Querem vampirizar-nos o eleitorado?

Aurélio Santos

Tem vindo a afirmar-se nos úl­timos tempos essa velha fór­mula do an­ti­co­mu­nismo que é a ten­ta­tiva de vam­pi­ri­zação do elei­to­rado do PCP. Ma­ni­festa-se quer em apelos para a «co­esão de todos» (para que ob­jec­tivos?) quer para uma «uni­dade da es­querda» (para que po­lí­tica?).

Com­pre­ende-se que para o ca­pi­ta­lismo serôdio dos nossos tempos o co­mu­nismo con­tinue sendo um es­pectro, como já dizia em 1847 o Ma­ni­festo Co­mu­nista. As es­con­juras a esse fan­tasma, por parte dos se­nhores do ca­pital e seus agentes, va­riam com as épocas. O apelo à ima­gi­nação po­lí­tica dos ma­ni­pu­la­dores da opi­nião é por­tanto muito in­tenso.

Nas so­ci­e­dades «pós-mo­dernas», mas­sa­cradas por de­cé­nios de de­ma­gó­gicas cam­pa­nhas de pre­tensa «de­fesa da de­mo­cracia», não podem cair bem as bru­tezas de Hi­tler, Sa­lazar, Pi­no­chet, ou mesmo dos tri­bu­nais de «ac­ti­vi­dades anti-ame­ri­canas» do ma­car­tismo, nos USA. (Es­tarão me­tidos em al­guma ga­veta de es­pera?).

A his­tória não se faz fi­cando sen­tados à es­pera dela. Como dizia Marx: a his­tória não faz nada, não luta em ne­nhuma ba­talha. Não é a his­tória mas sim o ser hu­mano, vivo e real, que tudo faz e luta por tudo.

É assim que nós, co­mu­nistas por­tu­gueses, pen­samos. Por isso lu­tamos.

Temos um pa­tri­mónio his­tó­rico va­lioso. Mas como mostra a nossa pró­pria ex­pe­ri­ência, não basta o pa­tri­mónio her­dado para se res­ponder às ques­tões sempre novas que a vida sus­cita. Impõe-se sempre darmos e apro­fun­darmos res­posta às novas con­di­ções que se re­gistam na vida.

Man­tendo a nossa iden­ti­dade, temos pro­vado ter con­di­ções para dar con­ti­nui­dade ao nosso pas­sado. Temos e man­temos um par­tido com prin­cí­pios e ob­jec­tivos claros, es­tru­tu­rado e coeso. Terão de ter pa­ci­ência os que querem vam­pi­rizar o nosso elei­to­rado: o pa­tri­mónio po­lí­tico do PCP não está em saldo. A Festa do «Avante!» no­va­mente o com­provou. E os par­ti­ci­pantes na apre­sen­tação do can­di­dato do PCP à Pre­si­dência da Re­pú­blica con­fir­maram-no, na pas­sada se­mana.

Os ca­pí­tulos mais im­por­tantes da his­tória do PCP estão ainda por es­crever. Se­jamos nós, co­mu­nistas do Sé­culo XXI, im­pul­si­o­na­dores das forças ca­pazes de dar a volta que per­mita ao mundo apostar no fu­turo.



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