LEVAR O VOTO À LUTA

«O dia 5 foi dia de levar a luta ao voto. Agora, é tempo de levar o voto à luta»

O Co­mité Cen­tral do PCP, na sua reu­nião de terça-feira, ana­lisou os re­sul­tados das elei­ções le­gis­la­tivas e os pre­vi­sí­veis de­sen­vol­vi­mentos deles de­cor­rentes, ao mesmo tempo que se de­bruçou sobre a si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial do País, dando par­ti­cular atenção às também pre­vi­sí­veis con­sequên­cias do pro­grama de agressão e sub­missão de­cre­tado pela troika FMI/BCE/UE e aceite pela troika na­ci­onal com os aplausos do Pre­si­dente da Re­pú­blica – e sob o olhar vi­gi­lante e agra­dado do grande ca­pital.

Como não podia deixar de ser, o CC de­bateu e de­finiu ainda as prin­ci­pais ta­refas que, na si­tu­ação ac­tual, se co­locam ao co­lec­tivo par­ti­dário co­mu­nista.

O re­sul­tado ob­tido pela CDU – cons­ti­tuindo «um novo e es­ti­mu­lante sinal no sen­tido do cres­ci­mento que nos úl­timos anos tem vindo a re­gistar-se em elei­ções le­gis­la­tivas» – re­veste-se de ine­gável sig­ni­fi­cado na me­dida em que traduz um claro e cres­cente re­co­nhe­ci­mento da acção, das pro­postas e do papel do PCP e dos seus ali­ados na vida po­lí­tica na­ci­onal.

Num con­texto par­ti­cu­lar­mente des­fa­vo­rável – com os media do­mi­nantes, pro­pri­e­dade dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, a co­me­terem a proeza (jul­gada im­pos­sível) de se su­pe­rarem a si pró­prios em ma­téria de des­va­lo­ri­zação, si­len­ci­a­mento e ma­ni­pu­lação das ini­ci­a­tivas, das po­si­ções, das pro­postas e dos ob­jec­tivos do PCP e dos seus ali­ados – são por de­mais sig­ni­fi­ca­tivos os mais de 400 mil votos al­can­çados; o au­mento (ainda que li­geiro) da ex­pressão elei­toral da Co­li­gação De­mo­crá­tica Uni­tária; e, que­brando um longo pe­ríodo de vinte anos, a eleição de um de­pu­tado pelo cír­culo de Faro.

Tais re­sul­tados só foram pos­sí­veis graças à in­ter­venção dos mi­lhares de ac­ti­vistas e mi­li­tantes do PCP, da JCP, do PEV, da ID e in­de­pen­dentes, os quais – através da acção «um mi­lhão de con­tactos por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda» – er­gueram uma cam­panha sin­gular em ma­téria de es­cla­re­ci­mento sério, de ver­dade, de diá­logo e de res­peito pela in­te­li­gência dos elei­tores.

 

A com­provar que o re­sul­tado ob­tido pela CDU não agrada ao grande ca­pital, eis que os ana­listas e co­men­ta­dores de ser­viço se de­su­nham a es­pa­lhar a «con­clusão», uns, da der­rota dos par­tidos «à es­querda do PS», ou­tros da «der­rota da es­querda», os pri­meiros pro­cu­rando meter a CDU no saco da sig­ni­fi­ca­tiva der­rota do BE, os se­gundos pro­cu­rando meter a CDU no saco das der­rotas do PS e do BE…

Como su­blinha o Co­mité Cen­tral, «o re­sul­tado destas elei­ções – tra­du­zido numa mai­oria de de­pu­tados do PSD e do CDS – é es­sen­ci­al­mente ex­pressão di­recta de um apoio elei­toral di­tado pelo con­junto de pro­messas e in­ten­ções que aqueles dois par­tidos se­me­aram, es­con­dendo sempre que o me­mo­rando que subs­cre­veram com o FMI e a União Eu­ro­peia cons­ti­tuía de facto o seu único e ver­da­deiro pro­grama de acção». O pro­grama que, afinal, agora se pre­param para con­cre­tizar, sob os aplausos en­tu­siás­ticos das agên­cias de ra­ting, e que é uma au­tên­tica de­cla­ração de guerra às con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo e mais um grave passo no ca­minho do afun­da­mento de Por­tugal – um pro­grama ao qual, de garras afi­adas, visam acres­centar, entre ou­tras mal­fei­to­rias, mais uma ma­cha­dada na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa.

Isto en­quanto con­ge­minam o fu­turo go­verno, re­ga­te­ando pastas e mi­nis­té­rios e anun­ci­ando nomes de pro­vá­veis fu­turos mi­nis­tros, gé­meos no largo ca­dastro que pos­suem em ma­téria go­ver­na­tiva en­quanto mi­nis­tros de go­vernos do PS e do PSD e en­quanto exí­mios exe­cu­tores da po­lí­tica de di­reita que con­duziu Por­tugal à dra­má­tica si­tu­ação em que se en­contra.

Por seu lado, o PS viu justa e ine­qui­vo­ca­mente con­de­nada a po­lí­tica de di­reita com a qual o seu go­verno fla­gelou im­pi­e­do­sa­mente os tra­ba­lha­dores, o povo e o País: os 28% ob­tidos e a perda de mais de meio mi­lhão de votos, tra­du­zindo uma das suas mais baixas vo­ta­ções de sempre, cons­ti­tuem uma cla­mo­rosa der­rota que é in­se­pa­rável da per­sis­tente e com­ba­tiva luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções e da firme e co­e­rente de­núncia e opo­sição pro­ta­go­ni­zadas pelo PCP.

E as juras quanto ao cum­pri­mento do com­pro­misso as­su­mido com a troika ocu­pante, feitas por vá­rios di­ri­gentes do PS na noite as elei­ções, logo após a con­tagem dos votos, não deixam margem para dú­vidas sobre a pos­tura do PS no fu­turo.

 

Os tempos que aí vêm são tempos di­fí­ceis para os tra­ba­lha­dores, para o povo e para o País. São tempos que co­locam ao co­lec­tivo par­ti­dário co­mu­nista exi­gên­cias par­ti­cu­lares na di­na­mi­zação da re­sis­tência e da luta contra a po­lí­tica de di­reita e por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

Nos tempos que aí vêm temos muito que lutar – e isso exige um PCP mais forte. Mais forte em todos os as­pectos e em todo o lado: mais forte or­gâ­nica, in­ter­ven­tiva e ide­o­lo­gi­ca­mente; mais forte ali onde nasce e se de­sen­volve e ganha força a luta das massas tra­ba­lha­doras: nas em­presas e lo­cais de tra­balho.

 

O dia 5 foi dia de levar a luta ao voto: fi­zeram-no, vo­tando na CDU, mais de 400 mil ho­mens, mu­lheres e jo­vens que são os que, nas em­presas e lo­cais de tra­balho, nas lo­ca­li­dades, nas es­colas, nos campos, têm cons­ti­tuído o es­sen­cial do nú­cleo or­ga­ni­zador e di­na­mi­zador da luta das massas po­pu­lares.

Agora, é tempo de levar o voto à luta, é tempo de trans­formar o re­forço elei­toral desse nú­cleo num ele­mento im­pul­si­o­nador da in­ten­si­fi­cação e am­pli­ação da in­ter­venção or­ga­ni­zada dos tra­ba­lha­dores – in­cluindo nessa in­ter­venção muitos dos que, «mesmo tendo vo­tado nos par­tidos da troika ra­pi­da­mente se jun­tarão a nós em de­fesa dos seus di­reitos».