Mas quem será?

João Frazão

Eu sei que esta co­luna é para tratar de coisas sé­rias de forma séria. Mas eu não sou capaz de deixar de pensar nessa po­pular mú­sica que leva o tí­tulo que ti­tula a minha cró­nica, desde que soube que Bel­miro de Aze­vedo (não sei se estão a ver quem é?) afirmou à Lusa que «al­guém foi res­pon­sável por todos os por­tu­gueses es­tarem 30 a 40 por cento mais po­bres neste pe­ríodo mais re­cente», con­si­de­rando ainda que «tem que haver cul­pados».

Por mais voltas que dê não posso deixar de pensar que o autor desta mú­sica do top na­ci­onal es­taria já a pensar em ques­tões do gé­nero das que o homem, que é o ter­ceiro mais rico do nosso País, agora fe­liz­mente co­loca. É que, questão co­lo­cada, pos­si­bi­lita a busca atu­rada das res­postas que aqui faltam.

Ora eu li esta ques­tão­zinha de Bel­miro horas de­pois de ter ou­vido o Se­cre­tário-geral do PCP de­nun­ciar o facto de o mesmo Bel­miro, para ame­a­lhar mais uns co­bres para a sua bem amas­sada for­tuna, ter de­ci­dido lançar nos su­per­mer­cados de que é dono, e que anun­ciam que «o con­ti­nente somos todos nós», uma cam­panha de des­conto em queijos na ordem de 30%, tendo in­for­mado no dia a se­guir os for­ne­ce­dores de que se­riam eles a pagar a fac­tu­rinha do des­conto. E, feito isto, diz que ainda lhes está a fazer um favor de va­lo­ri­zação das marcas, e etc. e coisa e tal.

Ora isto tudo é uma es­pécie de ale­goria.

Bel­miro, um dos prin­ci­pais be­ne­fi­ciá­rios das po­lí­ticas de di­reita que PS, PSD e CDS le­varam a cabo nos úl­timos 35 anos, vende queijo mais ba­rato aos por­tu­gueses que, toda a gente sabe, dá cabo da me­mória das pes­soas, para de se­guida per­guntar como é que eu estou tão gordo, quando as em­presas que vendem para mim ema­grecem a olhos vistos.

Bel­miro vende queijos mais ba­ratos para que os por­tu­gueses se es­queçam e votem nos que ga­rantem a Bel­miro a im­pu­ni­dade para con­ti­nuar a ex­tor­quir os seus for­ne­ce­dores, na ge­ne­ra­li­dade pe­quenas em­presas, que ficam assim 30% mais po­bres.

Ou per­gun­tado de outra forma: será que um dos pais desta cri­ança é quem eu estou a pensar?



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