Histórias de um Conselho Europeu

João Frazão

Ainda que isto vos possa pa­recer es­tranho (mesmo aos que tentam manter-se in­for­mados), o que acon­teceu no úl­timo Con­selho Eu­ropeu foi mais do que uma reu­nião de so­li­da­ri­e­dade para com o en­tre­tanto de­mis­si­o­nário pri­meiro-mi­nistro por­tu­guês.

Eu bem sei que aquilo que apa­receu na Co­mu­ni­cação So­cial do­mi­nante (e do­mi­nada), e par­ti­cu­lar­mente nas te­le­vi­sões, foram os apertos de mão e os abraços dos con­sortes eu­ro­peus de José Só­crates, os gestos de so­li­da­ri­e­dade pes­soal e uma ou outra lá­grima já de sau­dade an­te­ci­pada.

Se Ber­lus­coni, de pas­sagem para uma au­di­ência no tri­bunal de Milão onde foi res­ponder por fraude, foi efu­sivo ao ponto de pregar um beijo na bo­checha de Só­crates, An­gela Merkel não terá ido além do clás­sico ta­befe da pa­troa na ca­beça do moço de re­cados. São fei­tios!

Mas de facto o Con­selho Eu­ropeu foi muito para além disso. O que ali se de­cidiu não foram apenas as me­didas do PEC. Foi uma au­tên­tica de­cla­ração de guerra aos tra­ba­lha­dores e aos povos! O que é es­tranho, ou talvez não, é que sobre os seus con­teúdos a Co­mu­ni­cação So­cial do­mi­nante tenha dito nada!

Neste Con­selho Eu­ropeu deram-se novos e muito gra­vosos passos no ataque à so­be­rania na­ci­onal, no roubo aos sa­lá­rios e aos di­reitos de quem tra­balha. Foi o Con­selho onde os go­vernos acor­daram entre si (Só­crates in­cluído) que o FMI se deve ins­talar de armas e ba­ga­gens na sala de jantar dos países que os grandes de­ter­mi­narem. E Passos Co­elho que não es­teve no dito Con­selho, soube pela se­nhora Merkel que também deve estar de acordo.

O que talvez possa ex­plicar a po­sição do PSD de fazer de conta que não sabe o que se está a passar! A não ser que Passos Co­e­lhos e a ra­pa­ziada do PSD es­tejam, não pre­o­cu­pados, mas antes sa­tis­feitos por estas gro­tescas me­didas, para amanhã, quando contam ser go­verno, po­derem jus­ti­ficar a con­ti­nu­ação do rumo de de­clínio na­ci­onal, com as de­ter­mi­na­ções eu­ro­peias.

E talvez tudo isto ex­plique porque é que, tendo o PCP re­a­li­zado uma ini­ci­a­tiva com de­pu­tados eu­ro­peus de cinco países di­fe­rentes, com a par­ti­ci­pação do seu Se­cre­tário- geral, exac­ta­mente no dia e sobre as te­má­ticas do Con­selho Eu­ropeu, apenas a Lusa a tenha acom­pa­nhado, em­bora sem grande re­flexo pú­blico. Eles sabem bem quem lhes morde!



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