AS MENSAGENS DA HIPOCRISIA

«A si­tu­ação co­loca aos tra­ba­lha­dores exi­gên­cias de luta in­con­tor­ná­veis»

À «men­sagem de Natal» do pri­meiro-mi­nistro – a que aqui alu­dimos há uma se­mana - se­guiu-se a «men­sagem de Ano Novo» do Pre­si­dente da Re­pú­blica.

Tratou-se, no que res­peita às ques­tões es­sen­ciais, de dois dis­cursos a uma só voz, de duas re­pre­sen­ta­ções da mesma farsa – e, acima de tudo, de dois exer­cí­cios de pro­funda hi­po­crisia.

Desta vez, a re­pre­sen­tação do «men­sa­geiro» de ser­viço foi em torno das «pre­o­cu­pa­ções com a po­breza» - tema sobre o qual Ca­vaco Silva dis­correu como se não fosse co-res­pon­sável no Or­ça­mento do Es­tado ge­rador de mais po­breza – e como se os por­tu­gueses es­ti­vessem es­que­cidos da sua acção ne­fasta, nos dez anos em que, en­quanto pri­meiro-mi­nistro, con­so­lidou e apro­fundou a po­lí­tica de di­reita, in­ten­si­fi­cando-a e le­vando-a mais longe em tudo o que ela tem de mais per­verso para os tra­ba­lha­dores, o povo e o País.

Na sua «men­sagem de Ano Novo», Ca­vaco Silva, ele­vando a hi­po­crisia a um pa­tamar su­pe­rior, ma­ni­festou as suas «pre­o­cu­pa­ções» com a «re­par­tição dos sa­cri­fí­cios», que, disse ele, deve ser feita «sem ex­cep­ções ou pri­vi­lé­gios» - como se não sou­besse que o Or­ça­mento do Es­tado que ele apa­dri­nhou já tinha tra­tado do as­sunto à boa ma­neira da po­lí­tica de di­reita: ati­rando todos os sa­cri­fí­cios para os tra­ba­lha­dores e para o povo e ofe­re­cendo todos os pri­vi­lé­gios aos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros.

Sem sur­presa, as «so­lu­ções» para a po­breza apre­sen­tadas por ambos os «men­sa­geiros» são, no es­sen­cial, as mesmas: as mi­se­ri­cór­dias, as mu­tu­a­li­dades, o as­sis­ten­ci­a­lismo, numa pa­lavra: a ca­ri­dade - que cons­titui, como se vê, a ex­pressão maior das «pre­o­cu­pa­ções so­ciais» co­muns aos dois…

José Só­crates e Ca­vaco Silva são dois dos prin­ci­pais res­pon­sá­veis pela si­tu­ação dra­má­tica do País e pelos graves pro­blemas que afligem a imensa mai­oria dos por­tu­gueses. E essa é uma re­a­li­dade que não é al­te­rada pelo facto de se terem mos­trado exí­mios na des­pu­do­rada ope­ração de sa­cudir a água do ca­pote no que res­peita a essas re­centes e an­tigas, mas bem con­cretas, res­pon­sa­bi­li­dades.

 

Também a tese das «ine­vi­ta­bi­li­dades» es­teve pre­sente nas duas «men­sa­gens»: para José Só­crates como para Ca­vaco Silva, é «ine­vi­tável» tudo o que fa­vo­reça os in­te­resses dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros – o que torna igual­mente «ine­vi­tável» tudo o que fla­gela as con­di­ções de tra­balho e de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo.

E assim pro­curam jus­ti­ficar o de­sastre na­ci­onal que é a con­sequência da po­lí­tica que pra­ticam e querem con­ti­nuar a pra­ticar.

Para este ano, o que já chegou é ter­rível - e o que está para chegar é ainda pior.

Os efeitos do Or­ça­mento do Es­tado da po­lí­tica de di­reita estão à vista, desde já, neste mês de Ja­neiro, com o brutal au­mento dos preços dos bens es­sen­ciais – um au­mento que cons­titui um au­tên­tica aten­tado contra as con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo.

E es­tarão à vista, agra­vados, no fim do mês, quando aos au­mentos dos preços se jun­tarem os cortes nos sa­lá­rios - esse outro exemplo de «pre­o­cu­pa­ções so­ciais» e de sa­cri­fí­cios dis­tri­buídos «sem ex­cep­ções ou pri­vi­lé­gios», de que falam José Só­crates e Ca­vaco Silva.

E avo­lumar-se-ão se, em obe­di­ência às or­dens do grande ca­pital e no quadro da ver­go­nhosa chan­tagem em torno da «en­trada» do FMI, os exe­cu­tantes da po­lí­tica de di­reita lo­grarem con­cre­tizar as anun­ci­adas al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral, li­qui­dando mais e mais di­reitos dos tra­ba­lha­dores, er­guendo mais e mais obs­tá­culos à luta das massas po­pu­lares, cri­ando con­di­ções para acen­tuar mais e mais a ex­plo­ração.

A tudo isto, os dois «men­sa­geiros» as­so­biam para o lado e tentam

des­viar as aten­ções da­queles que são, de facto, os res­pon­sá­veis pela si­tu­ação exis­tente – ab­sol­vendo a po­lí­tica de di­reita e os que, há 34 anos con­se­cu­tivos, a exe­cutam, e pro­cu­rando ali­mentar a ideia de que não há al­ter­na­tiva a esta si­tu­ação. Ou que a «al­ter­na­tiva» ao PS é o PSD e vice-versa, num caso e no outro sempre em co­o­pe­ração es­tra­té­gica com Ca­vaco Silva…

 

Esta si­tu­ação co­loca aos tra­ba­lha­dores, às po­pu­la­ções, ao povo por­tu­guês exi­gên­cias de luta in­con­tor­ná­veis: exi­gên­cias de luta in­ten­si­fi­cada e di­ver­si­fi­cada – de forma a atrair a par­ti­ci­pação de todos os que são pe­na­li­zados pela po­lí­tica de di­reita, de todos os que são fus­ti­gados pelos efeitos dos PEC e do Or­ça­mento do Es­tado; exi­gên­cias de luta por uma rup­tura com esta po­lí­tica ao ser­viço dos in­te­resses do grande ca­pital e pela con­quista de uma po­lí­tica que sirva os in­te­resses e res­peite os di­reitos dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

E com a cons­ci­ência de que a luta vai ser di­fícil e pro­lon­gada, vai exigir muitos es­forços, muita de­ter­mi­nação, muita con­fi­ança – e que é isso que a torna in­dis­pen­sável e de­ter­mi­nante.

É neste es­forço de luta e neste quadro de exi­gên­cias que se in­sere a can­di­da­tura pre­si­den­cial do ca­ma­rada Fran­cisco Lopes e a cam­panha po­lí­tica de massas que dela de­corre – uma cam­panha que, quer pela in­tensa e es­cla­re­ce­dora in­ter­venção do can­di­dato, quer pela acção fun­da­mental das or­ga­ni­za­ções e dos mi­li­tantes e amigos do Par­tido, tem feito chegar a mi­lhares e mi­lhares de por­tu­gueses, com ni­tidez, a ideia de que Por­tugal e os por­tu­gueses não estão con­de­nados à «ine­vi­ta­bi­li­dade» da po­lí­tica de di­reita, do de­sem­prego, dos baixos sa­lá­rios, das pen­sões e re­formas de mi­séria, da po­breza, da fome; que o que é ine­vi­tável, de facto, é um novo rumo para o País e que esse novo rumo será al­can­çado através da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo – os quais, no dia 23 de Ja­neiro, terão como arma de luta prin­cipal o voto: o voto em Fran­cisco Lopes, o can­di­dato dos tra­ba­lha­dores.