Grande manifestação da Administração Pública

Mais de cem mil com a greve geral

Mais de cem mil tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica re­pu­di­aram, na ma­ni­fes­tação na­ci­onal, sá­bado, em Lisboa, «as me­didas de re­tro­cesso so­cial» do Go­verno PS e afir­maram a de­ter­mi­nação de fazer da greve geral de 24 de No­vembro um mo­mento mar­cante da luta por outra po­lí­tica.

 

Só o apro­fun­da­mento da luta tra­vará a po­lí­tica de di­reita

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«Só o apro­fun­da­mento da luta dos tra­ba­lha­dores per­mi­tirá es­tancar o agra­va­mento brutal das con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e das ca­madas des­fa­vo­re­cidas da po­pu­lação, e pers­pec­tivar a sua in­versão», lê-se na re­so­lução apro­vada, com acla­mação geral, no fim da ma­ni­fes­tação na­ci­onal que per­correu a Ave­nida da Li­ber­dade, do Marquês de Pombal aos Res­tau­ra­dores.

Face à gra­vi­dade da si­tu­ação que o País atra­vessa, os par­ti­ci­pantes ma­ni­fes­taram «in­teira dis­po­ni­bi­li­dade» para, até à greve geral, pros­se­guirem o tra­balho de es­cla­re­ci­mento e de mo­bi­li­zação «para as im­pres­cin­dí­veis lutas em de­fesa dos ob­jec­tivos co­lec­ti­va­mente de­fi­nidos e contra as me­didas de re­tro­cesso so­cial e ci­vi­li­za­ci­onal da po­lí­tica de di­reita do PS/​PSD/​CDS».

Após três horas de des­file e dando largas às mais va­ri­adas e cri­a­tivas ma­ni­fes­ta­ções de in­dig­nação e de pro­testo contra a po­lí­tica de di­reita do Go­verno PS, os tra­ba­lha­dores também re­pu­di­aram a re­a­li­zação da Ci­meira da NATO em Por­tugal e ape­laram à par­ti­ci­pação na ma­ni­fes­tação de 20 de No­vembro, «pela paz, contra a guerra, pela dis­so­lução da NATO e a saída do nosso País dessa es­tru­tura agres­siva».

A meio da ave­nida, di­ante do Centro de Tra­balho Vi­tória, sau­dando os tra­ba­lha­dores e a sua luta, o Se­cre­tário-geral do PCP, Je­ró­nimo de Sousa, e o can­di­dato co­mu­nista à Pre­si­dência da Re­pú­blica, Fran­cisco Lopes, foram ca­lo­ro­sa­mente cum­pri­men­tados, aplau­didos e aca­ri­nhados pelos ma­ni­fes­tantes.

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Antes de os tra­ba­lha­dores terem apro­vado a re­so­lução e re­gres­sado à luta, nos lo­cais de tra­balho, por uma grande greve geral, in­ter­vi­eram o se­cre­tário-geral da CGTP-IN, Ma­nuel Car­valho da Silva, a co­or­de­na­dora da Frente Comum dos Sin­di­catos da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, Ana Avoila, o se­cre­tário-geral da Fe­de­ração Na­ci­onal dos Pro­fes­sores, Mário No­gueira, e o pre­si­dente do Sin­di­cato Na­ci­onal dos Tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Local, Fran­cisco Braz.

Todos lem­braram a ac­tual crise e o Go­verno PS como seu res­pon­sável e os fortes con­trastes entre os lu­cros da banca e o sa­cri­fí­cios que são im­postos aos tra­ba­lha­dores e ao País.

 

Pela ju­ven­tude

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O se­cre­tário-geral da CGTP-IN sa­li­entou a im­por­tância da par­ti­ci­pação da ju­ven­tude tra­ba­lha­dora na greve geral. «Por­tugal tem di­reito a um fu­turo me­lhor e, acima de tudo, as novas ge­ra­ções têm di­reito a não ser con­de­nadas ao re­tro­cesso», disse, afir­mando que «esta luta é por eles», e re­cor­dando que «são os jo­vens quem tem mais es­co­la­ri­dade, mas é entre eles que há mais de­sem­prego e, no má­ximo, têm apenas di­reito ao sa­lário mí­nimo».

«É pre­ciso julgar os erros pro­fundos dos go­ver­nantes, mas também criar ins­ta­bi­li­dade a uma bur­guesia que está a deitar mão à ri­queza que per­tence a todos e se apro­pria dos meios e im­pede a ca­pa­ci­dade de o País se de­sen­volver», afirmou, su­bli­nhando que «toda a po­pu­lação tem ne­ces­si­dade de se ma­ni­festar e de se mo­bi­lizar, im­pondo uma mu­dança de rumo nas po­lí­ticas que cor­res­ponda aos an­seios dos tra­ba­lha­dores».

Ana Avoila re­cordou que a res­pon­sa­bi­li­dade pela si­tu­ação a que o País chegou «deve-se a 34 anos de po­lí­tica de di­reita de­sen­vol­vida pelo PS, o PSD e o CDS».

«Os tra­ba­lha­dores não aceitam que a ac­tual crise ca­pi­ta­lista atire para a mi­séria e a mar­gi­na­li­dade cada vez mais por­tu­gueses», afirmou, lem­brando que os apoios à banca são «cinco vezes su­pe­ri­ores ao que o Go­verno pre­tende cortar na Ad­mi­nis­tração Pú­blica, nos di­reitos e sa­lá­rios». Con­si­de­rando que a ne­go­ci­ação do acordo PS-PSD para o Or­ça­mento de Es­tado «foi um circo», e que dele fazem parte os con­ge­la­mentos sa­la­riais e das pen­sões, bem como de ou­tras par­celas re­mu­ne­ra­tó­rias, a des­truição de ser­viços, o au­mento de im­postos, o con­ge­la­mento de ad­mis­sões e «o roubo do tempo de ser­viço», acres­cidos à des­truição de car­reiras, con­cluiu que os por­tu­gueses estão con­fron­tados com «um au­tên­tico saque aos bolsos de quem tra­balha».

Mário No­gueira lem­brou os cortes de três mil mi­lhões de euros na edu­cação, na saúde e na se­gu­rança so­cial, e que «o ataque aos di­reitos dos pro­fes­sores passa também pela re­dução de um con­junto de horas lec­tivas que vai co­locar no de­sem­prego ainda mais do­centes». As­si­nalou que a des­truição da es­cola pú­blica e a de­gra­dação so­cial con­trastam com os apoios dados à banca pelo Es­tado.

Fran­cisco Braz fez notar que «não há sector que es­cape aos ata­ques deste Go­verno aos di­reitos de quem tra­balha, e a res­posta a esta po­lí­tica será de grande exi­gência». Em cen­tenas de ple­ná­rios e de reu­niões em todo o País, «o STAL/​CGTP-IN tem con­fir­mado uma grande mo­bi­li­zação de tra­ba­lha­dores para a greve geral» e há já cen­tenas de pi­quetes de greve cons­ti­tuídos.

 



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