Os silêncios de «oiro» do Patriarcado…

Jorge Messias

«O Cris­ti­a­nismo é ne­gado, e ne­gado mesmo por aqueles que têm o as­pecto de o de­fen­derem. Mas não se pode dizer em voz alta que é ne­gado. Este di­reito é re­cu­sado por ra­zões po­lí­ticas, faz-se se­gredo. Per­mite-se, mesmo, que seja cris­ti­a­nismo a ne­gação do cris­ti­a­nismo. Faz-se do Cris­ti­a­nismo um sim­ples nome» (Ludwig Fu­er­bach, fi­ló­sofo alemão do sé­culo XIX).

À mi­lenar re­serva da sua ex­pe­ri­ência his­tó­rica vai o Povo buscar o sen­tido das suas «sen­tenças» co­lec­tivas. Sín­teses bri­lhantes, por vezes, de um saber des­pre­zado pelas elites. Por exemplo, numa dessas má­ximas de­clara-se bre­ve­mente: «Grande nau, grande tor­menta». Quatro pa­la­vras apenas que to­davia as­sentam como uma luva na so­ci­e­dade de loucos que o ca­pi­ta­lismo está a tentar impor ao país.

Po­lí­ticas ge­ridas por in­te­resses es­tran­geiros, dí­vidas pú­blicas pagas com o di­nheiro de novas dí­vidas, de­sen­vol­vi­mento ga­ran­tido pelo de­sem­prego, abun­dância com base na su­bida dos preços, venda a re­talho dos bens na­ci­o­nais e si­gilo em torno dos fa­vores mais se­cretos. Assim re­nas­ceria o país! Sem tirar nem pôr...

Há no mer­cado, con­du­zidas agora por Passos Co­elho, uma mão-cheia de cri­mi­nosos pro­jectos deste tipo. O país não tem di­nheiro, nem me­rece o res­peito das ou­tras na­ções. É por de­mais evi­dente que já não pode pagar o que deve. O go­verno es­maga o povo im­pondo-lhe perdas de di­reitos en­quanto que o «es­preme» com novos e cons­tantes im­postos. As­sume com­pro­missos com as «troikas» (ve­nham elas de onde vi­erem) em­bora não possa ga­rantir ser capaz de re­formar em prazos re­cord as es­tru­turas e os ser­viços do Es­tado.

Aguardam-nos, a curto prazo, não apenas os dias da mi­séria ou da con­fusão de po­deres. O Ca­pi­ta­lismo, em Por­tugal e não só, re­vela estar es­go­tado como sis­tema po­lí­tico, eco­nó­mico e so­cial. Os tempos que se apro­ximam pro­metem mer­gu­lhar no mais com­pleto caos..

 

Uma nova versão me­lho­rada
da «sopa dos po­bres»

 

Os bispos bem sabem que assim é. Go­verno e Igreja (esta, pela boca dos arautos da sua «so­ci­e­dade civil») re­co­nhecem estar a tra­ba­lhar ace­le­ra­da­mente num plano in­cli­nado des­ti­nado a manter vivos os so­bre­vi­ventes por­tu­gueses po­bres re­pes­cados à crise geral do ca­pi­ta­lismo. Têm já pronto um pro­grama de acção e uma es­tru­tura or­ga­ni­za­tiva – a RE­NASO. Ainda que co­mecem a surgir aqui e além al­gumas notas dis­cor­dantes. Tudo in­dica porém que a curto prazo as res­postas a dar ao eixo Go­verno/​Pa­tri­ar­cado ve­nham a en­du­recer.

A pri­meira ob­jecção diz res­peito à di­vul­gação ofi­cial do do­cu­mento. Passos Co­elho, pri­meiro-mi­nistro, devia ser lo­gi­ca­mente o grande di­vul­gador do texto. Não só não o fez como afirmou, no mí­nimo três vezes, que o do­cu­mento seria pu­bli­cado até aos fins de Julho, o que não acon­teceu. Por seu turno, o seu in­ter­lo­cutor di­recto – a CNIS – or­ga­nismo da igreja mas que não faz parte di­recta da sua hi­e­rar­quia - anun­ciou pom­po­sa­mente que a pro­posta de emer­gência, tal qual reza o seu texto, foi ela­bo­rada pelas ins­ti­tui­ções ca­tó­licas, em pre­sença dos con­teúdos dos pro­gramas po­lí­ticos do Go­verno e do PS/​PSD! Trata-se, por­tanto, de uma en­co­menda feita por um go­verno que afirma re­pre­sentar uma Re­pú­blica laica e en­trega de­ci­sões de fundo e de in­te­resse na­ci­onal aos ca­pri­chos de uma es­tru­tura re­li­giosa.

Esta RE­NASO cujos con­teúdos são ofi­ci­al­mente ainda des­co­nhe­cidos, deve desde já des­pertar a atenta cu­ri­o­si­dade de todos os co­mu­nistas. Pouco se sabe, mas o lin­guajar dos cons­tru­tores de imagem vai-nos fa­lando de uma ini­ci­a­tiva que en­volve ONG, IPSS, Au­tar­quias e Mi­se­ri­cór­dias. E o es­pec­tá­culo do cos­tume co­meça a ser ins­ta­lado : mesmo que tendo uma vaga ideia acerca dos pro­blemas so­ciais, a nível do país, muitas câ­maras mu­ni­ci­pais de­ci­diram pre­parar a ins­ta­lação ime­diata de pro­gramas de emer­gência; chovem mis­sivas de adesão de ins­ti­tui­ções que giram no âm­bito das IPSS; os ban­queiros saíram a ter­reiro, em acla­ma­ções; e até Passos Co­elho ( ele co­nhece os tempos da de­ma­gogia), apro­veitou este in­ter­valo para anun­ciar ser pos­sível em breve optar-se, «por uma quota fixa que fi­nancie esses pro­gramas» a in­cidir sobre a ri­queza. «Nin­guém será dei­xado para trás!», pro­meteu sur­pre­en­den­te­mente o pri­meiro-mi­nistro de um go­verno es­pe­ci­a­li­zado em cor­ridas de ve­lo­ci­dade entre po­bres e ricos, sempre ga­nhas pelos gordos.

Aos ca­tó­licos de boa fé cabe ver, julgar e de­cidir. Com sen­tido de ver­dade e sem he­si­ta­ções. Re­cu­sando hi­po­cri­sias. O tempo urge … A mi­séria não deve servir como moeda de troca!

 



Mais artigos de: Argumentos

Tempo de impossíveis

Que o alegado fim da História estava longe de acontecer já nós tínhamos percebido, e aliás o próprio autor da invenção já entretanto veio dizer que não senhores, que era engano, que afinal a História estava a continuar. O que não era...

«Morreu» o antigo «carola» – Viva o novo dirigente associativo

O desporto popular, pela sua própria natureza associativa, só pode ser possível através da intervenção do dirigente desportivo voluntário (DDV). Mas, num momento em que, de todos os lados, se afirma a existência de uma grave crise do dirigismo associativo, como...

Yes, we can... <br>Nothing! (I)

«Independentemente do que dizem certas agências de notação financeira, o nosso país merece e sempre merecerá a nota AAA! (a máxima)». Esta basófia foi proferida por alguém inesperado: o presidente dos EUA, Barak Obama. E disse-a a seguir a uma das...