díamos deixar assim o mural e de­ci­dimos repô-lo!». E de­ci­diram mais, acres­centou outro: por cada pin­tura des­truída seria feita uma nova! Sur­giram assim os mu­rais co­me­mo­ra­tivos dos 140 anos do nas­ci­mento de Lé­nine e dos 120 anos do 1.º de Maio e o mais re­cente, de pro­moção da Festa do Avante!.

Quando o pri­meiro mural foi des­truído, con­fes­saram al­guns, sentiu-se «al­guma frus­tração e de­sâ­nimo» no seio da cé­lula. Mas ra­pi­da­mente estes sen­ti­mentos deram lugar à de­ter­mi­nação de não deixar aos co­bardes a úl­tima pa­lavra. De­pois da acção de dia 6, cer­ta­mente que esses fi­caram a saber (se não o sa­biam já) que essa per­ten­cerá sempre aos co­mu­nistas!

 

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Armas de luta

 

Os ele­mentos da cé­lula que fa­laram ao Avante! só vêem van­ta­gens nesta sua acção. Os mu­rais «obrigam as pes­soas a pensar», re­feriu um dos mi­li­tantes, en­quanto que outro pre­feriu falar de «afir­mação da cé­lula, para dentro da au­tar­quia e para o ex­te­rior». Todos con­cordam que se trata também de uma ex­ce­lente forma de de­mons­trar o vigor do Par­tido, cujos mi­li­tantes estão na rua, a dar a cara.

Mas a pin­tura de mu­rais tem sido im­por­tante para o pró­prio fun­ci­o­na­mento da cé­lula, ga­rantem os seus mem­bros. Em pri­meiro lugar, ao per­mitir o es­trei­ta­mento dos laços pes­soais. «As pró­prias reu­niões correm me­lhor desde então», as­se­gura um dos ele­mentos. A or­ga­ni­zação ne­ces­sária à pin­tura dos mu­rais obriga a uma me­lhor e mais alar­gada dis­tri­buição das ta­refas no in­te­rior do co­lec­tivo e o poder de atracção que esta acção exerce sobre ou­tros mi­li­tantes fora da cé­lula – e de ou­tros tra­ba­lha­dores da au­tar­quia, não co­mu­nistas – são também re­fe­ridos como trunfos da pin­tura de mu­rais.

Noutra coisa todos con­cordam: a cé­lula do Par­tido na au­tar­quia de Al­mada (Câ­mara e ser­viços mu­ni­ci­pa­li­zados) não é um grupo de pin­tores de pa­redes. É uma or­ga­ni­zação do PCP que reúne com re­gu­la­ri­dade, dis­cute a si­tu­ação da au­tar­quia e do País, emite e dis­tribui co­mu­ni­cados, or­ga­niza e mo­bi­liza para a luta dos tra­ba­lha­dores. Que se trava também com pin­céis, sprays e moldes.

 

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Em Al­mada como no Porto

Exercer os di­reitos

 

Para além de tor­narem as pa­redes da ci­dade mais bo­nitas e in­ter­ven­tivas, os mu­rais do PCP são, em si mesmo, uma forma de de­fender os di­reitos con­quis­tados com Abril. «Temos que usar a li­ber­dade que temos, senão...», deixa es­capar uma mi­li­tante co­mu­nista da cé­lula da au­tar­quia de Al­mada.

Nas vá­rias jor­nadas já re­a­li­zadas, os co­mu­nistas de Al­mada le­varam sempre con­sigo a le­gis­lação que pro­tege e sal­va­guarda esta forma de li­ber­dade de ex­pressão po­lí­tica. Mas, con­fessam, nunca mais vol­taram a ter pro­blemas com a po­lícia.

O mesmo não podem dizer os co­mu­nistas do Porto, que re­cen­te­mente foram im­pe­didos pela Po­lícia Mu­ni­cipal de pintar um mural no vi­a­duto da ro­tunda do Bessa. Entre os pin­tores es­tavam os de­pu­tados Jorge Ma­chado e Ilda Fi­guei­redo. Na­quela ci­dade existe um «re­gu­la­mento» mu­ni­cipal que res­tringe a afi­xação de pro­pa­ganda, o que o PCP con­testa. Como afirmou à co­mu­ni­cação so­cial pre­sente Jaime Toga, da Co­missão Po­lí­tica, a pro­pa­ganda po­lí­tica «não ca­rece de li­cen­ci­a­mento» e está de­fen­dida pela Cons­ti­tuição da Re­pú­blica.



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