- Nº 1917 (2010/08/26)
Nos 60 anos do início da guerra da Coreia

Notas sobre a continuada agressão imperialista

Temas

Cumpriu-se no passado dia 25 de Junho o sexagésimo aniversário do início da guerra na península coreana. A campanha em curso contra a República Popular Democrática da Coreia e o perigo de um novo conflito de consequências imprevisíveis na região obrigam a revisitar alguns factos da história do território, que nos últimos 60 anos tem sido alvo de permanentes agressões imperialistas.

Image 5478

Num artigo recentemente publicado no sítio do Partido Comunista do Brasil, o historiador e secretário-geral da Fundação Maurício Grabóis, Augusto Bonicore, recorda os momentos fundamentais do início da contenda na península coreana, marcado, à nascença, pela ingerência imperialista.

A guerra da Coreia foi o primeiro conflito armado entre os campos socialista e imperialista no rescaldo da Segunda Grande Guerra Mundial e fez parte da reacção das principais potências capitalistas à vaga emancipadora dos povos que, após a derrota do nazi-fascismo, alastrava pelo globo. Nela foram usados os métodos mais bárbaros, mas, não obstante, o imperialismo norte-americano acabou por sofrer a sua primeira derrota militar. O desaire é até aos dias de hoje uma espinha cravada na garganta do imperialismo mundial.

Como se observa no texto disponível em www.vermelho.org.br, meses antes dos EUA desencadearem a agressão contra a Coreia, a Longa Marcha liderada por Mao Tsé-Tung havia triunfado e a nova China socialista consolidava laços com a URSS e com as jovens democracias populares que se afirmavam no Leste da Europa. Nos continentes africano e asiático outros focos de luta anticolonial emergiam.

Por outro lado, depois dos crimes cometidos em Hiroshima e Nagasaki (os quais mostraram ao mundo a existência de um novo perigo – a detenção por parte do imperialismo de uma arma de destruição massiva com um incomparável poder destruidor face às predecessoras), a União Soviética acelerou a procura da paridade nuclear com os EUA, alcançando, posteriormente, o objectivo de conter a agressividade imperialista. Nunca é demais lembrar que somente os EUA já fizeram uso da bomba atómica.


Da guerra mundial à guerra na península


É pois neste contexto adverso ao imperialismo que ocorre a guerra da Coreia, território libertado pelos comunistas coreanos, liderados por Kim Il-sung, após mais de quatro décadas de ocupação japonesa. A expulsão dos imperialistas nipónicos foi o culminar de um longo processo de resistência que levou à capitulação do Japão às mãos da coligação antifascista, em 1945.

Com o fim da Segunda Grande Guerra Mundial, a península coreana foi, tal como a Alemanha, dividida em áreas supervisionadas: a Norte os soviéticos e a Sul os norte-americanos. A separação era, no entanto, uma solução provisória, pois cedo ficou acordada a unificação do território entre as forças vitoriosas do grande conflito mundial.

Porém, em Agosto de 1948, Washington promove a Sul do paralelo 38 a eleição de um governo imbuído de um anticomunismo primário e afecto aos seus interesses geoestratégicos, iniciando uma série de violações ao acordo com Moscovo e as forças progressistas norte-coreanas. EUA e URSS abandonam a península, mas a partir do Sul, desencadeiam-se constantes provocações visando promover uma campanha militar contra o projecto socialista do Norte e o restabelecimento da integridade territorial.

O conflito acabou por eclodir. Porém, em poucos dias, o exército norte-coreano logrou derrotar as forças comandadas pelo títere sul-coreano Synghmam Rhee. Seul foi rapidamente conquistada e a pretendida unificação do território era uma realidade tangível.

Atentos e dispostos a não ceder um palmo ao socialismo, às forças progressistas e ao poderoso e revigorado avanço do movimento operário mundial, os EUA não deixaram que a contenda se mantivesse entre o povo coreano. Intervieram abertamente. Primeiro usando a ONU para condenar a campanha unificadora da Coreia do Norte, depois avançando para o terreno. A presença militar foi travestida de «força» com mandato internacional, prática que, aliás, fez escola até aos dias de hoje. Dezena e meia de nações faziam parte da coligação interveniente, mas eram os EUA quem ditava ordens e eram também as forças armadas norte-americanas o grosso da coluna ocupante.

Mas o exército norte-coreano era uma força treinada em duras batalhas pela liberdade e a soberania da península, uma aspiração enraizada nas gerações que lutaram pela libertação do território do jugo colonial. Imprevisivelmente o general Douglas MacArthur (que acumulara prestígio com a vitória sobre o Japão no Pacífico) e as tropas que comandava foram rechaçadas. Era preciso usar mais e mais poderosos meios. Assim, a Casa Branca fez deslocar para a península um contingente aéreo só comparável ao usado anos antes contra a Alemanha nazi. Cidades, vilas e aldeias da Coreia eram diariamente fustigadas com bombardeamentos. Toneladas de napalm arrasaram quase todo o território.

No final da agressão imperialista contra a RPD da Coreia, em 1953, restavam dois edifícios de pé em Pyongyang. A capital da actual República Popular Democrática da Coreia, tal como dezenas de outras cidades, teve que ser totalmente reconstruída. Só quem ignora este facto pode, no quadro da campanha ideológica que desde então decorre sem pausa, insistir, por exemplo, que os «monótonos edifícios» de Pyongyuang e as suas largas avenidas foram construídos com o fim de apurar o controlo social e a manutenção da «ditadura comunista».


Crime sem perdão

Image 5477


Armas químicas e bacteriológicas foram usadas pelos norte-americanos em larga escala durante a agressão. Ao contrário dos EUA, a URSS absteve-se de entrar directamente no conflito inter-coreano. Foram os norte-americanos que repetidamente espezinharam os acordos que determinavam a unificação do território.

Acresce que as forças reaccionárias sul-coreanas e os EUA violavam permanentemente os acordos de Genebra, deixando claro que o ventre que havia parido a besta nazi-fascista era ainda fértil para dar à luz novas hordas criminosas. Em face disto, desenvolveu-se uma intensa campanha mundial contra a ingerência imperialista na península coreana.

No campo militar, os EUA avançaram sobre Pyongyang, visando calar pela força das armas o movimento unificador que resistia sob a bandeira do socialismo, mas a China revolucionária sentiu o bafo do imperialismo e reagiu. Um exército de voluntários foi constituído e enviado para lutar ao lado do exército popular coreano. A acção da China revolucionária foi determinante, uma vez que as tropas invasoras norte-americanas voltaram a ser rechaçadas para o extremo Sul da península.

MacArthur encontrava-se derrotado e a solução que propunha era o bombardeamento massivo do território chinês, admitindo, inclusive, o uso de armas atómicas. O conflito regional estava prestes a desencadear um novo conflito mundial, observa Augusto Bonicore no artigo difundido pelo vermelho.org.br.

Países como o Reino Unido ficaram alarmados com tal possibilidade, nota ainda o historiador brasileiro. «Grandes manifestações foram realizadas em todas as partes do mundo pela paz na Coreia e contra utilização das armas atómicas. Por fim, o próprio presidente Truman não endossou as propostas temerárias do aventureiro MacArthur e destituiu-o do comando das operações», lembra a este propósito.

A hipótese de um ataque nuclear contra a RPD da Coreia não deixou nunca de ser admitida entre os círculos dirigentes norte-americanos. São frequentes nos tempos que correm as notícias sobre a possibilidade do Pentágono desencadear um «ataque nuclear preventivo» contra a Coreia do Norte.

Já nas décadas de 60 e 70 do século passado, as administrações norte-americanas haviam ponderado tal cenário. Revelou recentemente o jornal El País que o chamado plano «Freedom Drop» foi avaliado por Richard Nixon e pelo então secretário da Defesa, Melvin Laird, responsável que terá mesmo calculado as vítimas norte-coreanas resultantes desse ataque entre «uma centena e alguns milhares».


Armistício sem paz


A actual situação de armistício entre as duas coreias sem a assinatura de um tratado de paz que terminasse, definitivamente, com a guerra iniciada em 1950, acabou por resultar do impasse militar. Reforçados pelo contingente chinês, o exército popular coreano conseguiu, em 1953, manter as forças imperialistas no paralelo 38. Ninguém era capaz de fazer retroceder o inimigo e, assim, iniciam-se as negociações de paz.

Em Julho de 1953 é assinado o armistício, mas a paz nunca chegou e até agora subsiste um clima de tensão latente favorável aos objectivos do imperialismo.

 

Números de uma guerra com seis décadas

 

Image 5476

Num artigo publicado na edição electrónica do Tribuna Popular, órgão central do Partido Comunista da Venezuela, é possível encontrar dados valiosos que nos permitem não apenas aquilatar a intensidade da guerra movida pelo imperialismo contra a RPD da Coreia durante os últimos 60 anos, mas também compreender melhor porque é que o governo de Pyongyang e o povo norte-coreano mantêm as mais sérias reservas em relação aos EUA, considerando aquele país o seu mais acérrimo inimigo.

O documento divulgado no passado dia 24 de Julho pela Agência Telegráfica Central norte-coreana (ATC) sublinha que «os imperialistas yankees cometeram matanças, destruíram, saquearam e praticaram outros crimes de guerra bárbaros e antiéticos sem precedentes na história mundial das guerras, provocando ao povo coreano tremendos sofrimentos».

Prova disso são os factos e os dados enunciados, dos quais destacamos:

 

 

* Com informações publicadas em www.vermelho.org.br e www.tribuna-popular.org

 

Hugo Janeiro