Falando do analfabetismo político

Aurélio Santos

Dizia Ber­told Bre­chet que «não há pior anal­fa­beto que o anal­fa­beto po­lí­tico». Pois bem: ve­jamos como re­duzir esse anal­fa­be­tismo po­lí­tico, que gera o po­lí­tico vi­ga­rista…

Eu diria que uma das pre­o­cu­pa­ções do PCP ao longo dos seus 90 anos de vida tem sido com­bater esse anal­fa­be­tismo po­lí­tico. Muitas vezes em con­di­ções bem di­fí­ceis e em cir­cuns­tân­cias ad­versas.

Um anal­fa­beto po­lí­tico está em geral cre­du­la­mente con­di­ci­o­nado pelas ide­o­lo­gias do­mi­nantes que o de­sen­formam desde a es­cola aos ór­gãos de grande ti­ragem e au­di­ência, im­pondo es­quemas men­tais que fazem dou­trina, desde o «toda a gente diz» ou «vem nos jor­nais» ao so­lene «disse na TV».

Mé­rito do PCP tem sido fazer a al­fa­be­ti­zação a partir dos con­ceitos e ob­jec­tivos con­cretos e ime­di­atos da es­ma­ga­dora mai­oria dos ci­da­dãos. Mas os fe­nó­menos que re­gulam as so­ci­e­dades hu­manas são muito com­plexos porque neles in­ter­ferem os in­te­resses con­tra­di­tó­rios das vá­rias classes so­ciais.

Claro que as classes ex­plo­ra­doras que do­minam o poder po­lí­tico pre­tendem fazer crer que os seus in­te­resses são os «in­te­resses ge­rais». Mas esse verniz es­tala nos mo­mentos de crise. Como aquele que agora vi­vemos.

Salta à vista que «a crise» está ser­vindo não para re­cair na­queles que a pro­vo­caram mas sim na­queles que eles es­po­li­aram. E as me­didas «para re­solver a crise» estão a ser usadas para uma ofen­siva do ca­pi­ta­lismo mais sel­vagem, numa po­lí­tica que está ba­tendo à porta de toda a gente. Nuns, porque com essa po­lí­tica se apo­deram da pro­di­giosa ri­queza que os ho­mens são hoje ca­pazes de pro­duzir. Nou­tros porque são as ví­timas di­rectas deste sis­tema; e nou­tros ainda porque não com­pre­endem que estão sim­ples­mente em lista de es­pera para se jun­tarem ao exér­cito dos já sa­cri­fi­cados.

Mas ter­mi­nemos com uma nota mais op­ti­mista, ainda com re­curso a Brecht: «Nossos ini­migos dizem: A luta ter­minou. Mas nos di­zemos: «Não. Ela apenas co­meçou».



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