O LUGAR QUE NOS COMPETE

«Uma força im­pa­rável que, mais cedo ou mais tarde, ven­cerá»

Se em «tempo normal» a ex­plo­ração ca­pi­ta­lista é o que é, em tempo de «crise» ela é ainda mais acen­tuada e in­tensa; e atinge um ca­rácter pre­dador se o tempo é de… troika – ou de troikas.

E é isso que está a acon­tecer com a apli­cação do Pacto de agressão de­cre­tado pela troika ocu­pante e aceite de jo­e­lhos pela troika co­la­bo­ra­ci­o­nista – um Pacto que, como o PCP tem aler­tado, não apenas apro­fun­dará a des­truição da nossa eco­nomia, de­sig­na­da­mente dos sec­tores pro­du­tivos, como acen­tuará a nossa de­pen­dência ex­terna e fe­rirá de morte a in­de­pen­dência a so­be­rania na­ci­o­nais; um Pacto que abre ca­minho ao velho sonho do grande ca­pital e dos seus ser­ven­tuá­rios da po­lí­tica de di­reita de des­truírem to­tal­mente as con­quistas de Abril e de apa­garem do re­gime de­mo­crá­tico tudo o que nele resta de Abril; um Pacto que está es­trei­ta­mente li­gado a dé­cadas de po­lí­tica de di­reita, ao pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista na União Eu­ro­peia e à na­tu­reza do ca­pi­ta­lismo e da sua crise; um Pacto cuja ex­trema gra­vi­dade para Por­tugal e para os por­tu­gueses nunca é de­mais de­nun­ciar, como não é de­mais in­sistir e in­sistir na ne­ces­si­dade im­pe­riosa e ur­gente de o com­bater, de lançar um amplo mo­vi­mento po­pular que o re­jeite e li­berte o País da sua pre­sença opres­sora e ex­plo­ra­dora.

A ex­plo­ração de­sen­freada dos tra­ba­lha­dores, nos di­versos ca­mi­nhos por ela tri­lhados, cons­titui o traço que me­lhor de­fine o con­teúdo de classe da po­lí­tica de di­reita: quem com ela be­ne­ficia far­ta­mente – os grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros; e quem dela sofre as mais bru­tais con­sequên­cias – os que tra­ba­lham e vivem do seu tra­balho.

Cresce o de­sem­prego; cresce o nú­mero de tra­ba­lha­dores com sa­lá­rios em atraso; cresce o nú­mero dos que são for­çados a sub­meter-se a con­di­ções de tra­balho e de sa­lário des­pro­vidas dos mais ele­men­tares di­reitos hu­manos; acentua-se a ofen­siva contra os di­reitos la­bo­rais; acentua-se o ataque aos ren­di­mentos dos tra­ba­lha­dores e dos re­for­mados – através de um con­junto de si­nis­tras me­didas di­rectas ou in­di­rectas de des­va­lo­ri­zação geral dos sa­lá­rios e pen­sões; de re­du­ções drás­ticas nos apoios so­ciais; de cortes nas fun­ções so­ciais do Es­tado com par­ti­cular in­ci­dência nos sis­temas pú­blicos da Saúde e da Edu­cação; de au­mento brutal da carga fiscal sobre os tra­ba­lha­dores; de agra­va­mento brutal dos preços dos bens e ser­viços es­sen­ciais, como a Saúde, a Ha­bi­tação, os Trans­portes…

 

E se é certo que não passa um dia sem que novas e mais graves me­didas sejam apli­cadas ou anun­ci­adas para breve, não é menos certo que o que aí vem é ainda pior, em con­sequência das anun­ci­adas pri­va­ti­za­ções e da en­trega aos ca­pi­ta­listas, a preço de saldo, de tudo quanto é em­presa pú­blica ren­tável; da ofen­siva contra a Se­gu­rança So­cial; do ataque a tudo o que são di­reitos al­can­çados pelos tra­ba­lha­dores e pelo povo.

Tudo isto a evi­den­ciar o ca­rácter ter­ro­rista do Pacto de agressão e a mos­trar, si­mul­ta­ne­a­mente, que o Go­verno PSD/​CDS se afirma como cum­pridor exem­plar da ta­refa que lhe está in­cum­bida de con­selho de ad­mi­nis­tração dos in­te­resses do grande ca­pital – e, por­tanto, de con­ti­nu­ador, agora numa fase con­si­de­ra­vel­mente mais agra­vada, de todos os go­vernos que o an­te­ce­deram nos úl­timos trinta e cinco anos e que, com a sua po­lí­tica de di­reita e an­ti­de­mo­crá­tica (porque con­trária aos in­te­resses da imensa mai­oria dos por­tu­gueses) e an­ti­pa­trió­tica (porque con­trária aos in­te­resses de Por­tugal) são os grandes res­pon­sá­veis pela dra­má­tica si­tu­ação em que vivem os tra­ba­lha­dores, o povo e o País. Uma po­lí­tica à qual é mais do que ne­ces­sário dizer «basta!» e subs­ti­tuir por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

 

Para os que acom­pa­nharam as po­si­ções to­madas pelo PCP, os alertas feitos, as pre­vi­sões avan­çadas, as pro­postas que os co­mu­nistas apre­sen­taram e foram re­jei­tadas, para esses, os tempos di­fí­ceis que vi­vemos não cons­ti­tuem sur­presa.

E sabem também que, como afirmou o Se­cre­tário-geral do PCP no co­mício de Se­túbal, «não sai­remos destes tempos di­fí­ceis com as pro­postas, as so­lu­ções e me­didas da­queles que até hoje não têm feito outra coisa do que deitar mais achas na fo­gueira da grave crise eco­nó­mica e so­cial que o País en­frenta», ou seja, só com uma po­lí­tica de sen­tido oposto é pos­sível sair desta si­tu­ação.

E essa po­lí­tica ne­ces­sária – que, in­sista-se, terá que ser pa­trió­tica e de es­querda – só será con­quis­tada através da luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções.

Daí que a in­ten­si­fi­cação e o alar­ga­mento da luta de massas se apre­sente com a questão maior para a classe ope­rária e para todos os tra­ba­lha­dores – e cons­titua, como não podia deixar de ser, a pre­o­cu­pação maior para o co­lec­tivo par­ti­dário co­mu­nista.

Porque «es­tamos e es­ta­remos lá onde o nosso povo sofre e se sente atin­gido na sua dig­ni­dade e nos seus di­reitos», es­tamos e es­ta­remos no lugar que nos com­pete.

Pelo que, na si­tu­ação con­creta ac­tual, não es­go­tamos a nossa acção em apelos es­critos à par­ti­ci­pação dos tra­ba­lha­dores na grande jor­nada de luta con­vo­cada pela CGTP-IN para dia 1 de Ou­tubro – longe disso. Na ver­dade, os mi­li­tantes co­mu­nistas, nas em­presas e lo­cais de tra­balho, nas lo­ca­li­dades, em todo o lado, estão a dar, e darão, o seu pre­cioso con­tri­buto con­creto para a mo­bi­li­zação dos tra­ba­lha­dores e de todos os ho­mens, mu­lheres e jo­vens que são ví­timas das con­sequên­cias da po­lí­tica de di­reita: es­cla­re­cendo, con­ven­cendo, cons­ci­en­ci­a­li­zando, com­ba­tendo e der­ro­tando a ide­o­logia das re­sig­na­ções, dos con­for­mismos e dos medos, de­mons­trando que juntos e or­ga­ni­zados, os tra­ba­lha­dores e o povo são uma força im­pa­rável – uma força que, mais cedo ou mais tarde, ven­cerá.