VOTAR SABENDO PORQUÊ E PARA QUÊ

«Se­ri­e­dade na po­lí­tica é coisa des­co­nhe­cida por parte dos par­tidos da troika na­ci­onal»

Enquanto o Go­verno de José Só­crates pros­segue a tra­di­ci­onal ope­ração de caça ao voto na mo­da­li­dade das inau­gu­ra­ções e do vale-tudo na uti­li­zação abu­siva do apa­relho de Es­tado, o PS, o PSD e o CDS/​PP de­su­nham-se em acu­sa­ções mú­tuas sobre a res­pon­sa­bi­li­dade da si­tu­ação dra­má­tica exis­tente.

E há que re­co­nhecer que estão todos cheios de razão. Com efeito, são eles – e só eles – os res­pon­sá­veis pelo afun­da­mento do País, na me­dida em que foram eles – e só eles – que du­rante trinta e cinco anos con­se­cu­tivos foram go­verno, le­vando por di­ante uma po­lí­tica comum aos três.

Trata-se de um facto in­con­tes­tável que im­porta re­lem­brar es­pe­ci­al­mente neste tempo em que todos eles fazem tudo para que isso seja es­que­cido. Re­pi­tamos, então: foram eles, e só eles – PS e PSD, so­zi­nhos, ou de braço dado, ou cada um deles com o CDS-PP atre­lado – que ocu­param o poder nas úl­timas três dé­cadas e meia. Assim tendo sido, a quem as­sacar res­pon­sa­bi­li­dades senão a eles, aos que lá es­ti­veram sempre?

In­con­tes­tável é, igual­mente, o facto de esta troika da po­lí­tica de di­reita se pre­parar, agora, para pros­se­guir a mesma po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal, desta vez sob a tu­tela da troika do grande ca­pital fi­nan­ceiro – tu­tela que todos eles aceitam, aplaudem e agra­decem, sa­bendo que estão a aceitar, aplaudir e agra­decer um pacto de sub­missão e agressão que en­cur­rala Por­tugal num si­nistro beco sem saída com con­sequên­cias de­sas­trosas para a in­de­pen­dência e a so­be­rania na­ci­o­nais.

Na bur­lesca re­pre­sen­tação da troika par­ti­dária na­ci­onal a questão dos «pro­gramas elei­to­rais» emerge como mo­mento alto da farsa: cada um fin­gindo que tem um pro­grama elei­toral pró­prio, pro­curam iludir o elei­to­rado, tapar com uma pe­neira o sol da re­a­li­dade que é a adopção, pelos três, do mesmo pro­grama, o que foi de­fi­nido e de­ci­dido pela troika FMI/BCE/UE e aceite por eles – ou seja, o Pro­grama Comum das Troikas.

 

Ao mesmo tempo, os far­santes – unidos unha com carne como é da praxe – in­ten­si­ficam a cam­panha de me­no­ri­zação e des­cre­di­bi­li­zação do PCP, do seu papel, das suas po­si­ções, das suas aná­lises, das suas pro­postas.

Não lhes convém que a apre­ci­ação dos co­mu­nistas à re­a­li­dade na­ci­onal e a iden­ti­fi­cação ri­go­rosa que fazem das causas e dos cau­sa­dores do es­tado a que o País chegou seja con­si­de­rada como ele­mento de re­flexão para o elei­to­rado – de forma a que este possa votar com co­nhe­ci­mento de causa e em cons­ci­ência.

Muito menos lhes convém que as pro­postas do PCP para dar a volta à grave si­tu­ação em que eles mer­gu­lharam o País che­guem aos elei­tores e que estes se aper­cebam de que elas são, não apenas justas, mas in­dis­pen­sá­veis, re­a­listas e de ur­gente apli­cação – que elas são, na si­tu­ação ac­tual, a única res­posta à po­lí­tica de di­reita e a res­posta ne­ces­sária aos graves pe­rigos con­tidos na fa­mi­ge­rado pacto de sub­missão e agressão.

Pôr Por­tugal a pro­duzir, cri­ando em­prego e cri­ando ri­queza – a ri­queza que só o tra­balho pode criar – e pro­por­ci­onar uma justa dis­tri­buição dessa ri­queza no res­peito pelo in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo, é coisa que os apa­vora – a eles, os três, que há trinta e cinco anos vêm li­qui­dando a pro­dução na­ci­onal – in­dús­tria, agri­cul­tura, pescas – e que, em ma­téria de dis­tri­buição da ri­queza fi­zeram Por­tugal re­gressar à brutal in­jus­tiça dos tempos do fas­cismo.

O seu con­ceito de dis­tri­buição da ri­queza só co­nhece – e é esse o seu prin­cípio bá­sico es­sen­cial – en­cher mais e mais os co­fres dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros e ex­plorar mais e mais os que tra­ba­lham e vivem do seu tra­balho, mar­ti­rizar mais e mais os re­for­mados e pen­si­o­nistas, roubar mais e mais fu­turo às jo­vens ge­ra­ções.

Menos lhes convém, ainda, que o elei­to­rado con­clua que, ao con­trário do que pro­palam os ideó­logos da po­lí­tica de di­reita e do pacto de sub­missão e agressão, os par­tidos e os po­lí­ticos não são todos iguais. E que, se é ver­dade, e é, que se­ri­e­dade na po­lí­tica é coisa des­co­nhe­cida por parte dos par­tidos da troika na­ci­onal – que mentem aos por­tu­gueses, que ma­ni­pulam, que mis­ti­ficam –, para os par­tidos que com­põem a CDU a se­ri­e­dade na po­lí­tica é uma questão de prin­cípio, as­sente no res­peito pelos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

 

É tudo isto que deve vir a lume nesta cam­panha elei­toral. É tudo isto que – com a ver­dade e a se­ri­e­dade que são ca­rac­te­rís­ticas in­trín­secas do PCP e das res­tantes com­po­nentes da Co­li­gação De­mo­crá­tica Uni­tária – deve ser co­lo­cado aos elei­tores, con­vo­cando-os a optar sa­bendo porquê e para quê: com lu­cidez.

E se assim for feito, se os ac­ti­vistas da CDU, com o seu es­forço, a sua de­ter­mi­nação, a sua en­trega, fi­zerem chegar a sua men­sagem onde ela deve chegar, muitos serão cer­ta­mente os ho­mens, mu­lheres e jo­vens que, tendo vo­tado em elei­ções an­te­ri­ores nos par­tidos da po­lí­tica de di­reita – e, por­tanto, contra os seus pró­prios in­te­resses – serão con­quis­tados para o voto certo: o voto na rup­tura e na mu­dança para tirar o País deste rumo de de­clínio e afun­da­mento na­ci­onal; o voto na jus­tiça so­cial e no res­peito pelos in­te­resses e di­reitos da imensa mai­oria dos por­tu­gueses; o voto na única força que, pelo seu pas­sado, dá ga­ran­tias de cum­prir com o que se com­pro­mete; o voto na in­de­pen­dência e na so­be­rania na­ci­onal; o voto em quem, cer­teza certa, o uti­li­zará para in­ten­si­ficar e am­pliar a luta e impor a mu­dança ne­ces­sária; o voto em quem, cer­teza certa, o uti­li­zará ao ser­viço dos in­te­resses dessa imensa mai­oria de por­tu­gueses – enfim, o voto em gente séria e de pa­lavra: o voto na CDU.