Quase 200 mil nas ruas mostram força para continuar a luta

Cada vez mais geral!

Nas grandes ma­ni­fes­ta­ções que a CGTP-IN pro­moveu no sá­bado, em Lisboa e no Porto, e também no Fun­chal, foi vi­bran­te­mente acla­mada a de­cisão de re­a­lizar, de 20 a 27 de Ou­tubro, uma série de greves, pa­ra­li­sa­ções e ac­ções de rua, porque a luta «tem de ser cada vez mais geral», como se afirma na Re­so­lução saída desta jor­nada. A In­ter­sin­dical aponta quatro fortes mo­tivos para aquela se­mana de luta: contra a des­truição dos di­reitos la­bo­rais e so­ciais; contra o em­po­bre­ci­mento e as in­jus­tiças; contra o pro­grama de agressão aos tra­ba­lha­dores, ao povo e ao País; pelo em­prego, pelos sa­lá­rios, pen­sões e di­reitos so­ciais.

Há que re­forçar a uni­dade na acção de todos os tra­ba­lha­dores

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No dia em que pas­saram 41 anos sobre o dia da fun­dação da CGTP-IN, quase 200 mil pes­soas res­pon­deram ao apelo da cen­tral e aos múl­ti­plos exem­plos de luta e re­sis­tência, dados nas úl­timas se­manas por tra­ba­lha­doras e tra­ba­lha­dores de di­fe­rentes sec­tores e em­presas. Em Lisboa, du­rante mais de três horas, des­fi­laram mais de 130 mil mu­lheres, ho­mens e jo­vens, desde a Praça do Duque de Sal­danha até aos Res­tau­ra­dores. No Porto, as ruas da baixa en­cheram-se com o justo pro­testo de 50 a 60 mil pes­soas. No Fun­chal, ul­tra­pas­sando o mi­lhar, a par­ti­ci­pação na acção da es­tru­tura re­gi­onal da Inter con­se­guiu uma mo­bi­li­zação su­pe­rior à do úl­timo 1.º de Maio.

Numa cor­rente única, neste 1 de Ou­tubro mos­traram-se e fi­zeram-se ouvir os fun­da­men­tados pro­testos e exi­gên­cias de jo­vens com tra­balho ou de­sem­pre­gados, com vín­culos efec­tivos ou pre­cá­rios; de re­for­mados e pen­si­o­nistas; de mu­lheres e ho­mens que la­boram nos di­fe­rentes sec­tores da in­dús­tria, dos trans­portes, dos ser­viços, da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, cen­tral e local; de pro­fes­sores, en­fer­meiros e bom­beiros; de jor­na­listas, ar­tistas e pe­quenos em­pre­sá­rios; de pes­ca­dores e agri­cul­tores; de utentes, de po­pu­la­ções e de eleitos nas au­tar­quias, que exigem a con­cre­ti­zação do di­reito cons­ti­tu­ci­onal à Saúde, con­testam por­ta­gens e au­mentos de ta­rifas; de muitos que não se iden­ti­fi­cavam com ne­nhum sector ou em­presa mas que par­ti­lhavam com evi­dente con­vicção as pa­la­vras de ordem que con­tes­tavam a po­lí­tica de di­reita e exi­giam uma po­lí­tica di­fe­rente.

Na pri­meira grande acção de massas re­a­li­zada desde que o PSD e o CDS, com Passos Co­elho e Paulo Portas, to­maram o lugar do PS e de José Só­crates na exe­cução do pro­grama comum –de acordo com o com­pro­misso que todos as­su­miram pe­rante o FMI, o BCE e a UE –, estes quase 200 mi­lhares de por­tu­guesas e por­tu­gueses vi­eram também dizer que não se vergam aos di­tames do en­ten­di­mento entre a troika de­fen­sora dos in­te­resses dos agi­otas, que pre­tendem con­ti­nuar a sugar a ri­queza na­ci­onal, e a troika dos par­tidos que estão com­pro­me­tidos com a po­lí­tica de di­reita e acei­taram sub­meter-se ao pacto de agressão.

Os au­mentos de im­postos e preços, as pres­sões para re­duzir os já baixos sa­lá­rios, o roubo no sub­sídio de Natal e a re­visão para pior das leis la­bo­rais, os cortes que fra­gi­lizam os ser­viços pú­blicos e abrem portas aos grandes ne­gó­cios pri­vados foram apon­tados como partes da po­lí­tica da «aus­te­ri­dade», que ao mesmo tempo trans­fere mi­lhões de euros para uns poucos que acu­mulam cada vez mais ri­queza.

«Com força aqui es­tamos, pela luta é que lá vamos!» – uma das pa­la­vras de ordem ou­vidas no dia 1 de Ou­tubro – sin­te­tiza bem a men­sagem fun­da­mental desta jor­nada de luta (tra­tada igual­mente nas pá­ginas 15 a 18 desta edição).

 

Vale a pena!

 

Os re­sul­tados al­can­çados re­novam o ânimo para as ba­ta­lhas de hoje e do fu­turo, como se des­tacou na in­ter­venção da In­ter­jovem, em Lisboa. «Sai­remos daqui com a força e a von­tade re­do­brada, para con­ver­sarmos já amanhã com os nossos co­legas e amigos, para que todos os que não vi­eram aqui es­tejam pre­sentes já na jor­nada de luta de amanhã, para que ga­nhem força para re­sistir à re­ti­rada de di­reitos e para que en­grossem a fi­leira da luta e da re­sis­tência», disse Isa Girão, de­pois de ter lem­brado como foi pos­sível con­quistar o vín­culo efec­tivo para con­tratos pre­cá­rios ile­gais, na CP Carga, na Mabor, na Bosch de Braga, no Jumbo de Al­mada, no call-center da EDP em Odi­velas.

Um forte apelo à mo­bi­li­zação e ao cres­cente em­penho dos jo­vens foi feito também no co­mício sin­dical de Lisboa, por Ma­nuel Car­valho da Silva. O Se­cre­tário-geral da CGTP-IN re­a­firmou como ina­cei­tável «o atro­fi­a­mento em que querem co­locar a ju­ven­tude», pois «não se pode cortar di­reitos às ge­ra­ções jo­vens, não se lhes pode am­putar o fu­turo».

A de­fesa da re­sig­nação, na mais re­cente en­tre­vista do Pre­si­dente da Re­pú­blica, me­receu viva condenação do di­ri­gente da cen­tral, que cri­ticou Ca­vaco pela sua «fé falsa» nos re­sul­tados dos sa­cri­fí­cios im­postos à grande mai­oria dos por­tu­gueses. Se aqui o PR «não provou coisa ne­nhuma» e apenas in­vocou essa «fé», já quanto à de­fesa da po­lí­tica de pri­va­ti­za­ções ar­rolou o falso ar­gu­mento de que elas vão per­mitir «in­jectar di­nheiro na eco­nomia por­tu­guesa»; ora, con­trapôs Car­valho da Silva, as pri­va­ti­za­ções «são um ne­gócio para o grande ca­pital es­tran­geiro e algum na­ci­onal» e não são feitas para in­jectar di­nheiro em Por­tugal, como já se com­provou com o que até agora foi pri­va­ti­zado.

A com­pa­ração com a Grécia, fre­quen­te­mente tra­zida à liça para jus­ti­ficar a po­lí­tica apli­cada em Por­tugal, es­teve entre os falsos ar­gu­mentos cri­ti­cados, no Porto, por João Torres. Da tri­buna, na Ave­nida dos Ali­ados, em nome da Co­missão Exe­cu­tiva da CGTP-IN, des­mentiu quem diz que a Grécia pode en­trar na ban­car­rota porque os gregos não fi­zeram o tra­balho de casa, pas­sando-se lá «pre­ci­sa­mente o con­trário», com mai­ores di­fi­cul­dades «porque os seus go­ver­nantes têm apli­cado a re­ceita que os de cá também querem aplicar, a re­ceita do FMI, da UE e do BCE, a re­ceita do grande ca­pital».

Porque lutar tem va­lido a pena e porque a luta é a me­lhor ga­rantia que está nas mãos dos que so­frem com esta po­lí­tica, na Re­so­lução das ma­ni­fes­ta­ções foi in­cluída uma sau­dação aos tra­ba­lha­dores do sector pri­vado, da Ad­mi­nis­tração Pú­blica e do sector em­pre­sa­rial do Es­tado, «pela forma co­ra­josa, firme e de­ter­mi­nada como têm de­sen­vol­vido a luta». E, porque a luta vale a pena, a CGTP-IN vai em­pe­nhar-se em «re­forçar a uni­dade na acção de todos os tra­ba­lha­dores, in­de­pen­den­te­mente das suas op­ções po­lí­ticas ou sin­di­cais», ape­lando «à par­ti­ci­pação ac­tiva dos jo­vens tra­ba­lha­dores, dos de­sem­pre­gados, dos pen­si­o­nistas e re­for­mados, dos imi­grantes, nesta luta que é de todos e para todos, pela re­so­lução dos pro­blemas do pre­sente e a cons­trução de um Por­tugal com fu­turo».

Assim se está já a cons­truir a se­mana de luta, de­ci­dida para os dias 20 a 27 de Ou­tubro, pró­xima ba­talha deste com­bate que «tem de ser cada vez mais geral».



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