My name is Silva

Anabela Fino

Se um destes dias al­guém se lem­brar de pro­duzir uma versão na­ci­onal das co­nhe­cidas sé­ries do mais fa­moso agente bri­tâ­nico do ci­nema não terá de dar voltas à ima­gi­nação para subs­ti­tuir o ce­le­bér­rimo «my name is Bond, James Bond». A questão ficou re­sol­vida esta se­mana, graças a uma en­tre­vista pu­bli­cada no jornal i, que teve o mé­rito de des­vendar mais uma das inú­meras qua­li­dades do ac­tual mi­nistro da De­fesa ou, como em breve se verá se so­brar uma réstia de co­ragem em­pre­en­de­dora cá pelo burgo, do fu­turo agente se­creto ao ser­viço da nação. «O meu nome é Silva, Au­gusto Silva» tem tantas pos­si­bi­li­dades de con­quistar pla­teias que não se per­cebe como é que a in­dús­tria ci­ne­ma­to­grá­fica – ou no mí­nimo a te­le­vi­siva – não se pôs já em mo­vi­mento para ex­plorar o filão. O ar­gu­mento de es­treia está pra­ti­ca­mente feito: um mi­nistro da De­fesa de sor­riso enig­má­tico, com voz me­lí­flua e ir­re­pre­en­si­vel­mente ves­tido, mas que não des­denha «ma­lhar» nos ad­ver­sá­rios – sem nunca se des­pen­tear! – quando os in­te­resses do par­tido (que no caso é como se fossem os do País) são be­lis­cados, anuncia urbi et orbi ci­dade e ao mundo, para quem não está fa­mi­li­a­ri­zado com la­ti­nices...) que vai mandar es­piões mi­li­tares para os pontos quentes do pla­neta onde se joga o fu­turo da ci­vi­li­zação cristã e oci­dental. O ob­jec­tivo de tal anúncio é in­son­dável, como convém aos grandes de­síg­nios, mas não se du­vide de que ser­virá para api­mentar a in­sí­pida vida que os agentes de in­for­mação cer­ta­mente levam em países como o Lí­bano ou o Afe­ga­nistão. De­pois é só acres­centar umas louras ou mo­renas como agentes de di­versão, uns maus da fita con­ve­ni­en­te­mente árabes e/​ou asiá­ticos, uns quantos aten­tados e muita, muita ma­lhação de que o nosso herói sairá sempre in­có­lume após a má­gica frase «o meu nome é Silva, Au­gusto Silva».

Para dar um toque in­te­lec­tual à coisa pode-se con­vidar Mar­celo Re­belo de Sousa, que num rasgo de ori­gi­na­li­dade há-de en­con­trar ma­neira de dizer – como fez no do­mingo a pro­pó­sito do «braço-de-ferro» entre PS e PSD sobre o pro­jecto de re­visão cons­ti­tu­ci­onal – que o ar­gu­mento «não lembra ao ca­reca», ob­vi­a­mente uma lin­guagem de có­digo que dei­xará os ca­be­ludos ini­migos de ca­beça à roda.



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