MAIS DO MESMO PARA PIOR
«Para os trabalhadores e o povo, a intensificação da luta apresenta-se como exigência imperativa»
Na altura em que um «novo» governo toma posse, vale a pena – e é necessário – relembrar que muitos «novos» governos tomaram posse ao longo dos últimos trinta e cinco anos – e que todos cumpriram à risca a tarefa de dar continuidade agravada à política de direita.
Foi assim que – ora com o PS (sozinho, aliado com o CDS ou com o PSD); ora com o PSD (sozinho, aliado com o PS ou com o CDS) – esses «novos» governos, cada um dando um novo passo em frente, fizeram Portugal chegar à dramática situação em que se encontra.
Continuando a relembrar: chamando «alternativa» à alternância programada que adoptaram, esses três partidos da política de direita desempenharam, ao longo dessas três décadas e meia, a farsa do ora agora governas tu e eu faço de «oposição», ora agora governo eu e o papel de «oposição» é teu… – todos aplicando, no essencial, a mesma política; todos governando no mesmo sentido e com o mesmo conteúdo; todos depositando nas garras do grande capital internacional significativos pedaços da independência e da soberania nacionais; todos violando ostensivamente a Constituição da República Portuguesa; todos agravando mais e mais as condições de trabalho e de vida da imensa maioria dos portugueses; todos enchendo mais e mais os cofres dos grandes grupos económicos e financeiros – e assim, todos como se fossem um só, dando andamento à criação de um regime de política única, com inequívoca marca de classe e de sentido diametralmente oposto à democracia de Abril e aos seus valores e princípios.
Por tudo isso – e por muito, muito mais que poderia ser dito – o «novo» governo PSD/CDS é coisa velha para cumprir velhos planos: é coisa velha para cumprir a velha tarefa que o grande capital lhe encomendou de dar continuidade agravada à política de direita que há trinta e cinco anos flagela impiedosamente os trabalhadores, o povo e o País.
Pode dizer-se então que, de acordo com a lógica da ordem natural das coisas em matéria de política de direita, o que há a esperar deste governo é que ele dê o seu passo em frente, para pior, em relação ao que o antecedeu; que cumpra a tradição de beneficiar ainda mais os exploradores e de prejudicar ainda mais os explorados; que leve ainda mais longe a ofensiva antipopular, antilaboral e antidemocrática – que se afirme na tradição, velha de trinta e cinco anos, do mais do mesmo para pior.
De facto, olhando para a composição do Governo PSD/CDS, o que primeiro salta à vista – e talvez de forma mais flagrante do que em anteriores governos – é a presença de pessoas cuja qualidade maior reside na total confiança nelas depositada pelo grande capital, que as vê como possuidoras de todos os atributos necessários para fazer com que o governo desempenhe eficazmente a função de conselho de administração dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros.
Aliás, os representantes do grande capital não só não escondem como fazem questão de ostentar e exibir o seu entusiasmo com a composição do elenco governativo.
«Empresários estão satisfeitos com perfil dos novos ministros», diz o Diário Económico de segunda-feira, sintetizando a opinião dada por dezassete empresários.
E são muitas e fortes as razões da satisfação generalizada que percorre o universo dos exploradores: os novos ministros «são mais profissionais e menos políticos» e «chegou o momento de os políticos deixarem os técnicos trabalhar, porque a gestão política foi um desastre» – como se estes ministros não fossem políticos e como se o desastre não fosse o resultado da aplicação da política que estes ministros vão prosseguir.
E é seguindo fixamente essa linha riscada no chão pelo patrões que, de cabeças baixas, correm os comentadores e analistas de serviço – também eles no cumprimento da tarefa que lhes está distribuída e os alimenta – que não se cansam de enaltecer aquilo a que chamam a «qualidade de independentes» da maior parte dos ministros: «independência» bem visível na satisfação manifestada pelos empresários…
O que há que esperar, sem margem para dúvidas, da parte deste governo é uma brutal ofensiva política, económica, social, cultural, ideológica, à qual é forçoso responder com grande determinação, coragem e confiança. Na verdade, para os trabalhadores e para o povo, para as massas populares, a intensificação e o alargamento da luta apresenta-se como questão maior e como exigência imperativa.
A luta é o caminho: só através dela é possível impedir que a política de direita alcance os seus objectivos; só através dela é possível derrotar essa política oposta aos interesses dos trabalhadores, do povo e do País e impor a alternativa patriótica e de esquerda.
E esse caminho faz-se caminhando: dando sequência às lutas travadas nos últimos meses – de que a histórica greve geral de 24 de Novembro constitui o exemplo mais relevante; mobilizando e atraindo à luta novos segmentos das massas trabalhadoras e populares – especialmente jovens trabalhadores; avançando audaciosamente para a realização de muitas pequenas, médias, grandes e muito grandes acções de massas.
É na perspectiva de dar o seu indispensável contributo para a intensificação da luta que o colectivo partidário comunista desenvolve esforços para reforçar o Partido, designadamente prosseguindo a acção Avante! Por um PCP mais forte; e procurando o reforço da organização partidária e da ligação do Partido às massas, com o aprofundamento da dinâmica da acção um milhão de contactos.