A colossal farsa

José Casanova

As contas ocultas da Ma­deira, o co­lossal bu­raco fi­nan­ceiro, enfim, as tra­di­ci­o­nais jar­di­nei­rices ve­lhas de dé­cadas e sempre vistas com in­co­men­su­rável com­pre­ensão por todos os pre­si­dentes da Re­pú­blica e por todos os go­vernos – têm sido no­tícia des­ta­cada em todos os media.

En­tre­tanto, também da Ma­deira e também fruto das tra­di­ci­o­nais jar­di­nei­rices, chegou uma outra no­tícia: a re­ve­lação de uma fraude elei­toral le­vada a cabo no Fun­chal, nas elei­ções pre­si­den­ciais que, em 1980, opu­seram Ra­malho Eanes e So­ares Car­neiro.

«Eu es­tava lá e vi como foi», diz An­tónio Fonte, na al­tura mi­li­tante da JSD e agora de­pu­tado re­gi­onal pelo PND. E conta que a fraude se con­cre­tizou «pondo cru­zi­nhas em bo­le­tins de voto e des­car­re­gando nos ca­dernos elei­to­rais» em elei­tores abs­ten­ci­o­nistas, em nú­mero de «300 a 400 votos por mesa» – o que fez com que o can­di­dato Ra­malho Eanes, ven­cedor, de facto, em todas as mesas, tenha sido «der­ro­tado» em todas as mesas...

Sin­to­ma­ti­ca­mente, esta no­tícia, di­vul­gada pelo DN, não teve a mí­nima re­per­cussão nos res­tantes media do­mi­nantes. E se a fraude agora de­nun­ciada não cons­titui sur­presa, também o si­len­ci­a­mento a que foi vo­tada não sur­pre­ende.

Ora, em vés­pera de elei­ções na Ma­deira – e quando vêm à baila com tanta in­sis­tência as sur­pre­en­dentes vo­ta­ções do PSD/​Jardim em su­ces­sivas elei­ções – o caso bem me­recia ser mo­tivo de re­flexão. No acto elei­toral acima re­fe­rido foi assim e nos ou­tros actos elei­to­rais, antes e de­pois desse, como foi?, e no dia 9 como será?...

E, já agora: e aqui, no con­ti­nente, como foi e como é?...

É sa­bido que a po­lí­tica de di­reita re­corre a todos os meios para ga­rantir a con­ti­nui­dade ne­ces­sária ao pros­se­gui­mento da sua obra de de­vas­tação da de­mo­cracia de Abril – e que as elei­ções e os seus re­sul­tados cons­ti­tuem o su­porte es­sen­cial dessa ga­rantia.

Sabe-se, também, como os go­vernos dos úl­timos 35 anos têm uti­li­zado o apa­relho do Es­tado em des­bra­gada caça ao voto na po­lí­tica comum a todos eles.

Sabe-se, ainda, o papel de­sem­pe­nhado pelos media do­mi­nantes en­quanto pro­pa­gan­distas da po­lí­tica de di­reita e dos par­tidos que a exe­cutam e de­fendem.

Sabe-se, agora, que é pos­sível caçar «300 a 400 votos por mesa»...

Que mais é pre­ciso saber para con­cluir que elei­ções destas não passam de uma co­lossal farsa?



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