PCP contesta opções no caso do BPN e das golden shares e acusa

Crimes contra o País

O PCP acusou o Go­verno PSD/​CDS de se­guir as pi­sadas do an­te­cessor e as­sumir op­ções que se tra­duzem em actos de «má gestão e de­la­pi­dação de di­nheiros pú­blicos», fe­rindo gra­ve­mente os in­te­resses do País e dos por­tu­gueses.

Há ali­e­nação rui­nosa do pa­tri­mónio

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Numa de­cla­ração po­lí­tica pro­fe­rida faz hoje oito dias em nome da sua ban­cada, o de­pu­tado co­mu­nista Ho­nório con­si­derou mesmo que neste ca­pí­tulo o Exe­cu­tivo de Passos Co­elho em nada di­fere do an­te­cessor, dando como exemplo o caso BPN, cujo pro­cesso de pri­va­ti­zação de­corre em passo de ga­zela.

Re­cor­dada foi a es­tra­tégia de­sas­trosa se­guida pelo go­verno de Só­crates com o apoio do PSD e do CDS, ba­seada, se­gundo Ho­nório Novo, num pri­meiro mo­mento, na trans­fe­rência para o Es­tado das «con­sequên­cias das fraudes e crimes de ges­tores, ban­queiros e ou­tros amigos que ao longo de anos se apro­vei­taram do BPN», e, num se­gundo mo­mento – e é nesse que nos en­con­tramos – voltar a en­tregar o banco (mas já «limpo») a um qual­quer grupo pri­vado.

«A ideia dos par­tidos da troika era e é, muito sim­ples: na­ci­o­na­lizar os pre­juízos, pri­va­tizar os lu­cros», sin­te­tizou Ho­nório Novo, antes de re­pu­diar com ve­e­mência a ope­ração mon­tada pelo Go­verno de «vender o BPN de qual­quer forma e ma­neira, sem qual­quer preço base, se ne­ces­sário re­ta­lhado às fa­tias».

O que é tanto mais cri­mi­noso se se atender a que os pre­juízos que o País já pagou as­cendem a 1800 mi­lhões de euros, a que im­porta juntar uns pro­vá­veis 600 mi­lhões de au­mento de ca­pital de que ul­ti­ma­mente se tem fa­lado. Mas a fac­tura final pode bem ser muito mais pe­sada, ad­vertiu Ho­nório Novo, apon­tando para um valor de 5000 mi­lhões de euros, tendo em conta as ga­ran­tias que o Es­tado con­tinua a dar à Caixa Geral de De­pó­sitos para em­prestar ao BPN e às «em­presas cri­adas para re­ceber o seu lixo».

Ora nada disto in­co­moda ou «pre­o­cupa os par­tidos da troika», ob­servou o de­pu­tado do PCP, lem­brando a pro­pó­sito como «longe vão os tempos em que Paulo Portas, As­sunção Cristas ou Hugo Ve­losa exi­giam saber os pre­juízos que o País vai pagar com a falsa na­ci­o­na­li­zação do BPN».

Rei­te­rada pelo PCP foi en­tre­tanto a po­sição de que há al­ter­na­tiva ao pro­cesso em curso de pri­va­ti­zação, a qual passa – «de­pois de re­cu­pe­rado, com marca e gestão pró­prias» – pelo seu re­lan­ça­mento, en­quanto novo banco pú­blico, «vo­ca­ci­o­nado para áreas es­pe­cí­ficas», ex­plo­rando o seu po­ten­cial para «poder pagar ao Es­tado – a todos nós – os pre­juízos que os par­tidos da troika trans­fe­riram e querem con­ti­nuar a trans­ferir para o bolso dos por­tu­gueses».

Outro exemplo de ali­e­nação rui­nosa de pa­tri­mónio pú­blico dei­xado na de­cla­ração po­lí­tica do PCP é o da re­cente de­cisão go­ver­na­mental de pres­cindir dos di­reitos es­pe­ciais (golden shares) que o Es­tado de­tinha na GALP, EDP e PT. Uma dá­diva de muitos mi­lhões de euros aos ac­ci­o­nistas pri­vados, ab­so­lu­ta­mente ina­cei­tável, que cons­titui ver­da­dei­ra­mente um «crime eco­nó­mico contra os in­te­resses do nosso País», como aliás fora já su­bli­nhado na au­dição do PCP sobre as con­sequên­cias das pri­va­ti­za­ções que o Avante! no­ti­ciou na sua úl­tima edição.

 

Trans­portes pú­blicos mais caros
Au­mentos bru­tais

A de­cla­ração po­lí­tica do PCP foi pro­fe­rida pouco tempo de­pois de o Go­verno ter anun­ciado a in­tenção de au­mentar em cerca de 15 por cento em média o preço dos trans­portes pú­blicos.

Um agra­va­mento «co­lossal», disse Ho­nório Novo, vendo na de­cisão mais uma das me­didas pre­vistas no me­mo­rando da troika que «os se­nhores do Go­verno e os se­nhores do PS es­con­deram do povo e do País du­rante a cam­panha elei­toral».

O de­pu­tado co­mu­nista não es­condeu ainda a sua in­dig­nação pe­rante a «vi­o­lência» sub­ja­cente a tais «au­mentos bru­tais», fri­sando que cen­tenas de mi­lhares de por­tu­gueses co­meçam agora a con­frontar-se com as «con­sequên­cias reais das mal­fei­to­rias que PS, PSD e CDS ne­go­ci­aram e acer­taram com a troika para sub­meter o País e os seus tra­ba­lha­dores».

Ho­nório Novo deixou no en­tanto um aviso ao Go­verno e aos par­tidos da troika: «de­sen­ganem-se (…) porque um dia destes, como dizia o poeta, pode ser que o “Povo queira um mundo novo a sério”».



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