UM TRIO SINISTRO

«O que a po­lí­tica de di­reita já fez, é pés­simo; o que se pre­para para fazer, é muito pior»

A Greve Geral con­vo­cada pela CGTP-IN e re­a­li­zada no dia 24 – uma das mais im­por­tantes jor­nadas de luta re­a­li­zadas em Por­tugal de­pois do 25 de Abril, na opi­nião do Co­mité Cen­tral do PCP – cons­ti­tuiu o acon­te­ci­mento mais re­le­vante da vida na­ci­onal nos úl­timos tempos. E pela sua di­mensão; pelo seu sig­ni­fi­cado; pelo que re­pre­sentou en­quanto ex­pressão con­creta da força or­ga­ni­zada dos tra­ba­lha­dores; pelas po­ten­ci­a­li­dades de luta que re­velou, os seus efeitos con­ti­nu­arão a marcar im­pres­si­va­mente a ac­tu­a­li­dade na­ci­onal nos pró­ximos tempos.

No fu­turo ime­diato, a luta de massas, nas suas múl­ti­plas e di­ver­si­fi­cadas ex­pres­sões, tem con­di­ções para as­sumir uma di­mensão e um con­teúdo novos, qua­li­ta­tiva e quan­ti­ta­ti­va­mente su­pe­ri­ores.

In­cor­po­rando as ex­pe­ri­ên­cias e en­si­na­mentos de todo o pro­cesso de cons­trução e con­cre­ti­zação da Greve Geral; in­ter­pre­tando cor­rec­ta­mente o sig­ni­fi­cado da en­trada na luta de mi­lhares e mi­lhares de jo­vens com vín­culo pre­cário que, com no­tável co­ragem e dig­ni­dade, ou­saram en­frentar, e ven­ceram, a bar­reira da chan­tagem e do medo, a luta de massas pode dar de­ci­sivos passos em frente com vista àquele que é o ob­jec­tivo pri­meiro dos tra­ba­lha­dores: a rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e a con­quista de um novo rumo para Por­tugal.

 

Isto é tanto mais im­por­tante quanto, como é sa­bido, os dois prin­ci­pais par­tidos da po­lí­tica de di­reita, PS e PSD, acabam de aprovar, na sequência de uma ver­go­nhosa ne­go­ciata, apa­dri­nhada pelo Pre­si­dente da Re­pú­blica, um Or­ça­mento do Es­tado que, na ava­li­ação do CC do PCP, «é mais um gra­voso passo no ca­minho de re­tro­cesso que vem sendo tri­lhado no nosso País» há longos 34 anos.

Fi­zeram-no no meio da re­pre­sen­tação da velha farsa em que, apre­sen­tando-se como aguer­ridos ad­ver­sá­rios, tentam as­se­gurar o pros­se­gui­mento da velha po­lí­tica, es­con­dendo a con­ver­gência total que os une em tudo o que é es­sen­cial. Uma farsa que desta vez contou com a par­ti­ci­pação do Pre­si­dente da Re­pú­blica, no papel de «mo­de­rador» - com­ple­tando o si­nistro trio que se propõe afundar o País.

E o que os une, como o CC acen­tuou, ficou bem à vista: o corte nos sa­lá­rios, nos apoios so­ciais e no in­ves­ti­mento pú­blico; a con­ti­nu­ação e agra­va­mento da in­jus­tiça fiscal; a acen­tu­ação da ex­plo­ração e das de­si­gual­dades so­ciais; a pri­va­ti­zação de em­presas pú­blicas; a nova vaga de sa­cri­fí­cios sobre os tra­ba­lha­dores e o povo; enfim, o agra­va­mento brutal das já gra­vís­simas con­di­ções de vida da imensa mai­oria dos por­tu­gueses.

E unindo-os isto, une-os igual­mente a pre­o­cu­pação de as­se­gurar a con­ti­nu­ação do au­mento dos lu­cros dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros – e une-os, ainda, a pos­tura de aca­ta­mento servil das or­dens vindas da União Eu­ro­peia e do grande pa­tro­nato, no sen­tido de novas al­te­ra­ções às leis la­bo­rais, vi­sando des­re­gular ainda mais os ho­rá­rios de tra­balho, re­duzir os sa­lá­rios e re­mu­ne­ra­ções e li­be­ra­lizar os des­pe­di­mentos.

Une-os, em re­sumo, tudo o que, neste OE e nesta po­lí­tica, vai contra os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País – e tudo o que vai ao en­contro dos in­te­resses dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros.


Per­ti­nen­te­mente, o Co­mité Cen­tral de­nuncia a es­can­da­losa in­jus­tiça na dis­tri­buição da ri­queza na­ci­onal, vi­sível nos anún­cios pú­blicos dos lu­cros da banca e dos prin­ci­pais grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros. E exem­pli­fica: Banca, energia e te­le­co­mu­ni­ca­ções, grande dis­tri­buição, obras pú­blicas, auto-es­tradas, ci­mentos e pasta de papel, acu­mu­laram, nos pri­meiros nove meses de 2010, nove mil mi­lhões de euros, ou seja, 24 mi­lhões de euros por dia – lu­cros cuja con­ti­nu­ação por tempo in­de­ter­mi­nado o Go­verno e a sua po­lí­tica tratam de as­se­gurar, cer­ta­mente para con­firmar a afir­mação que não se cansam de re­petir de que «a crise toca a todos»…

Só que, do outro lado do pa­raíso em que vivem os grandes e po­de­rosos, está o in­ferno que é a vida dos tra­ba­lha­dores e do povo – uma vida que, a partir do início do pró­ximo ano, so­frerá agra­va­mentos bru­tais com a ter­rível con­ju­gação do au­mento dos preços (IVA, trans­portes, energia, pão, por­ta­gens, etc.) com a des­cida do valor dos sa­lá­rios e re­mu­ne­ra­ções, o con­ge­la­mento das pen­sões, o corte em pres­ta­ções so­ciais…

O que a po­lí­tica de di­reita do PS/​PSD já fez, é pés­simo; o que se pre­para para fazer, é muito pior do que pés­simo.

Evitar que o de­sastre na­ci­onal já pro­vo­cado pela apli­cação dessa po­lí­tica se trans­forme numa ver­da­deira tra­gédia, é a questão cru­cial que se co­loca aos tra­ba­lha­dores e ao povo. Uma questão que só será re­sol­vida no quadro da in­ten­si­fi­cação da luta de massas e do re­forço do PCP – de facto, o único grande par­tido que, sis­te­má­tica e co­e­ren­te­mente, com­bate a po­lí­tica de di­reita e lhe con­trapõe a al­ter­na­tiva de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, uma po­lí­tica que ponha Por­tugal a pro­duzir, pro­mo­vendo a cri­ação de ri­queza e a sua justa re­par­tição.

A his­tó­rica Greve Geral do dia 24, er­guida a pulso no in­te­rior das em­presas e lo­cais de tra­balho e cons­truída no quadro de uma for­tís­sima ofen­siva ide­o­ló­gica, cons­ti­tuiu uma po­de­rosa res­posta das massas tra­ba­lha­doras à brutal ofen­siva da po­lí­tica de di­reita e ex­pressou, de forma inequí­voca, a con­de­nação dessa po­lí­tica e a exi­gência de um novo rumo para o Pais.

Pros­se­guir e acen­tuar essa res­posta, essa con­de­nação e essa exi­gência, é a ta­refa fun­da­mental que se co­loca às massas tra­ba­lha­doras – uma ta­refa cujo êxito es­tará tanto mais pró­ximo quanto mais fortes e par­ti­ci­padas forem as lutas no fu­turo ime­diato.