In(digente)formação

Manuel Gouveia

A 8 de Agosto, foram os por­tu­gueses «in­for­mados» de que ti­nham os trans­portes mais ba­ratos da Eu­ropa. No mesmo dia, no i, no Jornal de Ne­gó­cios, no DN, no JN, no Pú­blico, no Cor­reio da Manhã e até na Bola, com re­pli­cação ime­diata nas rá­dios e nas te­le­vi­sões, apa­rece sempre o mesmo texto, nuns casos as­si­nado por um jor­na­lista, nou­tros as­si­nado pela Lusa, ou­tras vezes sem as­si­na­tura.

O texto, pro­duto ou en­co­menda das fa­mosas «Agên­cias de Co­mu­ni­cação», é um in­di­gente es­tudo com­pa­ra­tivo sobre o custo dos trans­portes nas ci­dades de Lisboa, Ma­drid, Berlim, Paris e Lon­dres.

In­di­gente, desde logo, quando com­para o que não pode ser com­pa­rado. Por exemplo, com­para um passe em Lisboa que não dá acesso ao com­boio e apenas a uma parte dos 40 Km da rede de Metro ao de Berlim que dá acesso a 330 Km de li­nhas fer­ro­viá­rias além dos 146 Km de li­nhas de Metro. Ou quando quer com­parar o passe para uma ci­dade com 83Km2 com ci­dades com dez vezes mais área. Por exemplo, a coroa 3 do Passe So­cial de Lisboa al­berga uma área e uma po­pulação ainda in­fe­rior à das ci­dades es­co­lhidas para a «de­monstração», mas com o seu custo de 63,25€ (face aos 33,85 do passe es­co­lhido para as «científicas» com­parações) tor­naria Lisboa a ci­dade com os trans­portes públicos mais caros da Eu­ropa face aos salários pra­ti­cados, e uma das mais caras mesmo em va­lores ab­so­lutos – e não era essa a en­co­menda...

In­di­gente ainda porque ca­recem de qual­quer ci­en­ti­fi­ci­dade este tipo de com­pa­ra­ções, que não têm em conta a his­tória e a re­a­li­dade con­creta de cada pro­cesso. Razão porque não co­lo­camos como tí­tulo deste texto «Por­tu­gueses pagam os trans­portes mais caros da Eu­ropa», o que seria ab­so­lu­ta­mente ver­da­deiro se­guindo o «mé­todo» do «es­tudo» ci­tado.

Mas mesmo in­di­gente, o «es­tudo» foi pu­bli­cado porque servia os in­te­resses dos pu­bli­ca­dores. E nos dias se­guintes, nos múl­ti­plos lo­cais onde a opi­nião pu­bli­cada é mas­ti­gada até se trans­formar em opi­nião pú­blica, as con­versas de­cor­re­riam sobre esta falsa pre­missa – os por­tu­gueses ainda pagam os trans­portes pú­blicos mais ba­ratos da Eu­ropa – apon­tando à ine­vi­tável con­clusão – o País não aguenta estes privilégios!



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