O primeiro-ministro, ao apresentar ao País o incrível «pacote das 50 medidas» (onde a barbaridade mais grossa propõe que os trabalhadores passem a descontar para «financiar» o seu futuro despedimento), considerou que, por causa de tal originalidade legislativa, «os mercados olharão para a situação portuguesa finalmente com objectividade». E como ele próprio é muito «objectivo», Sócrates acrescentou que o seu Governo tomará no futuro as «medidas adicionais» de consolidação orçamental «que as circunstâncias impuserem».
Ou seja – e sempre com toda a objectividade – Sócrates, por um lado, apresenta uma multidão de 50 novas «medidas» (leia-se novos sacrifícios) para finalmente se alcançar a famigerada «consolidação orçamental» e, por outro, promete de imediato mais «medidas adicionais».
O que significa, linearmente, que o próprio Sócrates não acredita no que diz – que estas «50 medidas» vão «acalmar os mercados» -, ao ponto de acautelar, já e de imediato, a aplicação de novas «medidas».
O que significa, finalmente, que este homem é um poço sem fundo, sempre a dar mais e mais ao que a voracidade capitalista for exigindo.
Empresários
Segundo dados do INE, no final do terceiro trimestre deste ano havia menos 40 mil pessoas a trabalhar por conta própria do que no mês homólogo de 2009. Dirigentes sindicais não têm dúvida: «muitos estão a ver o seu negócio ruir porque não têm capacidade para enfrentar a voracidade do mercado». É um resultado inevitável, acrescentam, pois «incentiva-se os desempregados a criarem o seu próprio emprego, mas não se lhes dá a formação necessária».
Pois não. Apesar de, durante anos e décadas a fio, se ter inundado o País de cursos da treta, primeiro sobre o patrocínio directo da CEE, quando decorria a operação de desmantelamento do tecido produtivo nacional (nas pescas, na indústria e na agricultura), depois em operações de camuflagem do desemprego, com «cursos de formação» para todos os gostos.
O resultado está à vista: ao vasto exército de desempregados vão-se acrescentando legiões de «micro-empresários» que, entretanto, se arruinaram atrás de sonhos de «iniciativa própria» promovidos pelo Governo, na mira de assim baixar as estatísticas do desemprego sem, contudo, lhes dar o mínimo apoio ou formação.
Cantinas
Está a alastrar pelo país um movimento tão curioso como revelador: muitas escolas, geralmente com as respectivas autarquias por trás, a apoiar, estão a abrir as cantinas nas férias para alimentar os seus alunos, pois tornou-se-lhes evidente que cada vez mais crianças e jovens apenas encontram na escola a oportunidade de fruir uma refeição decente.
Por enquanto, as luminárias do Governo Sócrates, que não se cansam de inventar novas artimanhas para extorquir e esmifrar os cidadãos, ainda não reagiram a este «desaforo» das escolas e das autarquias em dar de comer aos jovens que têm fome.
Mas ponham-se todos a pau! Neste mundo de Sócrates e Cia, o mais certo é, um dia destes, estes almoços à borla para muitos milhares de crianças com fome levarem com uma taxa qualquer, com retroactivos e juros de mora!