A HORA É DE LUTA

«A luta de massas con­firma-se como ne­ces­sária e in­dis­pen­sável»

Enquanto os dois prin­ci­pais par­tidos da po­lí­tica de di­reita, sen­tados à volta da mesa de «ne­go­ci­a­ções», fingem de­sa­cordos e di­ver­gên­cias pro­fundas em torno de um Or­ça­mento do Es­tado que ambos sabem há muito que irão aprovar; e en­quanto o ter­ceiro par­tido da fa­mília, se­guro do re­sul­tado das «ne­go­ci­a­ções», anuncia que vai votar «contra»... - os tra­ba­lha­dores pros­se­guem as suas lutas de todos os dias: lutas que, nas cir­cuns­tân­cias ac­tuais, cons­ti­tuem um con­tri­buto de­ci­sivo para o êxito da grande Greve Geral con­vo­cada para o dia 24 de No­vembro e que é, sem dú­vida, desde o seu anúncio pú­blico, o acon­te­ci­mento mar­cante da si­tu­ação ac­tual.

Do acordo entre PS e PSD pode dizer-se que era... ine­vi­tável. Aliás, trata-se de um acordo bem co­nhe­cido de ambos, re­pe­tido, velho, que vem sendo as­si­nado re­gu­lar­mente desde há 34 anos, quando o Go­verno PS/​Mário So­ares ini­ciou a po­lí­tica de di­reita que, pra­ti­cada por su­ces­sivos go­vernos PS e PSD, com ou sem CDS-PP, con­duziu Por­tugal ao es­tado em que está.

No caso deste OE para 2011, para lá das falsas di­ver­gên­cias re­pre­sen­tadas por ambos, o que conta é que o acordo entre os dois é total no que res­peita a todas as ques­tões cru­ciais, a todas aquelas ques­tões que si­na­lizam o con­teúdo de classe da po­lí­tica por ambos de­fen­dida e pra­ti­cada, tais como: por um lado, o fa­vo­re­ci­mento sem mar­gens a tudo o que tem a ver com os in­te­resses dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, e na outra face da moeda, os cortes nos sa­lá­rios, o con­ge­la­mento de pen­sões e re­formas, os cortes de pres­ta­ções so­ciais, enfim, o agra­va­mento brutal das con­di­ções de tra­balho e de vida da imensa mai­oria dos por­tu­gueses e o afun­da­mento do País.

Nunca é de­mais in­sistir que o ac­tual OE, nas­cido na sequência de vá­rios PEC e deles as­si­mi­lando e agra­vando todas as mal­fei­to­rias, vai mais longe do que qual­quer dos que o an­te­ce­deram em ma­téria de fla­ge­lação dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País e de fa­vo­re­ci­mento dos in­te­resses do grande ca­pital.

Nunca como neste caso foi tão evi­dente a in­tenção do Go­verno de ser­viço de fazer um OE que exibe de forma brutal, os­ten­siva e car­re­gada de as­su­midas ame­aças, a sua marca de classe.

 

Nestas cir­cuns­tân­cias, a luta de massas con­firma-se como res­posta ne­ces­sária e a sua in­ten­si­fi­cação e alar­ga­mento como exi­gên­cias im­pe­ra­tivas.

Os dados até agora dis­po­ní­veis em ma­téria de an­da­mento do pro­cesso pre­pa­ra­tório da jor­nada do dia 24 de No­vembro, con­firmam que é pos­sível er­guer uma grande Greve Geral evi­den­ci­a­dora da de­ter­mi­nação e da força dos tra­ba­lha­dores or­ga­ni­zados nos seus sin­di­catos de classe. Como pode cons­tatar-se neste nú­mero do Avante!, mul­ti­plicam-se as no­tí­cias de ade­sões à Greve, di­vul­gadas pelos res­pec­tivos sin­di­catos ou por ou­tras es­tru­turas re­pre­sen­ta­tivas dos tra­ba­lha­dores em inú­meras em­presas, num ritmo e numa am­pli­tude que atingem pra­ti­ca­mente todos os sec­tores de ac­ti­vi­dade.

É óbvio, no en­tanto, que há ainda muito, muito tra­balho a fazer de modo a dar ex­pressão ao ge­ne­ra­li­zado des­con­ten­ta­mento exis­tente.

As lutas em curso são, também elas, de enorme im­por­tância e cons­ti­tuem um pre­cioso con­tri­buto para o êxito da Greve Geral.

É nessa pers­pec­tiva que devem ser vistas, por exemplo, as muitas e di­ver­si­fi­cadas lutas le­vadas a cabo nos úl­timos dias, de­sig­na­da­mente, a ma­ni­fes­tação da Agro-Vouga com mais de qutro mil agri­cul­tores; as rei­vin­di­ca­ções em torno das SCUT; as lutas em de­fesa de ser­viços pú­blicos de­sen­vol­vidas de norte a sul do País, e no­me­a­da­mente em Cha­musca, Be­na­vente, Vi­zela, Vi­eira do Minho, Al­bu­feira, Couço.

E é ainda nessa pers­pec­tiva que de­vemos olhar para as lutas anun­ci­adas para os pró­ximos dias e se­manas: em pri­meiro lugar a ma­ni­fes­tação da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, mar­cada para 6 de No­vembro, mas também as ac­ções dos es­tu­dantes do se­cun­dário e do su­pe­rior, anun­ci­adas para 10 e 17 – para além da ma­ni­fes­tação de 20 de No­vembro, «Paz, sim, Nato não», que im­porta se tra­duza numa ex­pres­siva afir­mação de re­púdio pela ci­meira, em Lisboa, da­quela or­ga­ni­zação be­li­cista.

 

Neste con­texto, é ne­ces­sário su­bli­nhar a im­por­tância da ac­ti­vi­dade de­sen­vol­vida pelo PCP – prin­cipal força po­lí­tica no com­bate à po­lí­tica de di­reita; no es­forços de mo­bi­li­zação dos tra­ba­lha­dores; na res­posta à ofen­siva ide­o­ló­gica do ca­pital. E de­mons­trando com as suas ini­ci­a­tivas pró­prias - de­sig­na­da­mente as que se in­serem na acção na­ci­onal «Por­tugal a Pro­duzir» - que, ao con­trário do que pro­palam os man­dantes, os exe­cu­tantes e os pro­pa­gan­distas da po­lí­tica de di­reita, há uma al­ter­na­tiva a essa po­lí­tica. Uma al­ter­na­tiva que passa pela rup­tura e pela mu­dança, e ba­si­ca­mente pelo au­mento da pro­dução da ri­queza e por uma mais justa re­par­tição da ri­queza pro­du­zida.

Neste quadro in­sere-se também a can­di­da­tura do ca­ma­rada Fran­cisco Lopes, uma can­di­da­tura que, como os factos mos­tram, avança com con­fi­ança: crescem os apoios de per­so­na­li­dades oriundas de qua­drantes po­lí­ticos di­versos e de di­versas op­ções ide­o­ló­gicas; pros­segue, di­nâ­mica, a re­colha de pro­po­si­turas; de­correm com êxito as­si­na­lável as múl­ti­plas ini­ci­a­tivas da pré-cam­panha elei­toral. E, não obs­tante o si­len­ci­a­mento a que os média do­mi­nantes re­metem a ac­ti­vi­dade do can­di­dato do PCP, alarga-se a cons­ci­ência da im­por­tância e da ne­ces­si­dade do voto em Fran­cisco Lopes no dia 23 de Ja­neiro – um voto que conta sempre, porque é um voto dos tra­ba­lha­dores e para os tra­ba­lha­dores, um voto na rup­tura e na mu­dança por Abril de novo, um voto de luta e para a luta contra a po­lí­tica de di­reita.

A hora é de luta e a luta avança, su­pe­rando di­fi­cul­dades e obs­tá­culos.

A con­firmar que, como dizia o Poeta, «isto vai, meus amigos, isto vai».