É um burguês!

João Frazão

Veio-me à ideia um dos po­emas do Ary, do con­junto «Três re­tratos à lá mi­nuta», quando, ao fo­lhear o JN de do­mingo, tro­peço numa en­tre­vista ao pre­si­dente exe­cu­tivo da SONAE SGPS. São duas pá­ginas em que o en­ge­nheiro quí­mico, li­cen­ciado na Suíça, «ar­ro­tando ri­queza acu­mu­lada», se van­gloria dos re­sul­tados da sua em­presa (ele não diz, mas cres­ceram mais de 12% no ano pas­sado, para os 192 mi­lhões de euros), afir­mando o seu op­ti­mismo face aos tempos que se avi­zi­nham.

Em meio de ne­gó­cios feitos e ne­go­ci­atas a fazer – «um baú de to­lices. Uma cha­tice» – Paulo Aze­vedo pro­nun­ciou-se sobre a si­tu­ação do País, apro­vei­tando para, pasme-se, so­li­da­rizar-se com «as ge­ra­ções mais novas» que «têm ra­zões de pro­testo».

O filho do ter­ceiro homem mais rico do País (afirma a Forbes) diz mesmo que «es­tamos todos à rasca». Sim, leram bem. Diz o Paulo dos Con­ti­nentes, da Op­timus, da Worten e do Pú­blico, que es­tamos todos à rasca! Mas que «é pre­ciso com­pre­ensão da ju­ven­tude», pois, se­gundo ele, «há uma di­fi­cul­dade geral do País». E disse isto sem que a en­tre­vis­ta­dora con­tra­pu­sesse, ao menos, o ar­gu­mento que não es­ta­remos todos na mesma, ou que os êxitos que Paulo Aze­vedo atrás des­cre­vera o isen­tava, pelo menos a ele, da con­dição de «à rasca». Mas nada, nem uma pa­lavra, nem o mais leve ques­ti­o­na­mento.

Fica pois pro­vado que não há li­mites para a des­fa­çatez. «Com sor­riso pas­sado a pur­pu­rina», um dos mais ricos ho­mens de Por­tugal, um dos que estão exac­ta­mente a ga­nhar com a crise, da­queles a quem as po­lí­ticas de di­reita servem, porque vivem à sombra e à mesa do Or­ça­mento, vem agora ques­ti­onar sobre quem será credor de quem, pe­dindo com­pre­ensão e sen­tido de sa­cri­fício aos jo­vens por­tu­gueses. Deve estar a pensar nos li­cen­ci­ados que con­trata por pouco mais do que o sa­lário mí­nimo para as suas caixas de su­per­mer­cado, na mais ab­so­luta pre­ca­ri­e­dade.

Por fim, Paulo Aze­vedo deixa en­tender porque tem con­fi­ança no fu­turo, no que pode ser con­si­de­rado um clás­sico do ca­pital. É que, es­tando bem ser­vido com o go­verno que agora está de turno, já está a dar con­tri­butos para um fu­turo go­verno que, es­pera ele, venha a ser li­de­rado pelo PSD, ser­vindo-o de igual ma­neira.

É como diz o Ary. «Para dizer quem é, basta o que disse... é um bur­guês!»



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