Médio Oriente e Norte de África

A ferro e fogo

En­quanto na Líbia os re­beldes re­con­quistam ter­reno às forças re­gu­lares se­guindo o rasto dos im­pi­e­dosos bom­bar­de­a­mentos das forças agora co­man­dadas pela NATO (entre sexta-feira e sá­bado, EUA, França e Grã-Bre­tanha des­pe­jaram sobre três ci­dades lí­bias mais de 215 mís­seis, per­mi­tindo aos in­sur­gentes to­marem de as­salto im­por­tantes com­plexos pe­tro­lí­feros), o go­verno li­de­rado por Mu­ammar Kah­dafi rei­terou a dis­po­sição para di­a­logar com os in­sur­rectos, para aceitar a me­di­ação da União Afri­cana e instou-os a parar com os mas­sa­cres de civis, mas mos­trou-se firme quanto à ce­dência do poder.

Em con­fe­rência de im­prensa, o porta-voz do exe­cu­tivo líbio, Moussa Ibrahim, não ac­tu­a­lizou o nú­mero de ví­timas em re­sul­tado dos bom­bar­de­a­mentos deste fim-de-se­mana, mas num ba­lanço efec­tuado a meio da se­mana pas­sada, o Mi­nis­tério da Saúde ga­rantia que pelo menos 114 pes­soas já ha­viam mor­rido e ou­tras 445 fi­caram fe­ridas.

Para já, os im­pe­ri­a­lista operam aber­ta­mente apenas através de bom­bar­de­a­mentos ou aba­tendo aviões lí­bios que voam na zona não con­si­de­rada de ex­clusão aérea (o que viola até a lata re­so­lução das Na­ções Unidas), mas de acordo com os ser­viços se­cretos russos, ci­tados pela Ria No­vosti, ga­rantem que a co­li­gação tem planos para uma se­gunda fase de agressão ter­restre.

As in­for­ma­ções russas pa­recem con­sis­tentes com a re­a­li­dade, já que a meio da se­mana pas­sada os EUA co­lo­caram no Me­di­ter­râneo cerca de quatro mil sol­dados de um corpo ex­pe­di­ci­o­nário que in­clui barcos an­fí­bios, aviões e he­li­cóp­teros de de­sem­barque de tropas.

Já na Síria, o curso das ma­ni­fes­ta­ções po­pu­lares de­sen­ca­de­adas no pas­sado dia 15 de Março tomam um curso si­nuoso. De acordo com o en­viado es­pe­cial da Te­lesur ao país, o go­verno de Bashar al-Assad cedeu, quinta-feira, em toda a linha às rei­vin­di­ca­ções eco­nó­micas e po­lí­ticas, im­ple­men­tando uma série de re­formas sa­la­riais e nas con­di­ções de vida do povo, le­van­tando o Es­tado de emer­gência de­cre­tado há dé­cadas e abrindo o pro­cesso de le­ga­li­zação de par­tidos po­lí­ticos.

Não obs­tante os pro­testos con­ti­nu­aram, mas nos casos am­pli­fi­cados pela co­mu­ni­cação so­cial, as ma­ni­fes­ta­ções em La­takia e Deraá, o re­pórter Hisham Wan­nous re­lata uma versão di­fe­rente dos acon­te­ci­mentos, con­fir­mando a quase to­ta­li­dade das in­for­ma­ções di­vul­gadas pelas au­to­ri­dades de Da­masco.

De acordo com a Te­lesur, oito dos 14 mortos de La­takia eram mem­bros das forças de se­gu­rança, en­quanto que os de­mais eram ci­da­dãos sí­rios apa­nhados nos dis­paros de um grupo ar­mado que cir­cu­lava pela ci­dade. Em Deraá, os civis terão sido mortos por franco-ati­ra­dores.

As forças re­pres­sivas sí­rias já cap­tu­raram um grupo ar­mado que será o su­posto res­pon­sável pelo in­ci­dente em La­takia. Os ho­mens ti­nham ale­ga­da­mente em seu poder um forte ar­senal de armas e mu­ni­ções e ele­vadas quan­tias de di­nheiro. Acresce que a po­lícia de­teve um ci­dadão de dupla na­ci­o­na­li­dade, egípcio-norte-ame­ri­cano, que terá con­fes­sado ter sido pago para pro­mover um clima de caos no meio dos pro­testos. O in­di­víduo con­fessou ter um con­tacto co­lom­biano e vi­ajou para a Síria via Jor­dânia pro­ve­ni­ente de Is­rael, no­ti­ciou ainda o jor­na­lista da Te­lesur.

Pa­ra­le­la­mente, no Bah­rein e na Jor­dânia, pros­se­guem os pro­testos, com mi­lhares de pes­soas a sair às ruas, entre quarta e sexta-feira da se­mana pas­sada, e os con­frontos a su­ceder-se entre po­lícia, opo­si­tores e apoi­antes dos re­gimes. Se em Ma­nama, ca­pital do Bah­rein, os con­tes­ta­tá­rios or­ga­ni­zaram mais uma grande acção de massas só dis­persa com re­curso a gás la­cri­mo­géneo, em Amam, ca­pital da Jor­dânia, foram os apoi­antes do rei quem, esta se­mana, terá su­pe­rado em nú­mero os ma­ni­fes­tantes que exigem re­formas. Pelo menos uma cen­tena de jor­danos fi­caram fe­ridos du­rante os con­frontos.

No Iémen, Ali Saleh e os seus apoi­antes re­jeitam aban­donar o poder mesmo pe­rante ma­ni­fes­ta­ções diá­rias de mi­lhares de pes­soas e de­zenas de mortos fruto da re­pressão e de ata­ques de grupos ar­mados a ins­ta­la­ções mi­li­tares, num au­tên­tico am­bi­ente de guerra civil que só não ter­mina com a queda do re­gime porque o se­cre­tário da De­fesa dos EUA, Ro­bert Gates, vai dando eco aos te­mores de que a saída de Saleh possa co­locar em causa a luta contra os ter­ro­ristas na pe­nín­sula.

No meio do ferro e fogo em que se en­contra toda a re­gião que vai do Norte de África ao Médio Ori­ente, Is­rael apro­veita para cas­tigar o povo pa­les­ti­niano e bom­bar­dear Gaza. Du­rante toda a se­mana, com um saldo de pelo menos oito mortos, de­zenas de fe­ridos e avul­tados danos ma­te­riais.



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