Merkel joga trunfo xenófobo

Num fim-de-se­mana em que a fun­dação Fri­e­drich Ebert, de ins­pi­ração so­cial-de­mo­crata, di­vulgou uma son­dagem que apre­senta 60 por cento dos ale­mães como par­ti­dá­rios da «res­trição subs­tan­cial das prá­ticas re­li­gi­osas» mu­çul­manas, a chan­celer An­gela Merkel de­cidiu juntar-se ao coro xe­nó­fobo que tem vindo a ser es­ti­mu­lado nos úl­timos meses na Ale­manha.

Dis­cur­sando no con­gresso da ju­ven­tude de­mo­crata-cristã, sá­bado, 16, em Potsdam, a chefe do go­verno de­clarou-se de­si­lu­dida com a con­vi­vência de cul­turas di­fe­rentes no seu país.

«Esta abor­dagem mul­ti­cul­tural, dizer que vi­vemos lado a lado e vi­vemos fe­lizes um com o outro, fa­lhou. É um mo­delo to­tal­mente fra­cas­sado», disse Merkel se­cun­dando o líder do go­verno bá­varo, Horst Se­ehofer, que na vés­pera havia de­cla­rado: «A Ale­manha não deve con­verter-se em as­sis­tente so­cial do mundo.»

Já antes este po­lí­tico ca­tó­lico tinha afir­mado que «a Ale­manha não é um país de imi­gração» e ape­lado à re­jeição de novos «imi­grantes de ou­tros âm­bitos cul­tu­rais», numa alusão clara aos povos mu­çul­manos.

Porém, ao con­trário do que se po­deria pensar, a Ale­manha não tem um ex­cesso, mas sim um dé­fice de imi­grantes, donde a ex­plo­ração do tema em tons ni­ti­da­mente ra­cistas tem como único ob­jec­tivo des­viar aten­ções das ver­da­deiras causas dos pro­blemas so­ciais e re­cons­ti­tuir a base elei­toral for­te­mente des­gas­tada.

Quem o re­vela é a mi­nistra do Tra­balho, Ur­sula Von der Leyen, que, apesar de in­te­grar o mesmo par­tido que Merkel, apa­renta ter uma visão dis­tinta e menos po­pu­lista nesta ma­téria. Em en­tre­vista pu­bli­cada no do­mingo, ci­tada pelo El Pais (18.10), ga­rante que «desde há vá­rios anos que partem mais pes­soas da Ale­manha do que as que chegam». E tendo em conta as ne­ces­si­dades da eco­nomia, de­fendeu «uma di­mi­nuição dos re­qui­sitos de imi­gração», con­si­de­rando que «de­vemos es­forçar-nos para atrair os imi­grantes que a eco­nomia alemã ne­ces­sita».

Mais con­creta é a Câ­mara de Co­mércio Alemã, cujos cál­culos in­dicam que o país pre­cisa de 400 mil en­ge­nheiros, téc­nicos e ope­rá­rios qua­li­fi­cados. Assim se vê que as re­tó­ricas xe­nó­fobas não passam de um es­tra­ta­gema e, para o de­sa­cre­di­tado go­verno de Merkel, um bode ex­pi­a­tório.



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