Comentário

A luta e o futuro

Ilda Figueiredo

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Os su­ces­sivos tí­tulos na co­mu­ni­cação so­cial chamam a atenção para as cres­centes e di­versas re­voltas que se vive em di­fe­rentes lados. Os mo­tins de Lon­dres e ou­tras ci­dades bri­tâ­nicas. Os in­dig­nados que saíram à rua em Is­rael para pro­testar contra o au­mento do custo de vida, in­cluindo o preço da ha­bi­tação, exigir jus­tiça so­cial e mais Es­tado so­cial. São con­tes­ta­ções que se se­guem a ou­tras lutas em Ma­drid, na Grécia, em Por­tugal, no Chile, em di­versos países árabes, desde o Norte de África até ao Médio Ori­ente.

Apesar das es­pe­ci­fi­ci­dades de cada país, há traços co­muns entre estes fe­nó­menos, que muitos ana­listas co­meçam a as­si­nalar, mesmo que os go­ver­nantes queiram con­ti­nuar a in­sistir na te­oria da de­linquência ju­venil, como acon­teceu em Paris em 2005, e agora no Reino Unido, e teimem em uti­lizar a re­pressão como prin­cipal res­posta.

No en­tanto, em geral, pro­curam es­ca­mo­tear que es­tamos pe­rante di­fe­rentes formas de aflo­ra­mentos das con­sequên­cias da mais grave crise do ca­pi­ta­lismo, da glo­ba­li­zação ca­pi­ta­lista, na sua fase im­pe­ri­a­lista, que está a criar um enorme exér­cito de re­serva da ex­plo­ração como são os de­sem­pre­gados, a agravar as de­si­gual­dades so­ciais na Eu­ropa para ní­veis ini­ma­gi­ná­veis há 30 anos, a per­sistir na pro­moção do in­di­vi­du­a­lismo e do con­su­mismo, en­quanto a cor­rupção alastra e a ex­plo­ração se agrava.

Em nome do ne­o­li­be­ra­lismo e da de­fesa da tese de menos Es­tado, os di­versos go­vernos, com des­taque para os de países da União Eu­ro­peia – ins­tru­mento cen­tral do ca­pi­ta­lismo eu­ropeu – in­sistem em cortes bru­tais nas áreas so­ciais, na pri­va­ti­zação de ser­viços pú­blicos, na en­trega aos grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros do pa­tri­mónio pú­blico e da ri­queza criada em cada país.

Fazem-no das mais di­versas formas, sempre com o pre­texto da crise que aju­daram a criar, so­bre­car­re­gando cada vez mais os tra­ba­lha­dores e ou­tras ca­madas so­ciais com pe­sados im­postos, au­mentos bru­tais de preços e de taxas sobre bens es­sen­ciais e de largo con­sumo, que são formas de au­tên­tica pi­lhagem das ca­madas po­pu­lares. O que es­tamos a viver em Por­tugal é disso um exemplo.

Quando os nossos go­ver­nantes falam de menos Es­tado estão a re­ferir-se a menos Es­tado so­cial, a menos Es­tado para de­fender os tra­ba­lha­dores, li­be­ra­lizar e em­ba­ra­tecer des­pe­di­mentos, re­duzir pen­sões, re­formas e apoios so­ciais para fo­mentar a ca­ri­da­de­zinha pro­mo­vida a po­lí­tica de Es­tado pe­rante o cres­ci­mento da po­breza, fra­gi­lizar a Se­gu­rança So­cial pú­blica com a re­dução da taxa so­cial paga pelo pa­tro­nato, de­gradar a Es­cola Pú­blica e re­duzir a Saúde Pú­blica à sua ín­fima ex­pressão. Tudo isto para que possa haver mais Es­tado para pro­teger grupos eco­nó­micos a quem querem en­tregar de mão bei­jada o que ainda resta dos bens do sector em­pre­sa­rial do Es­tado, para apoiar os bancos, pro­teger o sis­tema fi­nan­ceiro, pos­si­bi­litar o cres­ci­mento dos lu­cros das grandes em­presas.

Quando falam de menos Es­tado, querem es­conder que estão a co­locar o Es­tado in­tei­ra­mente ao ser­viço de grupos eco­nó­micos e do sector fi­nan­ceiro in­ter­na­ci­onal os quais, cada vez mais, con­trolam os sec­tores bá­sicos da eco­nomia por­tu­guesa. Assim, querem, de facto, mais Es­tado para au­mentar a ex­plo­ração, o que exige mais meios re­pres­sivos, maior de­sem­prego e mais po­breza para fa­ci­litar a chan­tagem pe­rante os tra­ba­lha­dores. Querem mais Es­tado para fa­ci­litar a con­cen­tração e cen­tra­li­zação do ca­pital, num país onde 25 pes­soas que já detêm 10 por cento do PIB na­ci­onal, em ano de crise, como foi 2010, viram as suas for­tunas au­men­tarem, em média, quase 20 por cento. Para pros­se­guirem neste ca­minho, pre­cisam de en­fra­quecer a de­mo­cracia e di­fi­cultar a par­ti­ci­pação po­pular das mais di­versas formas.

Ora, é neste caldo de cul­tura que surgem as mais di­versas formas de con­tes­tação. É neste con­texto que me­recem a maior atenção estes fe­nó­menos so­ciais. As chamas de Lon­dres re­velam até onde podem chegar as con­tra­di­ções de uma so­ci­e­dade em que o go­verno se es­quece dos jo­vens e dos de­sem­pre­gados, pros­se­guindo a des­truição do Es­tado So­cial. E onde também as forças de es­querda en­fra­que­ceram a sua ac­tu­ação e in­ter­venção, seja por erros pró­prios, seja pela pressão ex­terna que di­fi­cultou a sua ac­ti­vi­dade e in­ter­venção. Por isso, cada vez fica mais clara a im­por­tância da luta or­ga­ni­zada dos tra­ba­lha­dores e das mais di­versas ca­madas das po­pu­la­ções du­ra­mente atin­gidas pelas po­lí­ticas ca­pi­ta­listas e ne­o­co­lo­niais, o que pres­supõe o re­forço e for­ta­le­ci­mento do PCP em Por­tugal e de ou­tros par­tidos co­mu­nistas, pro­gres­sistas e re­vo­lu­ci­o­ná­rios no plano in­ter­na­ci­onal.



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