Números recentes ilustram sistema criminoso

Capital norte-americano engorda enquanto os trabalhadores definham

A taxa de de­sem­prego e a po­breza avançam nos EUA en­quanto os lu­cros do grande ca­pital batem re­cordes. A si­tu­ação as­sume con­tornos cri­mi­nosos quando De­mo­cratas e Re­pu­bli­canos ali­viam a carga fiscal sobre a grande bur­guesia e a trans­ferem para os tra­ba­lha­dores, a quem cor­taram ainda o sub­sídio de de­sem­prego e ou­tros be­ne­fí­cios.

«Os lu­cros do ca­pital nos EUA batem re­cordes com 60 anos»

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Foto LUSA

A taxa de de­sem­prego ofi­cial nos EUA subiu para 9,8 por cento em No­vembro, o mais alto ín­dice em sete meses e o 19.º mês con­se­cu­tivo com uma taxa acima dos 9 pontos per­cen­tuais, o mais longo pe­ríodo desde a Se­gunda Grande Guerra Mun­dial

O total de tra­ba­lha­dores ad­mi­tidos como de­sem­pre­gados cifra-se, assim, acima dos 15 mi­lhões, dos quais cerca de 40 por cento se en­con­tram de­so­cu­pados há mais de meio ano. Em média, um tra­ba­lhador ne­ces­sita de quase 34 se­manas para en­con­trar um novo posto de tra­balho.

A estes, há que somar os cerca de 2,5 mi­lhões de tra­ba­lha­dores norte-ame­ri­canos que, de acordo com as es­ta­tís­ticas, de­sis­tiram de pro­curar em­prego, aos quais acrescem ou­tros 9 mi­lhões que, tra­ba­lhando a tempo par­cial, pre­tendem uma co­lo­cação a tempo in­teiro.

Tudo so­mado, são já mais de 26,5 mi­lhões de norte-ame­ri­canos di­rec­ta­mente atin­gidos pelas con­sequên­cias da crise ca­pi­ta­lista no mer­cado de tra­balho, isto é, cerca de 17 por cento da po­pu­lação ac­tiva dos EUA ou, se qui­sermos, um sexto dos adultos em idade la­boral.

Se con­ta­bi­li­zarmos as fa­mí­lias, então o con­junto das pes­soas en­vol­vidas di­recta ou in­di­rec­ta­mente pelo fla­gelo do de­sem­prego as­cende aos 100 mi­lhões. Quase 25 por cento dos jo­vens ado­les­centes en­frentam o de­sem­prego cró­nico.

A re­toma do em­prego de que tanto se fala em Washington só é vi­sível de forma sig­ni­fi­ca­tiva, se­gundo os dados di­vul­gados pelas au­to­ri­dades, nos postos de tra­balho a tempo par­cial, uma vez que nos mai­ores sec­tores de ac­ti­vi­dade nos EUA con­tinua a as­sistir-se à san­gria de em­pregos a tempo in­teiro.

Entre o Es­tado Fe­deral e os mu­ni­cí­pios, a in­dús­tria, o co­mércio, a cons­trução civil e os ser­viços fi­nan­ceiros, foram de­la­pi­dados em No­vembro mais de 60 mil em­pregos. A cri­ação de postos de tra­balho só foi um facto nos sec­tores da saúde, edu­cação e tu­rismo. Os dois pri­meiros ani­mados pela cres­cente des­res­pon­sa­bi­li­zação do Es­tado e a de­cor­rente pri­va­ti­zação dos ser­viços pú­blicos, e o úl­timo à bo­leia dos altos ren­di­mentos da classe do­mi­nante e dos es­tratos a ela li­gados que, sem re­buços, gozam a abas­tança.

 

Si­tu­ação dra­má­tica

 

A si­tu­ação torna-se ainda mais dra­má­tica se con­si­de­rarmos que, entre o final deste ano e o de­curso de 2011, quase 10 mi­lhões de norte-ame­ri­canos vão perder a pres­tação so­cial re­ce­bida a tí­tulo de de­sem­prego. A de­cisão to­mada a se­mana pas­sada pelo Con­gresso dos EUA con­so­lidou-se após a re­vo­gação da ex­tensão dos be­ne­fí­cios aos de­sem­pre­gados findas 26 se­manas, me­dida que os de­pu­tados avi­saram não ser pos­sível voltar a re­tomar.

Dito de outro modo, os eleitos pelo povo na «grande de­mo­cracia norte-ame­ri­cana» as­sumem que, ter­mi­nado o tra­di­ci­onal pe­ríodo de be­ne­fício, os de­sem­pre­gados não terão di­reito aos mi­se­rá­veis 300 dó­lares se­ma­nais que, em média, o Es­tado lhes atribui.

Mais, cerca de dois mi­lhões de tra­ba­lha­dores fe­de­rais têm, por de­cisão de Obama, os res­pec­tivos sa­lá­rios con­ge­lados. A ad­min­si­tração De­mo­crata acordou ainda com os Re­pu­bli­canos impor um pa­cote fiscal que recai de forma brutal sobre os tra­ba­lha­dores e as fa­mí­lias, com re­flexos no con­sumo, na saúde, na edu­cação e nas de­du­ções, ao mesmo tempo que pre­para a ma­nu­tenção das es­can­da­losas isen­ções à grande bur­guesia her­dadas da ad­mi­nis­tração Bush.

Re­corde-se que as es­ti­ma­tivas in­dicam que, nos EUA, 44 mi­lhões de pes­soas vivem na po­breza, 19 mi­lhões dos quais na mais ab­so­luta mi­séria, e que cerca de 50 mi­lhões de adultos não ti­veram, em algum pe­ríodo do ano, um se­guro de saúde vá­lido.

Pres­supõe-se que, em 2009, um mi­lhão de cri­anças passou pelo menos um dia in­teiro sem ter o que comer.

 

À tripa forra

 

Em con­traste, os lu­cros do grande ca­pital norte-ame­ri­cano batem re­cordes com 60 anos. No ter­ceiro se­mestre deste ano, o lí­quido apu­rado al­cançou os 1,6 bi­liões de dó­lares, ad­mitiu o De­par­ta­mento do Co­mércio. Pelo sé­timo tri­mestre con­se­cu­tivo, os lu­cros do ca­pital crescem e cor­res­pondem agora a mais de 11 por cento do Pro­duto In­terno Bruto da nação.

A re­vista Forbes, por seu lado, diz que em 2010 o pa­tri­mónio dos 400 norte-ame­ri­canos mais ricos cresceu 8 por cento, su­pe­rando, por exemplo, o Pro­duto In­terno Bruto da Índia, país com mais de 1,2 mil mi­lhões de ha­bi­tantes.

No mesmo sen­tido, os bónus anuais dos altos qua­dros das 450 mai­ores em­presas dos EUA au­mentou 11 por cento no úl­timo ano fiscal, diz o Wall Street Journal, en­quanto que os di­vi­dendos dos ac­ci­o­nistas cres­ceram 29 por cento.

No ano pas­sado, os bónus das em­presas fi­nan­ceiras co­tadas na bolsa de va­lores de Wall Street cres­ceram 17 por cento. A com­pen­sação média dos exe­cu­tivos das grandes em­presas as­cendeu a 7,2 mi­lhões de dó­lares, mais 3 por cento, e os bónus su­biram 11 por cento para uma média de 1,6 mi­lhões de dó­lares.

Só nas ocu­pa­ções do Iraque e do Afe­ga­nistão, es­tima-se que os EUA gastem 500 mi­lhões de dó­lares por dia, fundos que, através da con­tra­tação de ser­viços por parte do De­par­ta­mento de De­fesa, acabam em grande parte nos bolsos do ca­pital.

 

Di­ta­dura do ca­pital fi­nan­ceiro

 

No topo dos es­po­li­a­dores do povo norte-ame­ri­cano está o ca­pital fi­nan­ceiro. De acordo com os nú­meros di­vul­gados pela Re­serva Fe­deral (Fed), entre De­zembro de 2007 e Julho de 2010, foram feitas 21 mil tran­sac­ções através de 11 li­nhas de cré­dito com um único sen­tido: do erário pú­blico para os mega-bancos, à bo­leia da «crise fi­nan­ceira» e a taxas de juro pró­ximas o zero.

Im­porta re­ferir que neste rol não está con­ta­bi­li­zado o mon­tante trans­fe­rido pelo então se­cre­tário do Te­souro de Bush, Henry Paulson, no valor de 700 mil mi­lhões de dó­lares, nem os de­mais cré­ditos ga­ran­tidos por pro­gramas es­ta­tais, os quais as­cendem a de­zenas de bi­liões de dó­lares.

Contas feitas, os cré­ditos do Fed ao ca­pital fi­nan­ceiro no pe­ríodo con­si­de­rado as­su­miram a as­tro­nó­mica quantia de 3,3 bi­liões de dó­lares, um quinto da ri­queza global pro­du­zida nos EUA.

A opor­tu­ni­dade aguçou o en­genho e, por exemplo, a gi­gante Goldman Sachs re­correu à Fed 84 vezes no es­paço de sete meses, ao passo que o Mer­rill Lynch apro­veitou a fa­ci­li­dade 226 vezes.

Mas não se pense que apenas o ca­pital fi­nan­ceiro norte-ame­ri­cano be­ne­fi­ciou das mãos largas do go­verno; também as su­cur­sais do UBS, Deutsche Bank ou BNP Pa­ribas go­zaram da fa­ci­li­dade.

Im­porta re­ferir que, se a Fed in­siste que grande parte destes em­prés­timos foram re­em­bol­sados, não é menos ver­dade que as ins­ti­tui­ções fi­nan­ceiras usaram o re­fe­rido ca­pital re­pro­du­zindo-o, por exemplo, em em­prés­timos con­ce­didos aos es­tados so­be­ranos ou em ope­ra­ções es­pe­cu­la­tivas.

 



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