Jerónimo de Sousa esteve sábado de manhã no Bairro Padre Cruz, na Freguesia de Carnide, e constatou a necessidade de requalificação urgente daquele bairro municipal.
Às portas do perímetro urbano da capital, um dos mais antigos bairros municipais lisboetas é o espelho do abandono a que política de direita, seguida por sucessivos governos, tem votado a reabilitação do parque habitacional público.
Com lugar cativo nas páginas dos jornais e em noticiários televisivos, o Bairro Padre Cruz, na Freguesia de Carnide, é uma malha de casas construídas na década de 50. Quem lá vive (mais de 8 mil pessoas) é gente de trabalho. Gente que produz e cria riqueza sendo diariamente espoliada da mais-valia, ou que ao trabalho dedicou grande parte da sua vida e agora sobrevive com uma reforma mais do que modesta. Foi isto que encontrámos ao acompanhar o Secretário-geral do PCP num périplo pelo bairro.
Acompanhado pelo Presidente da Freguesia de Carnide, Paulo Quaresma, e por outros eleitos da CDU naquela Junta e na Câmara e Assembleia municipais de Lisboa, bem como por dirigentes associativos locais e por dezenas de militantes comunistas, Jerónimo de Sousa percorreu a pé algumas ruas.
Desde logo foi possível observar a degradação dos arruamentos e da rede pública de saneamento; o lixo acumulado em vielas e caneiros, factores que acrescentam dificuldades à mobilidade da população idosa residente e constituem pasto fértil para a proliferação de pragas.
Convidado a entrar em algumas habitações, o Secretário-geral do PCP não se fez rogado. Entre palavras de conforto, retribuídas com afabilidade, os relatos ouvidos não esbarraram na indiferença.
Sem condições económicas para procederem a mais do que pequenos remendos nas estruturas carenciadas de intervenções de fundo, da responsabilidade da GEBALIS, alguns dos moradores vivem em condições insalubres. Muitos confinam o seu quotidiano ao rés-do-chão, dado que as dificuldades de locomoção não lhes permitem subir e descer a escadaria de acesso ao piso superior.
Vai valendo a solidariedade de familiares, amigos e vizinhos num bairro que desespera, igualmente, por uma unidade de apoio a idosos dotada de múltiplas valências e capaz de prestar o auxílio a que qualquer ser humano tem direito só pelo simples facto de existir.
Luta persistente
Na visita ao Bairro Padre Cruz – a qual terminou junto ao mercado local depois de uma passagem agradável e enriquecedora pela sede do Grupo Recreativo Escorpiões, colectividade que, como tantas outras por esse País fora, resiste graças à dedicação e perseverança da comunidade onde se insere –, sobressaiu também a intensa ligação do Partido à população. Na mão de eleitos e militantes comunistas estava um comunicado que lembrava que, por iniciativa do PCP, foi travado o aumento das rendas.
Após anos de hesitações, avanços e recuos na requalificação do bairro e na manutenção dos moradores nas respectivas habitações (exigência da qual não abdicam), a CM de Lisboa tentou aplicar uma lei que aumentaria de forma astronómica as rendas dos moradores. Tal não avançou fruto da luta desenvolvida pela comunidade, que teve sempre a seu lado o Partido e a Junta de Freguesia de Carnide.
Na CM de Lisboa, o PCP fez aprovar uma proposta que, nesta fase, mantém a cedência das casas a título precário até à entrada em vigor do novo regime do arrendamento social. O mesmo documento, insta ainda o executivo camarário a desenvolver todos os esforços junto da Assembleia da República (AR) e do Governo para que seja revisto o diploma que regula o regime de renda apoiada, explica o documento editado pela Organização da Cidade de Lisboa do PCP.
Por outro lado, na AR, o grupo parlamentar comunista já está a trabalhar para que o regime de renda apoiada contemple famílias que auferem menos de dois salários mínimos nacionais ou que vivam com baixas reformas, pensões e outras prestações sociais .
Caso as iniciativas comunistas sejam aprovadas pelos restantes grupos parlamentares, «resolve-se o problema que se arrasta há quase 20 anos», sublinha o comunicado que o Partido distribuiu à população do Bairro Padre Cruz.
Fica, no entanto, o alerta do PCP «para a necessidade de os moradores dos bairros sujeitos a renda apoiada se manterem vigilantes e atentos», e para que estes se mobilizem na defesa dos seus interesses.