Motivos de 2010 acentuam-se em 2011

Persistir e lutar

Em Faro, em Leiria e na Guarda pros­se­guiram os pro­testos dis­tri­tais com que a CGTP-IN marcou o pe­ríodo de Natal. Para Ja­neiro já estão anun­ci­adas novas ba­ta­lhas.

Mantêm-se as justas ra­zões para o pro­testo dos tra­ba­lha­dores

Image 6403

A «aus­te­ri­dade» no Or­ça­mento do Es­tado, o ataque aos sa­lá­rios e aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores, o em­ba­ra­te­ci­mento dos des­pe­di­mentos, a ofen­siva contra os ser­viços pú­blicos e os planos de pri­va­ti­zação mo­tivam a mo­bi­li­zação dos tra­ba­lha­dores e dos sin­di­catos no fecho de 2010. O rom­pi­mento do acordo de ac­tu­a­li­zação do sa­lário mí­nimo na­ci­onal e as úl­timas de­cla­ra­ções de go­ver­nantes e di­ri­gentes pa­tro­nais re­pre­sentam mo­tivos para es­perar que o ataque se in­ten­si­fique no pró­ximo ano. A res­posta está a ser pre­pa­rada.

«Já em Ja­neiro serão pro­mo­vidas formas de luta, que visem de­nun­ciar esta pro­vo­cação e mo­bi­lizar os tra­ba­lha­dores, por me­lhores sa­lá­rios e pela con­tra­tação co­lec­tiva», adi­antou a União dos Sin­di­catos de Braga, re­a­gindo ao anúncio de que o Go­verno apenas iria ac­tu­a­lizar em dez euros o sa­lário mí­nimo. Este abrange no dis­trito 80 por cento dos tra­ba­lha­dores por conta de ou­trem, que «são assim es­po­li­ados e lan­çados na po­breza», afirma a USB/​CGTP-IN.

«A hora é de luta», clama a União dos Sin­di­catos da Guarda, na re­so­lução que um grupo de ac­ti­vistas foi en­tregar, no dia 21, no Go­verno Civil. O apelo é di­ri­gido, em es­pe­cial, «a todos os tra­ba­lha­dores que au­ferem ou estão na beira do sa­lário mí­nimo na­ci­onal», num dis­trito onde a de­sin­dus­tri­a­li­zação se agravou desde 2004 e o em­prego total teve uma quebra de 1,2 por cento em apenas quatro anos, em con­traste com o au­mento mar­ginal (0,6 por cento) no País. A USG/​CGTP-IN re­alça que os sa­lá­rios na Guarda são os ter­ceiros mais baixos de Por­tugal, apenas su­pe­ri­ores aos re­gis­tados no Pico e na Gra­ciosa. A re­mu­ne­ração-base média em 2008 (639,96 euros) ficou 24 por cento abaixo da média na­ci­onal.

Nessa mesma tarde, a União dos Sin­di­catos de Leiria re­a­lizou uma dis­tri­buição de do­cu­mentos, frente ao Te­atro José Lúcio da Silva, exi­gindo se­ri­e­dade de pa­trões e Go­verno, no cum­pri­mento do acordo de 2006 sobre a ac­tu­a­li­zação do sa­lário mí­nimo. A mu­dança de po­lí­tica e o res­peito por quem tra­balha são ob­jec­tivos apon­tados pela USL/​CGTP-IN, para «uma luta que é de todos» os que vivem do seu tra­balho.

O de­sem­prego no dis­trito de Faro pode atingir em Ja­neiro va­lores iné­ditos, afec­tando mais de 33 mil pes­soas e ele­vando a taxa até perto dos 15 por cento, alertou a União dos Sin­di­catos do Al­garve, que no dia 22 re­a­lizou um pro­testo. De­zenas de di­ri­gentes e ac­ti­vistas des­fi­laram pela Rua de Santo An­tónio e pelo Jardim Ma­nuel Bívar, até ao Go­verno Civil, para aqui de­vol­verem as «prendas» do Exe­cu­tivo do PS e de José Só­crates. A par da con­de­nação do au­mento dos preços, da re­dução de sa­lá­rios, dos des­pe­di­mentos e da des­truição de car­reiras, aler­taram ainda para o pe­rigo, que per­siste, de des­truição do Grupo Ali­coop, por falta de con­cre­ti­zação dos apoios do poder po­lí­tico e do IAPMEI. Para a USAL/​CGTP-IN, as me­didas do Go­verno para fa­ci­litar os des­pe­di­mentos têm ca­rácter «cri­mi­noso» – como disse o di­ri­gente An­tónio Gou­lart, ci­tado pela agência Lusa.

Frente à sua sede, em Lisboa, a AH­RESP foi acu­sada de boi­cotar a ne­go­ci­ação co­lec­tiva e pro­mover os sa­lá­rios baixos.

No dia 22, a Fe­de­ração dos Sin­di­catos da Agri­cul­tura, Ali­men­tação, Be­bidas, Ho­te­laria e Tu­rismo chamou para ali a co­mu­ni­cação so­cial, para ex­pressar o seu pro­testo contra a re­cusa pa­tronal de as­sinar, desde 2003, qual­quer re­visão do con­trato co­lec­tivo das can­tinas e re­fei­tó­rios. Ao mesmo tempo, a AH­RESP in­siste em pro­postas ina­cei­tá­veis, como a jor­nada la­boral de 12 horas, a mo­bi­li­dade ou a po­li­va­lência. São pre­ju­di­cados quase 20 mil tra­ba­lha­dores, muitos destes de em­presas de grande di­mensão, como a Gertal, a So­dexo ou a Eu­rest.

No sector da res­tau­ração e be­bidas, foi acor­dada uma ta­bela sa­la­rial para 2009, mas a AH­RESP in­vi­a­bi­lizou a sua pu­bli­cação ofi­cial e tem re­cu­sado, ao longo do ano, ini­ciar as ne­go­ci­a­ções re­la­tivas à re­visão de 2010 – ex­plicou Jo­a­quim Pires, di­ri­gente da FE­SAHT e da CGTP-IN, ci­tado pela agência Lusa.

 

Fer­ro­viá­rios

 

Uma ma­ni­fes­tação na­ci­onal de fer­ro­viá­rios vai ter lugar no dia 12 de Ja­neiro, junto à re­si­dência ofi­cial do pri­meiro-mi­nistro, para exigir a va­lo­ri­zação dos sa­lá­rios, o de­sen­vol­vi­mento da con­tra­tação co­lec­tiva e o cum­pri­mento dos acordos. Nos ob­jec­tivos cen­trais da ma­ni­fes­tação – que é pre­ce­dida de uma con­cen­tração no Rossio – in­cluem-se ainda o com­bate às pri­va­ti­za­ções e aos des­pe­di­mentos e a de­fesa do ser­viço pú­blico e do tra­balho com di­reitos.

A de­cisão foi to­mada no dia 23, numa reu­nião pro­posta pelo Sin­di­cato Na­ci­onal dos Tra­ba­lha­dores do Sector Fer­ro­viário, da CGTP-IN, e na qual par­ti­ci­param as co­mis­sões de tra­ba­lha­dores da CP, da Refer, da EMEF e da CP Carga, o Sin­di­cato Fer­ro­viário da Re­visão Co­mer­cial Iti­ne­rante e a As­so­ci­ação Sin­dical dos Pro­fis­si­o­nais de Co­mando e Con­trolo Fer­ro­viário.

A par­ti­ci­pação nesta luta por parte de ou­tras or­ga­ni­za­ções de tra­ba­lha­dores ficou em aberto até amanhã.

 

Re­dução sa­la­rial «em larga es­cala»

 

As «50 me­didas» anun­ci­adas dia 15 pelo Go­verno, ale­gando como ob­jec­tivo a pro­moção da com­pe­ti­ti­vi­dade da eco­nomia, visam fun­da­men­tal­mente «a fa­ci­li­tação dos des­pe­di­mentos, no quadro de uma maior li­be­ra­li­zação do mer­cado de tra­balho e de uma re­dução sa­la­rial em larga es­cala, na linha do que vinha a ser de­fen­dido pela UE, a OCDE e o FMI». A po­sição da CGTP-IN foi dada a co­nhecer no dia 21, vés­pera da reu­nião da Con­cer­tação So­cial de onde sairia a de­cisão de não subir o sa­lário mí­nimo na­ci­onal para 500 euros no início de 2011.

Trata-se, es­sen­ci­al­mente, de «me­didas anti-so­ciais, des­ti­nadas a pro­vocar uma re­dução dos custos com o tra­balho, através da re­dução das re­tri­bui­ções, da des­re­gu­la­men­tação do em­prego e da pul­ve­ri­zação da con­tra­tação co­lec­tiva su­bor­di­nada aos in­te­resses pa­tro­nais», afirma a cen­tral, no do­cu­mento dis­tri­buído aos jor­na­listas.

As me­didas re­la­tivas à in­dem­ni­zação dos des­pe­di­mentos (com apli­cação de um tecto má­ximo) são apon­tadas pela In­ter­sin­dical como «re­ve­la­doras de su­bor­di­nação aos in­te­resses do poder eco­nó­mico».

No «pro­cesso de re­dução sa­la­rial em larga es­cala» que está em curso, a CGTP in­sere a re­dução do custo de des­pedir e me­didas como: os cortes sa­la­riais, pre­vistos na Ad­mi­nis­tração Pú­blica e em em­presas do sector em­pre­sa­rial do Es­tado; a di­mi­nuição dos en­cargos pa­tro­nais com o lay-off; a in­tenção de pul­ve­rizar a con­tra­tação co­lec­tiva, para a fra­gi­lizar; as al­te­ra­ções efec­tu­adas ao re­gime de sub­sídio de de­sem­prego, para re­duzir a sua taxa de subs­ti­tuição e forçar os de­sem­pre­gados a aceitar em­pregos de baixos sa­lá­rios.

São ne­ces­sá­rias, re­a­firma a Inter, «po­lí­ticas que pro­movam o cres­ci­mento eco­nó­mico e a cri­ação de mais e me­lhor em­prego, o in­ves­ti­mento na di­na­mi­zação do sector pro­du­tivo para a pro­dução de bens e ser­viços que re­duzam as im­por­ta­ções e o en­di­vi­da­mento do País, a di­na­mi­zação do mer­cado in­terno através do au­mento do poder de compra dos sa­lá­rios e das pen­sões, para fazer face à ca­restia de vida, e o re­forço da pro­tecção e dos apoios so­ciais para os de­sem­pre­gados e as fa­mí­lias mais ca­ren­ci­adas», e «uma po­lí­tica eco­nó­mica que tenha como re­fe­rência cen­tral os tra­ba­lha­dores e a po­pu­lação em geral e não os in­te­resses dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros».



Mais artigos de: Trabalhadores

Parar os cortes salariais

A Frente Comum for­ma­lizou o pe­dido de apre­ci­ação pre­ven­tiva da cons­ti­tu­ci­o­na­li­dade da re­dução sa­la­rial pre­vista no OE para 2011. Ac­ções de luta estão mar­cadas para Ja­neiro.

Poupança chocante

«É chocante a satisfação do Governo pelas poupanças que fez na Segurança Social», protestou dia 23 a CGTP-IN, numa nota de imprensa a propósito da revelação de que foram gastas menos algumas dezenas de milhões de euros, ou seja, que dez mil...

Nem ADSE nem CM nem ME

Milhares de trabalhadores não docentes, inscritos na ADSE, foram transferidos do Ministério da Educação para as câmaras municipais, e estão numa situação que o STAL condena e para a qual exige imediata solução. Reagindo a notícias publicadas dia...