Conclusões da cimeira da zona euro

Sementes de novas crises

As de­ci­sões to­madas dia 21, na reu­nião ex­tra­or­di­nária de chefes de Es­tado e de Go­verno da Zona Euro, foram qua­li­fi­cadas pelo PCP como «um novo e mais grave passo no sen­tido da li­mi­tação da so­be­rania dos es­tados».

As de­ci­sões sobre a dí­vida provam o fa­lhanço das po­lí­ticas

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Em con­fe­rência de im­prensa, na sexta-feira, 22, o de­pu­tado do PCP ao Par­la­mento Eu­ropeu, João Fer­reira, as­si­nalou que o re­sul­tado da ci­meira da vés­pera cons­titui «uma con­fissão de que as pro­postas do PCP (rei­te­rada e ir­res­pon­sa­vel­mente re­jei­tadas por PSD, CDS e PS) para a re­ne­go­ci­ação da dí­vida são um ca­minho ine­vi­tável, como é tes­te­mu­nhado por esta “re­ne­go­ci­ação” en­ca­po­tada e que põe a nu, ao con­trário do que sis­te­ma­ti­ca­mente foram ne­gando, que a re­ne­go­ci­ação da dí­vida é não só pos­sível como ine­vi­tável.»

No en­tanto, para o PCP a na­tu­reza e al­cance das de­ci­sões não res­pondem aos pro­blemas dos tra­ba­lha­dores e dos povos da Eu­ropa, mas in­sistem «no ca­minho do re­tro­cesso so­cial e de de­clínio eco­nó­mico».  

Como ex­plicou João Fer­reira «a re­dução das taxas de juro, a par do alar­ga­mento dos prazos para Por­tugal, man­tendo o con­junto das op­ções po­lí­ticas con­tidas no pro­grama de agressão e sub­missão as­su­mido por PS, PSD e CDS com a UE e o FMI, sig­ni­fica, para lá do re­co­nhe­ci­mento da im­pos­si­bi­li­dade de aplicar os termos an­te­ri­or­mente acor­dados desse pro­grama – como o PCP desde o início alertou –, uma forma de glo­bal­mente pro­mover a con­ti­nu­ação do saque dos re­cursos na­ci­o­nais, à custa do agra­va­mento da ex­plo­ração e do com­pro­me­ti­mento do fu­turo do País.»

E acres­centou que, nas con­di­ções ne­go­ci­adas, «Por­tugal vai pagar uma taxa de juro anual de 3,5 por cento por um pe­ríodo de 15 anos. O que sig­ni­fica que, em vez dos 30,4 mil mi­lhões de euros que teria de pagar de juros por este em­prés­timo, terá agora de pagar 40,95 mil mi­lhões de euros de juros no novo prazo fi­xado. Uma de­cisão que, po­dendo re­duzir o mon­tante anual dos juros a pagar nos pró­ximos anos, agrava de facto em 10 mil mi­lhões de euros o valor global dos juros, que serão pagos à custa da san­gria dos re­cursos na­ci­o­nais, do au­mento da ex­plo­ração e de um ser­viço da dí­vida que – num quadro de re­cessão eco­nó­mica pro­lon­gada em que o País se en­contra – para além de ina­cei­tável se re­ve­lará im­pa­gável».  

O povo é quem paga

 

Su­bli­nhando que está em marcha um pa­cote de me­didas an­ti­po­pu­lares como «fa­ci­li­tação e em­ba­ra­te­ci­mento dos des­pe­di­mentos; ataque aos sa­lá­rios e pen­sões; o roubo no 13.º mês; agra­va­mento dos preços da energia, dos me­di­ca­mentos e dos trans­portes; pri­va­ti­zação de em­presas e sec­tores pú­blicos es­tra­té­gicos; trans­fe­rência di­recta de mi­lhões de euros do Es­tado para a banca» – o de­pu­tado co­mu­nista de­nuncia que os «in­te­resses dos cre­dores» estão a ser ga­ran­tidos «à custa das con­di­ções de vida do povo e da pró­pria ac­ti­vi­dade eco­nó­mica».

Este é também o sen­tido da de­cisão de o Fundo Eu­ropeu de Es­ta­bi­li­zação Fi­nan­ceira poder com­prar dí­vida dos es­tados, no cha­mado mer­cado se­cun­dário, o que, na prá­tica, re­pre­senta a «trans­fe­rência de dí­vida pú­blica de­tida pela banca para o sector pú­blico, isto é, para as costas dos povos da Eu­ropa».

 

Con­tra­di­ções apro­fundam-se

 

Ao mesmo tempo, João Fer­reira re­cordou que a ac­tual si­tu­ação «é in­se­pa­rável da na­tu­reza do ca­pi­ta­lismo, do pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista na União Eu­ro­peia» e é «a prova inequí­voca de que o pro­cesso de con­cen­tração e cen­tra­li­zação de poder eco­nó­mico e po­lí­tico de­sen­ca­deado em nome do com­bate à crise, as po­lí­ticas con­tidas na “go­ver­nação eco­nó­mica” e no “Pacto para o Euro mais” e os cha­mados pa­cotes de res­gate fi­nan­ceiro não só não re­sol­veram qual­quer dos pro­blemas eco­nó­micos e fi­nan­ceiros no es­paço da Zona Euro, como os apro­fun­daram ver­ti­gi­no­sa­mente».

As­si­na­lando a in­ca­pa­ci­dade de «res­ponder à crise e de su­perar as con­tra­di­ções em apro­fun­da­mento», o de­pu­tado afirmou que a re­acção da União Eu­ro­peia gera «se­mentes de novas e mais pro­fundas crises».


Para a saída da crise

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O PCP con­si­dera que «a res­posta aos gra­vís­simos pro­blemas exige o fim da li­be­ra­li­zação dos mo­vi­mentos de ca­pi­tais, dos pa­raísos fis­cais e o efec­tivo com­bate à es­pe­cu­lação; a baixa da taxa de re­fe­rência do BCE; o fim dos mer­cados se­cun­dá­rios e dos seus tí­tulos es­pe­cu­la­tivos; a al­te­ração dos ob­jec­tivos e fun­ci­o­na­mento do BCE; a subs­ti­tuição do Pacto de Es­ta­bi­li­dade por um pro­grama de em­prego e de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico; a abor­dagem co­ra­josa e res­pon­sável sobre o fu­turo do Euro e da UEM; uma pro­funda re­visão da po­lí­tica eco­nó­mica da União Eu­ro­peia vi­sando a re­so­lução de pro­blemas co­muns a vá­rios es­tados apos­tando no de­sen­vol­vi­mento dos seus sis­temas pro­du­tivos, numa rá­pida e só­lida es­tra­tégia para a cri­ação de em­prego e au­mento do poder de compra dos tra­ba­lha­dores e dos povos».

Ape­lando à in­ten­si­fi­cação da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês, o PCP re­a­firma que «a real so­lução para a ac­tual crise re­side num ques­ti­o­na­mento do ac­tual rumo e Tra­tados da União Eu­ro­peia e numa total in­versão das po­lí­ticas eco­nó­micas e so­ciais».

O PCP en­tende que «o ca­minho de uma efec­tiva re­ne­go­ci­ação da dí­vida pú­blica, da re­cusa das me­didas con­tidas no pro­grama de agressão e in­ter­venção ex­terna, da de­fesa dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês e da va­lo­ri­zação da pro­dução na­ci­onal, é aquele que, no quadro de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, cons­titui a única al­ter­na­tiva para evitar o de­sastre e afirmar uma via so­be­rana de de­sen­vol­vi­mento e pro­gresso so­cial».


Novos prazos, taxas e mon­tantes

Pe­rante a imi­nente rup­tura do euro e o agra­va­mento da si­tu­ação eco­nó­mica da ge­ne­ra­li­dade dos países da União Eu­ro­peia, os lí­deres da Zona Euro apro­varam, dia 21, os termos de um novo pro­grama fi­nan­ceiro, de que se des­tacam as se­guintes me­didas.

Con­di­ções ame­ni­zadas: alar­ga­mento dos prazos de 7,5 anos para um mí­nimo de 15 anos, po­dendo chegar aos 30 anos, com um pe­ríodo de ca­rência de dez anos (ac­tu­al­mente de três) antes do pri­meiro re­em­bolso, para a Grécia, Ir­landa e Por­tugal. Em si­mul­tâneo, a taxa de juro é re­du­zida de 4,5 por cento (no caso da Grécia e da Ir­landa) e de 5,5 por cento, no caso de Por­tugal, para 3,5 por cento.

Mais fundos para a Grécia: de­pois do em­prés­timo de 110 mil mi­lhões de euros con­ce­dido em Maio de 2010 pelo FMI e pela UE, a Grécia re­ce­berá um novo mon­tante de cerca de 160 mil mi­lhões de euros, dos quais 109 mil mi­lhões até ao fim de 2014.

Par­ti­ci­pação pri­vada: apenas no que se re­fere à Grécia, os cre­dores pri­vados (banca, se­guros, fundos de pen­sões, etc.) de­verão par­ti­cipar com cerca de 50 mil mi­lhões de euros entre 2011 e 2014, dos quais 37 mil mi­lhões a tí­tulo de «con­tri­buição vo­lun­tária» e 12,6 mil mi­lhões me­di­ante a compra de dí­vida grega no mer­cado. Em dez anos (2011-2020), esta par­ti­ci­pação de­verá elevar-se a um total de 135 mil mi­lhões de euros. As mo­da­li­dades desta con­tri­buição pri­vada pre­vêem a troca dos ac­tuais tí­tulos por novos a 30 e a 15 anos (com a perda de cerca de 20 por cento do seu valor), os quais, em con­tra­par­tida, passam a ser ga­ran­tidos pelo Fundo Eu­ropeu de Es­ta­bi­li­zação Fi­nan­ceira (FEEF).

FEEF compra dí­vida: O Fundo Eu­ropeu de Es­ta­bi­li­zação Fi­nan­ceira, criado em 2010, po­derá com­prar dí­vida pú­blica no mer­cado se­cun­dário, o que ser­virá para ali­viar os bancos de­ten­tores de dí­vida des­va­lo­ri­zada. O FEEF po­derá ainda con­ceder li­nhas de cré­dito aos es­tados para a re­ca­pi­ta­li­zação da banca.



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